Carreiras | Empregos

Até os 26 anos de idade, Adriano Morozini dormia no mesmo quarto que seus pais. Com planejamento, criatividade e uma determinação inabalável, ele saiu de Santo André e construiu uma carreira sólida e respeitada. Hoje, aos 39 anos, ocupa o cargo de Engenheiro Responsável por Segurança Veicular do Porsche Cayenne, além de outros projetos em que está envolvido, mas se reserva o direito de não revelar por questões de sigilo que o mercado exige.
Com passagens pela Volkswagen, SEAT e atualmente na Porsche, Morozini conta nesta entrevista especial ao Empregos.com.br como fez para driblar as dificuldades e a origem simples. “Meus pais eram muito simples, mas muito preocupados com minha educação, também me deram muito amor e isso jamais poderei esquecer”, conta. Confira a seguir a trajetória desse brasileiro que serve como fonte de inspiração e exemplo para aqueles que querem fazer a diferença em suas vidas.
Empregos.com.br – Por favor, fale como foi seu início.
Adriano Morozini – Nasci em Santo André e morei toda a vida em um bairro chamado Vila Metalúrgica. Como o nome já diz, um bairro rodeado de fábricas e que servia de dormitório para a multidão de empregados das varias montadoras do ABC, como meu pai. Vivíamos em uma casa pequena e até os 26 anos dividi quarto com meus pais, enquanto meu irmão dormia na sala. Meus pais eram muito simples, mas muito preocupados com minha educação, também me deram muito amor e isso jamais poderei esquecer. Meu destino estava marcado para ser um metalúrgico como meu pai e meu irmão, mas eu sabia que poderia ser mais do que isso.
Empregos – Quando e como você resolveu driblar esse destino?
Morozini – Depois de estudar muito consegui entrar na Escola Técnica Federal de São Paulo, uma das mais concorridas, para fazer um curso técnico em mecânica. No final pintou um estagio na Volkswagen, para orgulho de meu pai (pintor de manutenção) que já estava prestes a se aposentar. Eu ainda adorava musica e estudava inglês lendo os encartes dos LPs do meu irmão e de amigos. Sempre fui o melhor da classe em inglês, o pior em matemática.
Empregos – Você chegou a estudar inglês em escolas formais ou foi um autoditada?
Morozini – As duas coisas. Nunca gostei muito de estudar inglês formalmente. Curtia mesmo música e vídeos. Ter amigos no exterior também ajudou. Comparo minha inclinação para os idiomas com meu pai e o violão. Ele nunca havia estudado música, mas tirava umas quantas musicas de ouvido. Foi assim com o alemão e com o espanhol.
Empregos – Além da escola técnica e do estágio, você também fazia tiro de guerra nessa época. Como conseguiu conciliar todas essas atividades?
Morozini – Pois é, foi a época mais louca da minha vida. Acordava por volta das 4h30, colocava a farda e ia para o tiro, depois para VW, depois para a Federal. Pegava o último trem na Estação da Luz às 23h30 e chagava em Utinga lá pelas tantas para jantar e dormir. Nessa época, vivia dormindo pelos cantos, mas não reclamava.
Empregos – Ter um destino igual ao do seu pai lhe assustava?
Morozini – Um amigo psicólogo me disse o mesmo, mas não estou de acordo. Vejo no meu pai não o pintor que mal sabe escrever o nome, mas o batalhador incansável que saiu do Rio Grande do Norte para escrever sua própria história.
Empregos – Como foram os passos seguintes nessa caminhada?
Morozini – Entrei na VW ao mesmo tempo em que em Mogi, para tirar meu diploma de Engenharia. A cada ano, nas férias de verão, vendia tudo que tinha para fazer alguma viagem ao exterior. Vendi meu primeiro carro (um Aero Willis) para ir para os Estados Unidos, vendi minha Saveiro para ir para a Europa e assim por diante. Foram sete anos nesse ritmo, viajando 80 quilômetros a cada dia para Mogi, férias nos Estados Unidos ou na Europa, estágios, contatos, até que na SEAT o chefe do departamento ficou impressionado com minha maneira de trabalhar.
