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Ligada no 220v Amalia Sina não pára. Antenada e com visão global, ela percebeu a força do público feminino como consumidor e investiu todo seu lado empreendedor nesse mercado. Maratonista, mãe, escritora, vaidosa e presidente da Sina Cosméticos, entre outras funções, Amália foi presidente da Philip Morris do Brasil, da Walita e sênior vice-presidente da Philips para a América Latina. Parte do seu sucesso se deve ao fato de conseguir conciliar de forma ímpar esses diferentes papéis na sociedade. Com MBA em Marketing pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduada em Gestão pelo Triton College, Chicago, escritora e palestrante, foi professora universitária das principais escolas de negócio no Brasil (USP, FGV e ESPM). É membro da Associação Brasileira de Marketing, do Conselho Superior da Associação Brasileira de Anunciante e do Conselho Superior de Economia da FIESP. Possui alguns livros publicados, entre eles: “Crise e oportunidade”, “O outro lado do poder” e “Mulher e Trabalho”.
Conheça um pouco mais sobre essa incansável profissional que entendeu os sinais que a vida lhe deu e arriscou vôo solo rumo ao sucesso. Boa leitura!
Empregos.com.br – Com tanta credibilidade no meio empresarial, o que a fez optar por novas experiências?
Amalia Sina – Depois de 25 anos de experiência, nas últimas empresas que ocupei o cargo de presidente já sentia que a situação se repetia, não que as empresas fossem iguais, mas o sentimento era o mesmo. É forte sentar na cadeira da presidência de uma empresa, um grande desafio, saem labaredas por todos os lados, na indústria de tabaco você sente isso um pouco mais forte (risos). Eu queria sentir isso novamente.
Empregos.com.br – Mas você não teve medo de arriscar?
Amalia – A decisão de se tornar empresária é tão interessante, porque conforme o tempo vai passando e a idade chega você aprende mais rápido as coisas que você demorava mais para aprender. Outro fator que me impulsionou foi o de que havia percebido que as empresas das quais fazia parte lucravam muito. Por exemplo, quando eu entrei na Walita ela tinha 23% de participação de mercado, quando eu saí, ela apresentava 48%. Isso para mim foi um estímulo para seguir adiante.
Empregos.com.br – Qual é o seu maior prazer como empresária?
Amalia – Bom, agora, ao invés de ser empregada eu vou construir a empresa que eu quero e contratar pessoas. Em meu pensamento alguém tem que começar a construir as empresas grandes do futuro.
Empregos.com.br – Você foi adepta do plano de carreira?
Amalia – Ou você controla os seus atos ou eles controlam você. Eu sou a favor de que quando você está sentindo que alguma coisa está ficando repetida você tem que mudar. Eu senti que agora era hora de começar a fazer alguma coisa em que pudesse ser desafiada novamente, não que eu não estivesse sendo, mas eu tinha tido um plano lá atrás na minha vida: ser gerente antes dos 30 anos, diretora antes dos 40 e presidente antes dos 50, eu fui presidente aos 36 anos.
Empregos.com.br – Como optou pelo mercado de cosméticos?
Amalia – Teria que ser um mercado que fosse aconchegante e com o qual tivesse afinidade. Percebemos que há milênios a beleza é um objeto de desejo. E nós o escolhemos porque é um setor que cresce há 24 anos mais de 10% ao ano. Representa 16 bilhões de dólares de faturamento e um quarto desse faturamento é com cabelo. A entrada da mulher no mercado de trabalho, a tecnologia de ponta, e o aumento da expectativa de vida, são elementos que contribuem para esse setor. Os cosméticos atuam de uma maneira muito importante na realização pessoal das mulheres porque é uma questão de atitude e elas estão apresentando ultimamente essa característica.
Empregos.com.br – Como surgiu a Sina Cosméticos para o mercado?
Amalia – A Sina Cosméticos é uma empresa que já nasceu global. Nós lançamos a empresa em abril de 2007 na Itália, na Cosmoprof, a maior feira de cosméticos do mundo. Participou da feira uma quantidade muito grande de empresas, e apenas vinte delas eram brasileiras. Decidimos assim porque a Itália é o berço das tendências de todos os produtos relacionados a cosméticos.
Empregos.com.br – Por que dar o seu nome à empresa?
Amalia – Uma pessoa que coloca o nome dela na empresa já começa sabendo o seguinte: não pode falir. Sina é destino, boa ventura. Em um dos meus sete livros, Alexandre Gama, presidente da Neogama, uma das agências mais premiadas do Brasil, escreveu o meu prefácio e disse assim: o que você pode esperar de uma mulher que tem o destino no próprio nome. Não bastasse isso, outro amigo meu, Sergio Valente, presidente da DM9 me ligou e disse: Amália você está com sorte, o Djavan fez uma música só para você. Eu falei pronto! Então eu, que não tinha sinal nenhum, no final de uma semana tinha recebido uma quantidade tão grande deles que me deram a certeza do que tinha que acontecer.
Empregos.com.br – No seu produto você valoriza as riquezas da nossa biodiversidade? O mercado está aberto para essa proposta?
Amalia – Criamos a linha AMAZONUTRY baseado em três pilares: wellness, nutrição e Amazônia. Amazônia dispensa explicação, é a Amazônia sustentável que nos dá todos os ingredientes ativos da biodiversidade brasileira, em que só 10% ainda é conhecida. Esse produto nasce dentro de um contexto inserido em um modelo de negócio globalizado e “plugado” nessa nova sociedade que vivemos.
