Durante muito tempo, pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) foram profissionais ignorados pelas empresas. Mesmo com o direito da inclusão de autistas no mercado de trabalho sendo garantida por lei ( Lei de número 12.764/12, conhecida como Lei Berenice Piana e a Lei de número 13.146/15 chamada Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência). O que vemos é bem diferente, segundo pesquisas de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 85% das pessoas autistas estão desempregadas. Em nível mundial, esse número é de 80%, conforme relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2020.
A satisfação e a produtividade do profissional com TEA (Transtorno do Espectro do Autismo) dependem da adaptação de condições ambientais no trabalho. Esse, inclusive, tem sido um dos desafios que os profissionais de RH enfrentam, afinal, é preciso ter uma visão mais aprofundada sobre o tema.
A inclusão vai muito além de criar vagas afirmativas, mas também como a empresa recebe esses profissionais e colabora para que eles tenham um ambiente de trabalho acolhedor. Por isso, neste artigo vamos conferir como deve ser feita a inclusão de profissionais autistas nas empresas.
Melhores práticas na contratação de profissionais autistas
Se a sua empresa tem interesse em oferecer oportunidades para profissionais no espectro autistas, o primeiro passo é buscar informação. Justamente por causa de informações equivocadas e até mesmo o preconceito, a contratação de pessoas com TEA é negligenciada. Sendo assim, os cuidados devem ser praticados desde a entrevista com esses profissionais, veja exemplos de boas práticas:
- Ofereça um ambiente de entrevista tranquilo e silencioso: Muitos autistas têm sensibilidade ao ruído, por isso, é importante que a entrevista ocorra em um ambiente tranquilo, sem barulhos ou distrações.
- Clareza e objetividade nas perguntas: Autistas geralmente têm dificuldade em compreender perguntas abertas ou ambíguas. Por isso, faça perguntas claras e objetivas, evitando duplo sentido.
- Utilize uma linguagem simples: Autistas podem ter dificuldade em entender expressões figurativas, metáforas e gírias.
- Permita que o candidato se sinta confortável: Alguns autistas têm dificuldade em manter contato visual durante a conversa. Não force essa questão. Deixe o candidato à vontade para agir de forma natural. Cuidado com os julgamentos.
- Dê tempo para respostas: Pessoas com TEA podem levar mais tempo para processar informações e formular respostas. Portanto, seja paciente e dê tempo suficiente para que o candidato responda às perguntas.
- Avalie as habilidades técnicas: Autistas podem ter habilidades técnicas excepcionais em determinadas áreas, como matemática, programação e outras. Avalie essas habilidades para encontrar o candidato certo para a vaga.
Vale lembrar que a contratação de profissionais autistas deve ser baseada nas habilidades e competências dos candidatos, e não na condição de autismo em si. Dessa forma, é possível garantir uma contratação justa e inclusiva.
Leia também: Passo a passo para um processo seletivo eficiente
Adaptação é a chave para incluir profissionais autistas na empresa
O autismo é classificado em 3 níveis, então, durante a entrevista também é importante saber qual o nível do candidato. Esse tipo de informação pode ajudar no processo de adaptação do profissional na empresa.
- Nível 1: classificado como leve. É quando o indivíduo precisa de pouco suporte;
- Nível 2: classificado como moderado. Neste caso, o suporte necessário é considerado razoável;
- Nível 3: conhecido como autismo severo. Quando o indivíduo precisa de muito suporte.
Um ponto importante que ajuda nesse processo de adaptação é conversar com a família do profissional. Principalmente se for para a contratação de jovem aprendiz ou estágio, assim, os responsáveis pelo jovem profissional podem explicar melhor sobre questões de adaptações que podem ajudar.
É importante ressaltar que buscar informações sobre adaptação não é somente papel da área de recrutamento e seleção, mas de toda a empresa.
Além do processo de adaptação e acolhimento dos colegas de trabalho, a empresa também deve ter atenção especial em relação ao ambiente. Por exemplo, pessoas com TEA são sensíveis a iluminação e ruído, por isso, a empresa deve providenciar iluminação adequada, fones de ouvido com cancelamento de ruído, espaços privativos e rotinas claras podem ajudar autistas a trabalhar de forma mais produtiva e confortável.
Aptidões comuns entre profissionais com TEA
Profissionais que trabalham com recrutamento e seleção devem estar atentos às habilidades técnicas e comportamentais dos profissionais. Mas um preconceito que deve ser quebrado em relação aos autistas no mercado de trabalho é acreditar que eles não são capazes.
