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Por Clarissa Janini
Dia 8 de abril pode ser um marco na vida de muitos jovens carentes da cidade de São Paulo. Será inaugurada a Ong (organização não-governamental) Idepac (Instituto de Desenvolvimento Profissional Amigos Contabilistas, Empresários, Profissionais Liberais e de Informática), que tem como objetivo primordial a inclusão de jovens de baixa renda no concorrido mercado de trabalho. A instituição oferecerá cursos profissionalizantes, como informática, auxiliar de escritório, telemarketing e webdesign, por exemplo, ministrados por professores universitários voluntários. De início, serão 250 vagas no período noturno e, a partir do mês de junho, mais 500 nos períodos matutino e vespertino. Além de receberem material didático e alimentação, os jovens serão indicados para o preenchimento de vagas no PNPE (Programa Nacional do Primeiro Emprego), do governo federal. Para participar, os interessados devem estar associados a alguma das entidades parceiras do Idepac.
A inauguração da Ong contará com a presença do ministro do trabalho, Ricardo Berzoini, que assinará simbolicamente a carteira de trabalho de alguns dos jovens participantes, e do psiquiatra Içami Tiba, que ministrará uma palestra sobre a importância da educação na vida dos jovens e como os empresários podem contribuir para esse objetivo aos cerca de 500 convidados.
O idealizador e presidente da Ong é Sergio Contente, também presidente da Contmatic Phoenix Sistemas Administrativos Integrados. Apesar da origem humilde, ele conseguiu ingressar em uma das mais renomadas faculdades do País, o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), e teve a oportunidade de virar o jogo em seu destino. Hoje, com a vida profissional consolidada, ele quer dar a mesma chance a quem não tem, no momento, condições de ingressar em uma universidade. “O que a vida fez por mim estou querendo devolver”.
Confira abaixo a entrevista que Contente concedeu ao Empregos.com.br.
Empregos.com.br – Como surgiu a idéia da criação do Idepac? Como colocou seus objetivos em prática?
Sergio Contente – Sempre tive vontade de atuar com filantropia. Eu já era presidente do MAC (Movimento dos Amigos Contabilistas) e, quando ele acabou, tive vontade de criar um projeto como este. A partir de meus contatos juntei os voluntários necessários para partir para o Terceiro Setor. Decidi expandir o alcance da Ong com a participação de profissionais de diversas áreas, como Marketing, Administração, Informática, Direito, entre outros. Assim é possível diversificar os tipos de cursos profissionalizantes. Dia 11 iniciaremos as aulas com 250 alunos, mas pretendemos estender o número para 750 em junho. Nosso objetivo é tornar esse jovem carente tão competitivo no mercado quanto alguém de maior poder aquisitivo. Um dado interessante é que começamos a divulgar a Ong após o Carnaval e, mesmo em pouquíssimo espaço de tempo, conseguimos trabalho para 29 pessoas. Algumas empresas que estavam precisando de secretárias e motoboys, por exemplo, vieram atrás de nós para contratar os jovens.
Empregos.com.br – Qual o perfil dos professores que ministram os cursos?
Sergio Contente – São, em sua maioria, professores de faculdade, às vezes já aposentados. Muitos eram nossos clientes e antigos associados do MAC. O entusiasmo deles foi tanto que foram mais de cem candidatos a voluntário e não tivemos espaço para todos participarem. E, dos que irão ministrar os cursos, apenas um ou outro nunca participou de projetos sociais.
Empregos.com.br – Como é a estrutura do Idepac?
Sergio Contente – Possuímos 150 computadores e o primeiro curso será de 600 horas/aula. Mas o espaço estará aberto também fora dos horários de aula, ou seja, se o aluno quiser vir aqui nos finais de semana para navegar na internet, por exemplo, terá acesso livre. Construímos o Idepac em um lugar bonito, com piso de granito, espaçoso, para agradar tanto aos professores quanto aos alunos, que são, neste caso, nossos clientes.
Empregos.com.br – Como você avalia a responsabilidade social por parte das empresas nos dias de hoje? Houve evolução?
Sergio Contente – Hoje é possível perceber mais claramente a vontade do brasileiro em ajudar e não deixar tudo na mão do Estado. Atribuo isso ao fato de as pessoas perceberem que têm de fazer algo pelo próximo. Passamos muito tempo fora da democracia, quando o Estado era quem cuidava de tudo e todos. Agora o brasileiro descobriu que não dá para só ficar votando, temos de fazer, tomar alguma atitude. O que fazemos no Idepac é filantropia, voluntariado, não queremos nada de material em troca. O que vale para nós são quantos alunos irão conseguir emprego por meio de nossos cursos. Essa será nossa prova dos nove. Acho que ainda há muito espaço para as empresas se engajarem em um projeto como o nosso. Eu adoraria ter concorrência, nesse sentido. Daí, o dia mais feliz da minha vida seria quando eu quebrasse, quando não tivesse mais “clientes” para atender.
Empergos.com.br – Como vocês cuidam da divulgação do trabalho da Ong? Quão importante é o marketing para o Terceiro Setor?
Sergio Contente – O marketing é bastante necessário, mas no “bom sentido”. Quer dizer, as pessoas gostam de ajudar entidades que dão certo, que têm garantia de resultados positivos. Quem não está por dentro do Terceiro Setor não tem acesso a informações sobre todas as instituições de caridade. Empresários ajudam entidades de “grife”. Por isso, um trabalho de marketing e divulgação é essencial para que nosso trabalho se torne visível para todos e assim fica mais fácil conquistar novos parceiros. Utilizamos o site com frases de efeito, divulgação com clientes, entre outros. A assessoria de imprensa que divulga nossa Ong para a mídia, a Versátil, também é voluntária.
Empregos.com.br – Você é filho de uma diarista e começou a trabalhar com apenas 14 anos. Qual o peso da influência do seu passado no desenvolvimento da Ong?
Sergio Contente – Por causa da situação financeira desfavorável, sempre fui o melhor aluno da sala. Morava no Tatuapé e morria de medo de trabalhar em alguma das fábricas de tecelagem de lá, isso era muito comum na época. Eu estudava para não carregar peso. Se eu não tivesse me esforçado nos estudos, poderia hoje ser um “peão” de fábrica. Quando consegui entrar no ITA tudo mudou, pois lá tive casa, comida e acesso a coisas que nem imaginava serem possíveis antes. Mais tarde comecei a dar aula em faculdade e minha vida se transformou. Enfim, o que me mudou foi o estudo. Se a pessoa dominar o assunto, a vida dela muda. É isso que pretendo com a Ong, tornar os jovens um espelho da minha própria vida. Sinto necessidade de devolver o que recebi. Nossa meta é conseguir que o jovem carente entre no mercado de trabalho de forma digna. Se apenas um jovem atingir essa meta, estarei satisfeito.
Empregos.com.br – Como você enxerga o futuro de Terceiro Setor no Brasil?
Sergio Contente – Acredito que esse senso de solidariedade começou a deslanchar agora. A própria eleição do presidente Lula nos mostra que o povo está mais preocupado com o lado social. Ele foi eleito porque o pensamento das pessoas, hoje, é justamente o de mudar alguma coisa. Acredito que a consciência dos brasileiros esteja aumentando e, se tudo continuar assim, tenho a esperança de viver em um país mais justo. Talvez assim não haja mais tantas Mercedes blindadas por aí.

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