Empregos – E como conseguia esses estágios?
Morozini – Era cara de pau mesmo. Como falava bem inglês e algo de alemão, fiz vários contatos com alemães da VW.
Empregos – Como você foi parar na SEAT?
Morozini – Em 1990 para fazer um estagio de verão e em 91 eles me chamaram. Tive que passar em 12 matérias pendentes na faculdade.
Empregos – Como foi sua adaptação?
Morozini – Difícil, o idioma era uma barreira. Como todo brasileiro, achava que falava espanhol, “quebrei” a cara várias vezes.
Empregos – Como foi sua passagem pela SEAT? Quanto tempo ficou por lá?
Morozini – No total foram seis anos. Foi genial! Trabalhei fazendo crash tests (o teste mais complexo no mundo do automóvel). Bati muitos carros e aprendi muito.
Empregos – Essa já era a área que você queria atuar?
Morozini – Sim. Na verdade, foi uma continuação do que fazia na VW. Fui também uma espécie de pioneiro no desenvolvimento de sistemas de airbag . Na SEAT foi possível colocar minha criatividade para trabalhar, criei um sistema inovador para o airbag de acompanhante do SEAT IBIZA, soluções inovadoras para melhorar a estrutura dos modelos SEAT. Fazia testes com o que tinha nas mãos, improvisava coisas na oficina, desenhava em meu caderno de idéias, que tenho guardado até hoje.
Empregos – Essa sua criatividade deve ter encantado os espanhóis…
Morozini – Principalmente os alemães da VW que viam nossas soluções. Depois de três anos e muitas idéias implementadas fui promovido a supervisor. Era um grupo de nove engenheiros responsáveis pelos crash tests e pelo desenvolvimento de sistemas de airbag . Foi barra, trabalhei como um burro. Às vezes minha esposa me ligava para perguntar se havia lembrado de almoçar e claro que havia esquecido. Um dia, vinha a toda velocidade pela estrada depois do trabalho, quando um carro branco não saía da frente. Dei farol alto e pisei ainda mais, passei a uns 200 km/h e notei pelo espelho que era o carro da minha mulher. Não preciso nem comentar o que ocorreu quando cheguei em casa. Ela me ajudou a colocar prioridades na vida e a maneirar meu ritmo, estava ficando perigoso. O nível de mando intermediário é sempre o que paga mais caro, o supervisor trabalha como um engenheiro e como manager ao mesmo tempo. Foi quando me dei conta que precisava mudar…
Empregos – A loucura e correria do trabalho estavam saindo da fábrica junto com você, foi isso?
Morozini – Sem dúvida, levava trabalho (documentos) para ler na praia no fim de semana. Pode uma coisa dessas?!
Empregos – Como conseguiu mudar isso?
Morozini – Em um dado momento tive que decidir se escutava meu chefe ou minha esposa e decidi por ela.
Empregos – E pelo jeito isso não atrapalhou em nada no trabalho…
Morozini – Enquanto estive na SEAT estive muito engajado. Mas achei que era hora de procurar uma nova onda para surfar. Aquela já estava acabando
Empregos – Como foi sua transição para a Porsche?
Morozini – Estava fazendo o desenvolvimento de impacto lateral para o futuro SEAT Toledo, como tínhamos um problema buscamos a ajuda da Porsche. Fiz alguns contatos naquele projeto e me contaram que estavam procurando alguém com experiência para o projeto Colorado (Cayenne e Touareg). Comentei com minha esposa, que na época tinha um ótimo trabalho na Callaway Golf, mandei meu currículo e eles me chamaram. Fomos na Semana Santa de carro até a Alemanha para reconhecer o terreno. Saímos sob o sol espanhol e chegamos sob a chuva alemã. Foi um choque. Depois de várias entrevistas acabei assinando com a Porsche, para assumir a responsabilidade sobre a parte de segurança dos dois produtos. Fiquei com os impactos laterais, traseira, capotamento e o grande desafio de desenvolver o airbag de cortina no Cayenne.
