Carreiras | Empregos

Floriano Serra*
Na verdade, nem a palavra, nem a situação são novas. Todas as células sociais já viveram fases de crise, em épocas diferentes e das mais variadas naturezas e causas – vai desde um casal, passa pela família, circula nas empresas, nas cidades e nem o País escapa – podendo até atingir o mundo inteiro, como é o presente caso. E, como tudo na vida, todas elas passaram, como essa também haverá de passar. Há muitos interesses e riscos em jogo e há muita gente empenhada em não sair perdendo.
Essa introdução serve apenas para tocar no ponto principal deste artigo, que não é sobre crise, mas sobre Felicidade. O que quero lembrar é que o tamanho de qualquer crise será decisivamente influenciado pelas forças ou fraquezas interiores de cada pessoa. Ou seja: não é a ausência de crise que garante a felicidade de alguém. Se assim o fosse, por que pessoas ricas, famosas e poderosas – portanto, potencialmente imunes às crises – são infelizes? Resposta: porque, nessas pessoas, a crise é da alma e não da conta bancária. Deixe-me fazer-lhe uma pergunta: se você é feliz, trocaria sua felicidade pelo primeiro prêmio da Mega Sena? Pronto, então você me entendeu.
Outro dia, um amigo contava que, certa noite, faltou energia elétrica no bairro onde mora. Uma “crise” – guardada as devidas proporções – pois ninguém da família queria abrir mão da TV, do computador, da geladeira, da leitura e outras coisas que dependem da energia elétrica. Foi então que alguém teve a feliz idéia de se reunirem na sala, às escuras, para contarem “causos”, piadas e até cantarem – pais, filhos, irmãos e netos. Meu amigo jura que foi uma das melhores noites que a família passou junto. Sentiram-se realmente uma família, como há muito tempo não acontecia. Isso, apesar da “crise” da escuridão. É que a alma deles estava iluminada.
É justamente o que quero defender: é preciso que a alma esteja em paz para a pessoa vencer ou administrar uma crise, seja ela de que natureza for. Isso significa uma alma sem culpas, sem medos e sem rancores – e, ao mesmo tempo, com paciência, serenidade, compreensão e ética. Só assim conseguirá produzir a energia de que necessita para encontrar saídas e soluções – e ser feliz. Almas perturbadas não são boas inspiradoras, muito menos boas conselheiras.
A crise que atualmente assola o mundo é sem dúvida séria e preocupante, principalmente porque muitos empregos estão em jogo. Por isso mesmo, merece uma postura serena e comedida dos gestores. É nestes momentos delicados que a verdadeira liderança é posta à prova. Navegar em águas tranqüilas, qualquer marinheiro principiante tira de letra. A competência do marujo se percebe mesmo é nas grandes tempestades.
Repetindo o que outros já disseram, a crise não precisa necessariamente conduzir ao pânico, mas pode ser encarada como oportunidade – de inovação, de criatividade, adequação, adaptação, mudança, experiências, tentativas. Um monte de maneiras diferentes e positivas de ser vista. A questão é que, sem paz na alma, nada disso vem à tona.
Não sou economista e posso estar dizendo uma bobagem, mas tenho para mim que quando a causa do problema gira em torno da ciranda dos números, a solução é mais fácil de ser encontrada do que quando o que está em jogo é a crise da alma. Nestes casos a solução é mais complicada, porque depende de algo subjetivo, invisível, impalpável e que muitos teimam em desconhecer e em não sentir. A crise da alma, quando não cria, ela própria, outras crises decorrentes, impede a pessoa de gerar alternativas generosas para si e para os outros e, assim, de reencontrar o caminho do crescimento.
Ou seja: o princípio ativo do antídoto que minimiza ou soluciona a maioria das crises e nos aproxima da Felicidade, está mais ao alcance das pessoas do que elas mesmas podem imaginar.
* Floriano Serra é consultor, psicólogo e palestrante, diretor da SOMMA4 Consultoria em Projetos de Recursos Humanos e do IPAT – Instituto Paulista de Análise Transacional. É autor de vários livros e artigos sobre comportamento pessoal e profissional.

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