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etarismo no mercado de trabalho| Fonte: Shutterstock

O envelhecimento é um processo natural e inerente aos seres humanos. Apesar disso, muitos discriminam as pessoas de mais idade, como se elas fossem incapazes ou inferiores. Essa atitude, chamada etarismo, é comum no mercado de trabalho, gerando preconceito e prejudicando a diversidade na organização. No Brasil, existem mais de 28 milhões de pessoas com mais de 60 anos (IBGE – 2022), e muitos desses brasileiros enfrentam dificuldades para conseguir emprego. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), a população mundial envelhece rapidamente. A projeção é que o número de pessoas com mais de 60 anos atinja a marca de 1,4 bilhão em 2030. 

Para que o etarismo não cresça no mesmo ritmo, é importante que a sociedade  e o mundo corporativo invistam em ações de conscientização. Em especial, nas que fortalecem o combate contra esse tipo de preconceito.

No entanto, o mercado de trabalho tem passado por mudanças significativas, e algumas organizações têm percebido que abrir oportunidades para o público acima de 50 anos pode ser benéfico tanto para os negócios quanto para a sociedade como um todo. É nesse contexto, que o setor de Recursos Humanos (RH), desempenha um papel crucial para facilitar o retorno desses profissionais ao mercado de trabalho.

Foco na experiência do profissional

Uma pesquisa realizada no Brasil, pela consultoria Hype50 revela que 39% dos profissionais brasileiros acima de 55 anos se sentem excluídos ou descartados do mercado de trabalho. 

Entender que a idade não é um problema, é o primeiro passo para a organização enxergar as oportunidades. Sendo assim, a área de gestão de pessoas deve identificar e apresentar essas oportunidades que podem agregar valor para a empresa. No entanto, é imprescindível que essa visão não seja responsabilidade somente dos recrutadores, mas também da liderança. Ou seja, é um trabalho em conjunto e que deve fazer parte da cultura organizacional.

Um dos preconceitos estabelecidos pela sociedade é que as pessoas com 50+ já contribuíram o suficiente. Ou seja, acredita-se que não há mais nada que possam oferecer. Isso é um completo equívoco, pois muitos profissionais possuem capacidade para exercer seu trabalho e trazer insights interessantes para a empresa. 

Esse é o valor que a experiência oferece, não somente profissional, mas de vida. Além do aprendizado colhido através de suas experiências profissionais, o candidato 50+ também possui um perfil mais maduro. Isso contribui para:

  • melhor relação em equipe,
  • comprometimento com o trabalho, 
  • olhar mais atento para as oportunidades;
  • troca de experiências.

Combate ao etarismo começa desde o processo seletivo

Em muitos processos seletivos, o etarismo não é anunciado, mas ocultado. Nos anúncios das vagas, não há nada que indique a rejeição de profissionais acima dos 40 ou 50 anos. No entanto, os recrutadores dispensam os currículos enviados pelos candidatos de mais idade, sem nem ao menos entrevistá-los. Esse tipo de recrutamento e seleção não é, nem de longe, diverso e inclusivo. 

O recrutador deve fazer o planejamento para que o processo seletivo identifique  os melhores profissionais para a vaga, levando em consideração as suas habilidades, conhecimentos e experiências. Quando se trata da contratação de profissionais 50+ nada muda, mas é preciso deixar claro que essa é uma vaga para todos. Muitos profissionais maduros deixam de se candidatar, pois estão desencorajados a participar dos processos seletivos por causa do preconceito. 

Por isso, é muito importante que na descrição da vaga o recrutador reforce que a vaga é inclusiva. Claro que todos os requisitos devem ser listados de acordo com a necessidade, mas não deixe de destacar a questão da idade.

Vagas afirmativas 

Inclusão nada mais é do que uma empresa que dá oportunidade para todas as pessoas, desde a idade, gênero, etnia, religião, orientação sexual e condição física. É fundamental a criação de um programa interno de inclusão, que entre outros diversos pontos, defenderá a criação de vagas afirmativas.

A humanização do ambiente de trabalho é um dos objetivos de muitas organizações. Uma atmosfera interna humanizada eleva a satisfação e a produtividade dos colaboradores. As novas atitudes corporativas tendem a ser cada vez mais humanizadas, pois o comportamento da sociedade – tanto trabalhadores quanto consumidores – é bem diferente de 30, 40 anos atrás.

O preconceito com qualquer grupo específico não é bem visto no mercado competitivo, e precisa ser combatido com intensidade. Uma das melhores armas para esse combate é dar oportunidades iguais para profissionais de diversas idades. 

Essas iniciativas são vistas como uma forma de promover uma competição justa entre os candidatos. Ao restringir a participação a profissionais mais velhos, diminuem-se as chances de preconceitos durante as entrevistas. Isso permite que os candidatos sejam avaliados com base em suas habilidades e experiências, independentemente da idade, garantindo uma seleção mais justa e equitativa.