Isso é um equívoco que precisa ser evitado, pois pessoas com TEA geralmente possuem determinadas habilidades muito requisitadas pelas empresas, como por exemplo:
- Atenção aos detalhes: pessoas com TEA tendem a ter uma atenção aos detalhes muito aguçada, o que pode ser muito valioso em tarefas que exigem precisão, como análise de dados, programação e auditoria.
- Habilidade de memória visual: ideal para tarefas que envolvem visualização e comparação de informações, como design gráfico e modelagem.
- Resolução de problemas: as pessoas com TEA são muitas vezes lógicas e metódicas em sua abordagem à resolução de problemas.
- Foco na tarefa: pessoas com autismo têm como característica se concentrar em uma única tarefa por muito tempo. Isso pode ser positivo, principalmente para atividades que exigem concentração.
- Habilidades matemáticas: algumas pessoas podem ter muita facilidade com matemática, ideal para atividades que envolvem análise de números.
- Pensamento criativo: por ter uma forma única de ver o mundo, pode trazer ideias criativas e inovadoras e uma outra perspectiva de enxergar as coisas.
Tirar essas pessoas de casa e torná-las economicamente ativas é uma responsabilidade social compartilhada entre ONGs, governo e empresas.
ONG auxilia empresas na preparação de ambiente para a chegada de profissionais com neurodiversidade nas equipes
A Specialisterne é uma organização social, nascida na Dinamarca em 2004 e com presença em 23 países, que se dedica à inclusão profissional de pessoas com autismo e outros diagnósticos na neurodiversidade.
A ONG oferece às pessoas com autismo formação e oportunidades de trabalho. E, para as empresas, proporciona talentos e conhecimentos sobre como incluir a neurodiversidade em suas equipes. O objetivo é fazer com que as pessoas neurodivergentes melhorem e valorizem suas capacidades, em muitos casos especialmente adequadas para determinadas tarefas, e também que as empresas obtenham todos os benefícios de incluir estas pessoas e gerar um impacto social positivo.
Sensibilização e conscientização entre os colaboradores
A inclusão do autismo dentro da organização não é somente papel da empresa. A equipe de RH trabalha na parte de recrutamento e contratação, mas gestores e colegas também devem estar alinhados e informados sobre o que é o Autismo.
Além da adaptação do ambiente, o profissional com autismo precisa ser acolhido não como uma pessoa sem capacidade, mas com diferenciais que precisam ser respeitados assim como qualquer pessoa. Por isso, é importante respeitar essas diferenças, o que é chamado hoje como neurodiversidade.
Assim como as empresas focam na inclusão de pessoas com diversidade de gênero, raça, entre outros, também é necessário investir na neurodiversidade. Conhecido também como “neurodivergente”, o termo se refere a pessoas que possuem um desenvolvimento/funcionamento neurológico diferenciado. Ou seja, pessoas que não estão dentro do “padrão” esperado pela sociedade.
Entender que existem essas diferenças, e que elas podem agregar ainda mais na equipe colabora para o processo de conscientização.
Para ajudar no trabalho de sensibilização e conscientização dentro da empresa, investir em palestras, treinamentos e comunicação interna voltada para esse tema é importante.
Dia 2 de abril: Dia do Autismo
O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, ou simplesmente Dia Mundial do Autismo, é comemorado em 2 de abril. A data visa ajudar a conscientizar a população mundial autista.
O autismo é uma condição de saúde caracterizada por desafios em habilidades sociais, comportamentos repetitivos, fala e comunicação não-verbal.
Entretanto, indivíduos com TEA podem e devem conquistar seu lugar na sociedade e no mercado, porque eles também têm aptidões e talentos específicos em determinadas áreas do conhecimento.
A importância do autismo no mercado de trabalho
Contratar pessoas com autismo vai além do preenchimento de cotas estabelecidas pela Lei. As empresas devem estar preparadas para contratar e receber esse profissionais, garantindo a retenção desses talentos dentro da organização.
Quando as empresas abrem as portas para esse público, também ajudam em diversas áreas na vida dessa pessoa. Muitas empresas estão sendo exemplo de inclusão de neurodiversidade em suas equipes, isso porque, conseguiram enxergar o potencial desses profissionais.
Por exemplo, a área de TI tem investido na contratação de profissionais com TEA, justamente por identificar suas habilidades tão apreciadas nessa área. Além disso, a inclusão influência no ambiente corporativo fazendo com que os colaboradores se sintam motivados em trabalhar numa organização plural e diversa.
E são essas diferenças que contribuem para o crescimento da empresa e igualdade na sociedade.
Saiba mais: Especialista em diversidade e inclusão, qual a importância de ter essa área na empresa?
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