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Em comemoração ao mês das mães, novamente abordamos o tema maternidade x carreira. Dessa vez apresentamos uma entrevista com Cecília Troiano. Autora do livro que dá nome a esta entrevista, Cecília é um bom exemplo da mulher do século 21, profissional, mãe, esposa, autora, esportista, ou seja, assim como outras mulheres, ela também se divide em vários papéis e conta como faz para equilibrar todos eles.
Confira na entrevista abaixo a opinião de Cecília sobre a atualidade da mãe que trabalha fora, suas dores e delícias ao assumir essa missão e as vantagens que a maternidade traz para a profissional. “A mulher aprende a ser mais flexível, a saber negociar melhor as coisas.Também passa a trabalhar melhor em equipe”, conta.
Empregos.com.br – Como você vê a mulher atualmente no mercado de trabalho? Cecília Troiano – Acho que hoje a mulher já faz parte da “paisagem” no mercado de trabalho. Quero dizer que já se integraram totalmente a esse ambiente e hoje representam 40% da população economicamente ativa. Acho essa conquista das mulheres algo sem retorno. Conquistamos esse espaço e não queremos recuar. Isso não quer dizer que estejamos 100% satisfeitas com isso. Há inúmeras reivindicações das mulheres relacionadas ao trabalho: salários, licença maternidade, horários flexíveis, entre outras. Já conquistamos o mercado, agora é hora de dar a ele uma “cara” mais parecida com aquilo que almejamos. Temos que nos lembrar que o modelo de trabalho atual, no qual nos encaixamos, foi construído pelos homens. Agora precisamos dar nossa “cara” para esse espaço.
Empregos.com.br – A mulher ainda sente culpa de ir para o mercado de trabalho e ficar longe do filho? Ou isso já está sendo superado pelas novas gerações de mães-trabalhadoras?
Cecília – Acho que a culpa ainda nos persegue. Nem sei se algum dia nos livraremos dela totalmente. Temos culpa porque, de alguma forma, o papel de mãe acaba tendo que ser revisto, pelo menos naquilo que tem a ver com as horas dedicadas aos filhos. E, nessa subtração das horas, vem a culpa de estarmos longe. Mas, ao mesmo tempo, cada vez mais a mulher sente que está fazendo algo que tem um valor enorme, seja para ela, seja para a própria família. E isso ajuda a diminuir a cobrança e a culpa. Não nos livraremos dela, mas cada vez mais, inclusive com a participação maior do pai, nossa culpa vai deixando de ser um fantasma tão grande. Um pouco de culpa é até bom para dosarmos melhor nossas horas entre trabalho e casa, garantindo tempo e espaço para tudo.
Empregos.com.br – Qual você acredita ser o preço que nós pagamos por causa de nossas conquistas?
Cecília – Vejo que as conquistas nos cobram alguns preços que caminham lado a lado dos benefícios. O preço para mim está sempre concentrado na diminuição das horas que dedicamos às coisas que nos importam. Menos horas para a família é um deles. Menos tempo para o marido é outro e também menos tempo para nós mesmas. Acho que o grande desafio desse século é pensarmos em como conseguimos equilibrar todos os pratinhos e ainda preservar a qualidade dos relacionamentos familiares. Acho que o que conta é um olhar atento, quase diário. Não dá para deixar o tempo passar e depois tentar corrigir. O balanço do equilíbrio tem que ser constante.
Empregos.com.br – Como a mãe que trabalha fora pode compensar esse tempo que está longe do filho?
Cecília – Digo sempre que talvez nem precisemos compensar. Afinal, não estamos fazendo nada de errado! Mas, ao mesmo tempo, a regra que procuro seguir é estar inteira nas atividades em que estou naquele momento. Se estou com meus filhos, devo estar inteira com eles. Desligar o celular, não ficar baixando e-mails nem batendo papo com uma amiga. É dedicar-se 100% àquilo, naquele momento. Mesmo que seja para estar só um pouquinho com o filho naquele dia, estejamos inteiras. Isso eu acho que faz muita diferença. Em termos práticos, também acho que quando a mãe pode levar ou buscar os filhos na escola tem um valor inigualável, para as duas partes.
Empregos.com.br – A mulher atualmente está menos masculinizada em relação à condução de sua carreira?
Cecília – No começo, creio que as mulheres achavam que precisam agir como homens para se dar bem na carreira. Desde a forma de se vestir até na forma de se comportar em uma reunião, por exemplo. Isso mudou muito. Hoje, as mulheres sabem que o ser feminino tem uma série de vantagens no mundo corporativo. Há alguns estudos que inclusive falam como as mulheres tornam-se melhores profissionais após a maternidade. Ficam mais organizadas, mais concentradas, com uma visão mais 360 graus, enfim, desenvolvem várias habilidades. Ou seja, ser mulher passou a ser, em muitos casos, um valor e não um fardo.