Boas práticas para um processo seletivo inclusivo

Para que o processo de seleção seja efetivo, a equipe de recrutamento deve estar treinada e preparada para evitar o preconceito. Sendo assim, existem boas práticas que devem ser seguidas nesta etapa, veja:

  1. Revisar as descrições de cargos: Verifique se as descrições de cargos não contêm requisitos desnecessários ou viés etário. Foque nas habilidades, competências e experiências necessárias para desempenhar a função com sucesso.
  2. Eliminar preconceitos na triagem inicial: Garanta que a triagem inicial dos currículos seja baseada nas qualificações e experiências relevantes para o cargo, sem considerar a idade do candidato.
  3. Entrevistas estruturadas: Utilize entrevistas estruturadas, com perguntas padronizadas e avaliações baseadas em critérios objetivos. Isso ajuda a garantir uma avaliação justa e imparcial dos candidatos, focando em suas habilidades e experiências relevantes para o cargo.
  4. Valorizar a experiência: Reconheça e valorize a experiência profissional dos candidatos mais velhos. Considere os anos de experiência como um ativo valioso e uma vantagem competitiva, uma vez que esses profissionais podem trazer uma perspectiva enriquecedora para a equipe.
  5. Desenvolver treinamentos sobre diversidade e inclusão: Capacite os gestores e equipes de recrutamento e seleção sobre a importância da diversidade etária e os benefícios de contar com profissionais mais velhos no quadro de funcionários. Isso pode ajudar a eliminar estereótipos e preconceitos relacionados à idade.
  6. Incentivar a formação de equipes diversas: Promova a formação de equipes multidisciplinares e diversas em relação à idade. Ao ter profissionais de diferentes faixas etárias trabalhando juntos, a empresa se beneficia com uma troca de conhecimentos e experiências mais ricas.

Oportunidades de aprendizado e crescimento

Outra forma complementar para combater o etarismo no mercado de trabalho é oferecer oportunidades de aprendizado e crescimento. Muitas empresas deixam de contratar profissionais 50+ por acreditarem que não possuem capacitação suficiente. Mas por que não investir na capacitação desses profissionais?

Essa é uma medida que algumas organizações estão investindo, como por exemplo na área de TI. A discriminação com profissionais mais velhos em relação à tecnologia é grande, mas quando há treinamento, nada os impede de exercer a sua função.

Ao identificar essa possibilidade, as empresas podem contar com vantagens interessantes para os negócios, além de fazer a diferença na vida desse profissional. As principais vantagens são:

  1. Adaptabilidade e flexibilidade: Profissionais mais velhos que recebem treinamento adequado podem se tornar altamente adaptáveis e flexíveis às mudanças no ambiente de trabalho. 
  2. Retenção de conhecimento: A empresa pode preservar e aproveitar o conhecimento específico do setor ou da organização que esses profissionais adquiriram ao longo dos anos. Isso ajuda a evitar a perda de conhecimento vital quando esses profissionais se aposentam ou deixam a empresa, garantindo a continuidade e o desenvolvimento do conhecimento interno.
  3. Aumento da produtividade: Profissionais 50+, quando treinados adequadamente, podem se tornar mais produtivos e eficientes em suas atividades. O treinamento os capacita a utilizar ferramentas e tecnologias modernas, além de desenvolver competências específicas para aprimorar sua produtividade no trabalho. Isso contribui para o aumento da eficiência e qualidade dos resultados entregues.
  4. Desenvolvimento de liderança interna: A empresa tem a oportunidade de identificar talentos com potencial de liderança. Assim, com o treinamento adequado, esses profissionais podem se tornar líderes internos, capazes de orientar e inspirar suas equipes.

Idade não é o problema, é oportunidade

O mercado de trabalho está passando por transformações significativas, e a luta contra o etarismo é parte integrante dessas mudanças. 

Combater o etarismo é uma responsabilidade compartilhada por todos os membros da equipe, mas o RH desempenha um papel essencial ao promover ações educacionais que possam influenciar positivamente os demais colaboradores. É por meio da conscientização, da formação de equipes diversas e da criação de um ambiente inclusivo que podemos construir uma cultura organizacional que valorize a contribuição de profissionais de todas as idades.

Portanto, cabe ao RH liderar o caminho, implementando políticas de contratação baseadas em habilidades e competências, garantindo oportunidades de capacitação e desenvolvimento para profissionais mais velhos e promovendo a troca de conhecimentos entre diferentes gerações. Dessa forma, estaremos construindo um mercado de trabalho mais inclusivo, justo e resiliente, onde o potencial de todos os profissionais seja reconhecido e aproveitado plenamente.

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