Empregos – Sua mulher tinha um bom emprego na Espanha, como foi a negociação entre vocês dois para garantir a mudança e sua ida para a Porsche?
Morozini – Ela trabalhava no distribuidor Europeu de uma das mais famosas marcas de tacos de golfe. Era responsável por after market e gostava muito do que fazia.
Interpretávamos a mudança para a Porsche como algo estratégico. Algo que poderia trazer bons frutos no futuro. Conversamos muito, fizemos planos, avaliamos os riscos e fizemos cálculos. O processo de decisão foi, na verdade, um trabalho em grupo. Ela foi realmente valente. Demonstrou que estar juntos significa realmente “estar juntos”. Motivou-me muito e apostou em mim. Não lembro de a negociação ter sido difícil pelo fato de termos diferentes pontos de vista. Tínhamos dúvidas, como qualquer um pode ter, mas nossa vontade de reescrever nossa história foi ainda maior.
Empregos – O que foi diferente em seu início na Porsche para o começo na SEAT?
Morozini – Espanha e Alemanha representam duas culturas completamente diferentes (latinos e germânicos). Uma mais espontânea, meio bagunçada e cheia de calor humano. Outra lógica, bem organizada e onde o respeito pela individualidade impera. Não quero falar que um país seja melhor que o outro, mas são, sem dúvida, diferentes. Cheguei à Espanha no inverno, vinha atado aos meus sonhos e preocupado se todos estariam bem no Brasil. Por mais que tivesse viajado (já havia estado sete vezes fora do Brasil), morar sozinho veio a ser um novo desafio. Na SEAT, meu gerente fez o papel de mentor e me ajudou no processo de integração. Também contei com uma família de amigos brasileiros (ele também trabalhava na SEAT) que me deu todo apoio.
Na Alemanha, por outro lado, cheguei maduro e “tarimbado”. Estava disposto a dar o máximo de mim e mostrar resultados, tinha os pés no chão. Sabia que havia colhido uma série de bons resultados e estava seguro do meu potencial. Costumo dizer que trabalhar na Porsche é como jogar no Real Madrid ou no Barcelona. Você está rodeado de grandes jogadores que sabem exatamente o que fazer com a bola.
Na Espanha o ambiente de trabalho era algo caótico. As reuniões duravam uma eternidade e muitas vezes não se chegava a lugar algum. Mas, por outro lado, nunca tive tanta liberdade para usar e implementar minha criatividade. Embora um tanto anárquico, acabamos desenvolvendo grandes produtos num ambiente de trabalho cheio de estresse, mas, ao mesmo tempo, divertido.
Empregos – Você chegou a fazer um planejamento a longo prazo para a sua vida e carreira? Qual a importância desse planejamento em seu sucesso?
Morozini – Na verdade, tudo começou com um sonho que virou plano. Considero-me um sonhador, mas um sonhador com os pés no chão! Sabia que queria sair do Brasil, mas não para lavar pratos. Sabia que queria fazer carreira fora do país, mas não a qualquer preço! Sim, fiz (e faço) muitos planos para o futuro, mas sou muito disciplinado para conquistá-los. Nessa minha trajetória até a Porsche, contei com o apoio de pessoas-chave. Gente que serviu como catalisador para alimentar a chama dentro de mim. Eles me motivaram, me colocaram à prova, me mostraram outras perceptivas. Sou muito grato a essas pessoas e amigos.