Empregos.com.br – Qual a importância de ter grandes parceiros para ter sucesso?
Amalia – Parceiro é muito importante para nós, apesar de sermos pequenos, pensamos o seguinte: ou você é pequeno e muito especial ou você é grande e tem muito dinheiro, as duas coisas são complicadas de andarem juntas. Pois, as empresas grandes em geral são arrogantes, o que é típico de quem domina, e quando você é pequeno a tendência é você respeitar mais. Ser pequeno pensando grande significa o seguinte: eu sou pequena, mas quero os melhores fornecedores do meu lado. E assim aconteceu. As grandes empresas disseram sim para nós.
Empregos.com.br – Para você que foi presidente de grandes empresas, é difícil ser pequeno no Brasil?
Amalia – Para ser pequeno e sério você tem que andar na linha e isso não é uma coisa simples. As pessoas em geral optam pelo jeito mais fácil, e esse jeito é começar informal, criticando o governo, fazendo as coisas mal feitas e tentando dar um jeitinho em tudo. Nós não fazemos isso, podemos olhar de frente porque para conseguirmos parceiros grandes e sermos respeitados precisamos fazer tudo certo desde o começo.
Empregos.com.br – Quando a AMAZONUTRY chegou ao mercado brasileiro?
Amalia – Nós focamos nossa distribuição nos países árabes como o Magreb, no Paquistão, e em alguns lugares da Europa. Prezamos por pequenas quantidades enviadas em pequenas porções para que seja feito um mercado teste. Para o Brasil, colocamos mais ou menos dois mil produtos nas mãos de pessoas do negócio de cosméticos para que elas dessem opinião. Focamos vários clientes potenciais como drogarias, perfumarias e farmácias. Recebemos uma resposta positiva e percebemos um espaço que nos fez entrar no mercado brasileiro em novembro.
Empregos.com.br – O sucesso pode assustar?
Amalia – Eu tenho medo de crescer porque eu não quero ser arrogante e nem ficar acomodada, quando se é pequeno você tem que ficar esperto o tempo inteiro, você tem que acordar e falar: a coisa tem que acontecer. Essa sensação é muito boa, jamais imaginei que a felicidade pudesse bater tão forte na minha porta e eu ouvi e abri. Temos que caminhar e depois vamos resolvendo o que for aparecendo. São desafios enfrentados por quem quer ser grande.
Empregos.com.br – O que uma empresa precisa ter para alcançar o sucesso?
Amalia – Tem que ser uma empresa que tenha seus objetivos. Trabalhar pensando em um concorrente próximo, pois é uma forma saudável querer estar na frente. Outra questão: dinheiro não é tudo. São necessárias paixão, vontade, determinação, resiliência e capacidade para resolver problemas.
Empregos.com.br – Sobra tempo para cuidar da saúde?
Amalia – Eu já tive oportunidade de correr várias maratonas. Oito São Silvestres, duas maratonas, 30 corridas de rua. Eu corro desde 1991, coleciono todos os meus números de peito. A minha primeira corrida foi de 10 km e de lá para cá eu me supero.
Empregos.com.br – Você que lida com o mercado de trabalho, como observa a possibilidade do emprego desaparecer nos moldes que conhecemos hoje?
Amalia – Existe a possibilidade do desaparecimento do emprego no futuro, principalmente se a pessoa não tiver um grande diferencial, o que significa dizer que: o País, as escolas, e as universidades precisam começar a estimular o jovem brasileiro a se tornar empreendedor. O brasileiro é muito empreendedor, mas ele não leva até o fim suas ações, não consegue realizar. Existem estatísticas que demonstram que os brasileiros abrem empresas, mas elas fecham muito rapidamente. Então, para mim, o que falta é gestão e visão de negócio. Existe agora uma necessidade urgente de começar a ser fomentado o empreendedorismo dentro das entidades de ensino.
Empregos.com.br – As pessoas estão preparadas para ser líderes?
Amalia – As pessoas querem ser felizes, elas querem buscar isso de uma maneira contínua, elas querem ter em suas mãos o leme de suas vidas. Então, para você ter um emprego decente e ter capacitação, inclusive financeira, para crescer e para dirigir uma empresa você precisa saber muitas coisas. As opções são: ou você tem idade suficiente ou você tem dinheiro. A busca por uma empresa própria não pode ser única e exclusivamente porque você está infeliz com seu ambiente de trabalho, se for isso, você não irá conseguir se sustentar.
Empregos.com.br – Em sua opinião, qual a qualidade desses profissionais que estão indo para o mercado?
Amalia – Eu acredito que nós não podemos responsabilizar as entidades educacionais por tudo, nem pelo bem nem pelo mal. Existe uma via de mão dupla muito forte e importante. Eu conheço muita gente formada em muitas escolas boas, mas que não conseguem grandes posições; e em contrapartida conheço pessoas que saíram de escolas médias e que se tornaram grandes empreendedores. Eu acho que hoje o que existe é uma atitude frente ao desafio, varia de pessoa para pessoa, e essa atitude tem que estar muito pautada em viver em um ambiente em que ela possa construir algo maior. Na minha visão, o talento está dentro de cada pessoa e às vezes é preciso ter algo ou alguém que ajude a encontrá-lo. A escola serve para isso, como um ambiente que proporciona a possibilidade de se descobrir, depois disso o resto é com você.

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