Empregos.com.br – Como a maternidade e suas características podem ajudar a mulher no ambiente de trabalho? Quais qualidades de mãe podem e devem ser levadas para o mundo corporativo?
Cecília – Como disse, a organização é um ponto bem claro de mudança pré e pós-maternidade. Há outros, como flexibilidade, por exemplo. A mulher aprende a ser mais flexível, a negociar melhor as coisas.Também passa a trabalhar melhor em equipe. Ela sabe que para se dar bem precisa contar com uma rede de apoio, em casa ou no trabalho. Estruturar de uma forma inteligente essa equipe e passar a confiar nela são virtudes que crescem após a maternidade. Sensibilidade também é um elemento que cresce com a maternidade e que traz benefícios claros para o ambiente de trabalho. A mulher fica mais sensível, mais atenta aos detalhes, mais preparada para usar essa sensibilidade a favor dos negócios. Enfim, há ganhos bem visíveis após a maternidade.
Empregos.com.br – É possível realmente equilibrar carreira e maternidade? Qual é esse ponto de equilíbrio?
Cecília – Tenho certeza disso. O equilíbrio é muito variável de pessoa para pessoa. É difícil estabelecer uma regra. Para uma mulher pode ser trabalhar perto de casa e ter a possibilidade de ver os filhos na hora do almoço. Para outra pode ser trabalhar das 8h às 17h, em outro caso, pode ser ela trabalhar no período noturno. Acho que não tem regra. Cada uma precisa fazer o seu próprio teste do equilíbrio. Mas é importante fazê-lo e não deixar as coisas acontecerem sem uma análise da situação, para ver como anda o equilíbrio.
Empregos.com.br – As empresas estão preparadas para acolher essa profissional que não abre mão da maternidade?
Cecília – Algumas sim, outras não. Há empresas que têm políticas bem interessantes, como 12 meses de licença e garantia de retorno. Mas, o que tem dado mais certo, são as políticas para a família, não aquelas exclusivas para mulheres. Aquelas políticas que incluem homens e mulheres. Aí sim temos o comprometimento de ambos com a educação dos filhos e não uma estigmatização das mulheres por privilégios. Enfim, acho que todas as empresas, hoje, têm algum espaço para essa discussão tão importante, e ela precisa mesmo acontecer. As empresas sabem que não podem mais prescindir do talento feminino. Ao mesmo tempo sabem que precisam olhar para elas e, mais do que isso, criar condições para que elas fiquem bem.
Empregos.com.br – Como as empresas poderiam ajudar a mulher a alcançar esse equilíbrio? Visto que isso também retorna para elas em forma de produtividade, dedicação, resultados.
Cecília – Como disse, criando políticas para as mulheres e para os homens. Políticas como horários flexíveis, extensão da licença maternidade (para pais e mães), algum apoio para creche ou berçário, seja na própria empresa ou auxiliando no pagamento de um particular.
Empregos.com.br – No seu caso, como você consegue equilibrar o papel de mãe com o papel de profissional?
Cecília – Boa pergunta! Tenho meu próprio negócio, o que me ajuda a ter mais flexibilidade. Moro perto da escola dos meus filhos, o que ajuda bastante. E a vida deles foi organizada para ser próxima da casa onde moramos. Assim, o deslocamento deles é menor. Conto também com um super apoio do meu marido, que divide bastante a rotina das crianças comigo. Aliás, ter um marido que divide é fundamental para as mães que trabalham. E procuro usar um pouco a lei das compensações, se num dia exagero muito no trabalho, tento, no dia seguinte, dar mais atenção às crianças e vice-versa. Mas o que mais me ajuda é ter a certeza de que não consigo ser dez em tudo. Contento-me e fico feliz se tirar nota 8 em todos os papéis que desempenho. Isso já dá uma bela aliviada e diminui nossa cobrança por perfeição.
Empregos.com.br – O que você aprendeu ao longo desses anos que a ajudou a lidar melhor com esses múltiplos papéis?
Cecília – Aprendi a me cobrar menos. Essa cobrança exagerada só nos faz mal, e como faz. Outro aprendizado é separar algum tempo, durante a semana, para fazer algo por mim. Faz muito bem e ajuda para que estejamos mais fortes e dispostas para nossa maratona de equilibrista. É um pouco se permitir não fazer nada, se isso fizer bem naquele momento. Acho que essa conciliação de papéis é algo sem retorno. A questão é aprendermos a lidar melhor com isso, pedir ajuda se necessário e nos cobrar menos.

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