Mas, isso não é tudo. Tenho pilares sustentando meus sonhos, que não estão somente no plano profissional, é claro. Eles são: uma sólida filosofia de vida, uma atitude conseqüente diante de meu próximo e da natureza e busca contínua por resultados em todos os âmbitos da minha vida (espiritual, físico, mental, etc.). Mas tudo isso não seria possível sem disciplina. Creio que a dor da disciplina é menor que a dor de não chegar aonde se quer e por isso acabo exigindo de mim mais que qualquer outra pessoa poderia fazê-lo.
Faço planos e estratégias, sim. Chego a desenhar mentalmente os mapas para chegar onde desejo e a visualizar o bom das conquistas. Mas não estou sozinho nessa jornada. Formo, com meu filho e com minha esposa, uma família feliz, uma equipe. Meus planos são, portanto, individuais e ao mesmo tempo coletivos.
Empregos – Parece que a busca pelo saber é uma característica sua. Por que decidiu fazer o MBA e o que ele acrescentou à sua experiência?
Morozini – Você acertou em cheio, meu hobby é aprender! Absorvo o que há de bom como uma esponja da mesma forma que repudio qualquer forma de lixo intelectual. Meu carro, por exemplo, é uma verdadeira sala de aula ambulante. Escuto audio-books em inglês todo o tempo e sobre os mais diferentes assuntos. Dessa forma, uso o tempo morto entre minha casa e o trabalho, para aprender algo novo. Essa semana, por exemplo, estou escutando um livro sobre a história do Império Romano. Nos alto-falantes de meu carro também já passaram escritores como Alan Watts, Stephen Covey, Jim Rohn, Peter Drucker, entre outros.
O Global Executive MBA, na IESE, veio para ser um divisor de águas na minha carreira. Venho trabalhando na Engenharia por muito tempo e acho que chegou a hora de mudar e abraçar mais responsabilidades. Estudar em uma das melhores escolas do mundo foi uma experiência extraordinária. Aprendi muito, complementei meu perfil como manager, mas, sobretudo, conheci pessoas extraordinárias, hoje amigos. Sinto-me mais preparado do que nunca para um novo vôo, para pegar uma nova onda!
Não, não foi fácil conciliar trabalho e escola, principalmente quando ambos são levados a sério. Acordava às 5h todo dia e estudava até as 7h para ir ao trabalho. À noite, continuava das 21h (quando meu filho ia para a cama) até as 23h30. Esse foi meu ritmo de segunda a segunda durante os dois anos de curso. A cooperação da minha esposa nessa loucura foi chave. Ela e meu filho me acompanhavam em quase todos os módulos do MBA, primeiro na Espanha, depois nos Estados Unidos. Só não foram comigo para o módulo da China, mas sempre estiveram do meu lado.
Empregos – Como é sua rotina atual na Porsche? Está envolvido em algum projeto específico?
Morozini – Como trabalho em projetos estratégicos de carros que ainda vão sair no mercado, prefiro me abster de responder essa pergunta com mais detalhes.
Meu trabalho consiste em administrar e arquitetar a segurança passiva do modelo Cayenne. Principalmente no que se refere à estrutura (carroçaria) e os sistemas de airbag lateral. Preocupo-me de que todas as exigências de segurança do mundo sejam atendidas. Para isso, preciso estar muito atento às novas tendências e tecnologias do mercado.
Empregos – Você participou da Primeira Mesa-Redonda de Segurança Infantil no Trânsito, em São Paulo. Qual é o seu envolvimento com projetos e ONGs relacionados a esse tema?
Morozini – Gostaria de poder fazer muito mais nesse sentido. Meu sonho é dar de volta, compartilhar com a sociedade brasileira as coisas boas que aprendi nos últimos 13 anos aqui na Europa e 20 na área. Fico muito feliz quando posso ajudar, principalmente no que diz respeito ao assunto segurança infantil. No mundo, a cada ano, morrem aproximadamente 72 mil crianças por causa dos acidentes de trânsito. Mas o que mais me impressiona é que 96% dessas crianças moram em países subdesenvolvidos. E isso não é tudo, para cada óbito, 160 crianças ficam inválidas enquanto que outras duas mil precisam voltar ao hospital pelo menos uma vez, para algum tipo de tratamento. Isso é uma doença social gravíssima e me sinto na obrigação de fazer algo.
Empregos – Quais são os conselhos ou dicas que você poderia dar para um jovem simples que tem sonhos de voar alto profissionalmente, mas não tem condições financeiras?
Morozini – Quem me dera fosse possível dar dicas válidas para todo mundo!
Bom, antes de mais nada, fico com o pensamento do cientista-maluco norte-americano Buckminster Fuller. Ele diz que todas as crianças nascem gênios. Só que 9.999 de cada dez mil são inadvertidamente bloqueadas pelos adultos. Cabe a nós, portanto, trazer de volta esse gênio criativo, energético dentro de cada um de nós.
Aqui vão minhas humildes, não chamaria de dicas, mas de reflexões:
1- Desenvolva uma filosofia de vida e viva sob essa filosofia: Sou cristão e vivo essa realidade no meu dia a dia. Leio e complemento meus pilares filosóficos constantemente para deixar claro quem sou e qual o meu papel nesse planeta (minha relação com Deus, comigo mesmo, com o próximo e com o meio ambiente). Não importa qual o seu credo, acho que é necessário atar-se a uma linha mestre. Isso ajuda a ter uma postura mental firme diante das mais diferentes situações. Valores como integridade, responsabilidade, coragem e dignidade devem ser cultivados e isso não se compra com dinheiro. Leia, fale com pessoas, seja aberto, debata esses assuntos, não se contente com as filosofias alheias, monte a sua própria.
2- Saúde: Cuide bem da sua saúde física, mental e de sua aparência. Você pode estudar, trabalhar duro e se preparar, mas, se tiver uma saúde frágil, poderá colocar tudo a perder. Portanto, uma alimentação equilibrada (física como mental) e exercícios regulares podem ajudar na sua carreira e dar um boost na sua auto-estima. Isso também poder ser feito sem grandes investimentos.
3- Sonhos e estratégias: Se você “não” tiver objetivos, o mais provável é que não consiga alcançá-los. Mas, se você apenas tiver sonhos, isso tampouco significa que conseguirá alcançá-los! Ora, para alcançar seus sonhos você não tem que fazer coisas extraordinárias, mas fazer coisas extraordinariamente bem. Isso significa ter uma estratégia e trabalhar numa direção determinada lendo os livros adequados, andando e conhecendo as pessoas adequadas. Mas, sobretudo, estudando e trabalhando duro.
4- Jogue sua TV no lixo! Falo de forma figurada, mas acho que precisamos ser os senhores do nosso tempo e não o contrário. Para mim, grande parte do que se vê na TV não tem mesmo grande valor. Decida de que lado da TV você quer estar, olhando pessoas de sucesso fazer o que eles gostam ou escrevendo sua própria história de sucesso aqui desse lado da realidade. Groucho Marx um dia disse: Sim, eu acho que a TV é boa para minha cultura, toda vez que alguém liga uma TV vou para o quarto e leio um livro!
Em resumo: Selecione o que entra pelos seus olhos e ouvidos da mesma forma que você seleciona o que entra pela sua boca na hora de comer. Faça o mesmo com más companhias.
Empregos – Em algum momento você teve vontade de desistir? Por quê?
Morozini – Já tive medo, dúvidas e incertezas, isso sim. Mas sou do tipo que morre tentando.
Empregos – Quais são seus sonhos e projetos para o futuro?
Morozini – Sim, tenho vários sonhos e projetos para o futuro. Mas prefiro não divulgar isso aqui em público. Ajudar os demais, compartilhar o que aprendi estão na ordem do dia!

Avalie:

Comentários 0 comentário

Os comentários estão desativados.