Carreiras | Empregos

por Camila Micheletti
Marco Roza nasceu no Rio de Janeiro em 1955. Interrompeu o curso de Física na PUC/Rio e veio para São Paulo em 1975. Virou jornalista e trabalhou nos jornais Diário do Comércio, Folha de São Paulo, Folha da Tarde, Jornal da Tarde, Diário do Grande ABC, DCI, Shopping News e para o Central Office of Information, em Londres, produzindo, editando e apresentando o programa de rádio Meridiano Zero, do Ministério de Relações Exteriores da Grã-Bretanha.
Em 1992 veio o baque: foi demitido do Jornal Folha da Tarde, onde trabalhava há dois anos. No lugar de entrar em depressão, isolar-se do mundo ou mesmo procurar outro emprego com carteira assinada, Marco Roza fez diferente. Abriu a Marco Direto Marketing, MDM – e se especializou em Marketing da Diferença, teoria que ensina aos clientes como agregar ou ressaltar as diferenças que são percebidas pelos consumidores. “Estava com 37 anos na época, percebi que ainda poderia cometer muitos erros, tinha bastante energia para errar e começar de novo”. Ele afirma que a decisão de ter um emprego ou um trabalho tem que ser tomada de uma vez por todas. “Você não pode ficar no meio do caminho. O grande problema do emprego formal é que ele não traz um plano para a sua vida, você vai ter a sua renda vinculada à empresa enquanto estiver empregado”.
O jornalista usou a sua própria experiência para escrever o livro “Procurar emprego nunca mais”, que lançou em dezembro de 2003 pela W11 Editores. A obra já rendeu frutos: além de muitas entrevistas na mídia, Marco foi convidado a escrever uma coluna na revista IstoÉ Dinheiro, que leva o mesmo nome de seu livro. Confira a seguir a entrevista exclusiva que ele concedeu ao Empregos.com.br, onde fala da necessidade de ter bons parceiros, comenta o impacto da demissão do ponto de vista emocional e dá dicas de guerrilha para você conquistar seu espaço:
Empregos.com.br: Qual é o objetivo do livro?
Marco Roza: O objetivo do livro é falar a verdade para quem está desempregado e infeliz no trabalho. Dados recentes mostram que 60% da força economicamente ativa atual está trabalhando sem carteira assinada, o que só comprova a minha tese de que o emprego formal está com os dias contados. A carteira de trabalho é um contrato rígido de trabalho feito pelo Governo que só prejudica o profissional. O ideal é atuar como um prestador de serviço, buscando o trabalho que esteja mais de acordo com as suas habilidades. Desta forma, você se torna dono da sua força de trabalho e controla os inputs do mercado.
Empregos.com.br: Como identificar quais os nichos de mercado que ainda precisam ser explorados?
Marco Roza: Antes de qualquer coisa, é fundamental fazer o que gosta. Tendo isso em mente, é hora de analisar as possibilidades, sondar o mercado e analisá-lo com o maior nível de detalhamento possível. O mercado é infinito nas suas possibilidades e necessidades. Prefiro não citar este ou aquele setor, recomendo que a pessoa pesquise bem antes de comprar equipamentos, alugar o imóvel e assinar contratos. Muitas pessoas entraram em dívidas porque se anteciparam e fizeram as compras antes de avaliar a real possibilidade do negócio.
Empregos.com.br: Como colocar o projeto para funcionar na prática?
Marco Roza: Eis algumas perguntas que devem ser feitas na concepção do negócio: Há concorrentes para o produto ou serviço que você quer lançar? Quais são os diferenciais deles? E as deficiências? A proposta é entrar na sombra de um produto ou serviço famoso e tentar vender o que ele não tem. Você pode proporcionar bom preço, qualidade e bom atendimento, um diferencial separadamente ou todos juntos. Proponho também que o profissional estabeleça o projeto em conjunto com outros parceiros, que possam agregar ao negócio as competências que ele não possui. Quando você decide montar um restaurante, por exemplo, um entende de culinária, outro estrutura o cardápio e o outro faz as compras. A figura isolada não existe mais, definitivamente. Um exemplo de negócio que deu certo são as sacoleiras de luxo, que vendem roupas de grife diretamente nas casas ou escritórios das clientes, facilitando o acesso à roupa e sem perder a qualidade. Eu acredito que este é o século da mulher, porque cada vez mais o empresário tem que ter uma preocupação “de mãe” com o seu cliente. Tem que se antecipar às necessidades dele e tem que ser muito critativo para oferecer diferenciais, características que são essencialmente femininas.
Empregos.com.br: Por que você diz que as classes C, D e E reúnem os consumidores mais atraentes?
Marco Roza: Todo setor em ascensão já traz consigo a sua concorrência, mas as empresas ainda não perceberam o potencial de compra das classes mais baixas. Por ganharem muito pouco, as pessoas mais carentes não têm reserva, poupança. Elas simplesmente gastam o que ganham. Como são muitos na mesma região, há concentração de capital. Muitos engenheiros reclamam que falta trabalho nas zonas comerciais das grandes cidades. Se eles fossem para a periferia e conseguissem enxergar os moradores de lá como possíveis clientes, poderiam ganhar muito dinheiro. Eles poderiam ajudar no projeto e na construção de casas populares. Todos ganhariam – os moradores ao deixar de gastar dinheiro com materiais de construção desnecessários e em excesso.
Empregos.com.br: Que comportamentos e atitudes a pessoa deve ter para garantir seu espaço?
Marco Roza: Você precisa se relacionar muito bem, ser muito honesto e ético com seus parceiros, clientes e fornecedores. A saída está sempre no outro. Hoje, você se relaciona com o mercado através da empresa que você trabalha; neste novo modelo, você estabelece propostas e lança a sua idéia, algo bem consolidado e estruturado com os parceiros. Não há mais lugar para a improvisação.
Empregos.com.br: Qual é o impacto da demissão do ponto de vista emocional?
Marco Roza: É uma sensação deprimente e muito traumática, principalmente se você foi pego de surpresa. A responsabilidade por ter sido demitido e por não ter dado certo na empresa passa a ser só da pessoa, que passa a ser culpada de tudo. É por isso que recomendo que todo mundo, estando empregado ou não, deve ter o seu “Plano B” engatilhado. Comece entendendo o setor que você atua. Se você gosta do que faz, aproveite todos os treinamentos que a empresa dá aos funcionários, eles lhe serão muito úteis. Crie um projeto, exercite a sua mente e os seus contatos ainda na empresa. Venda a sua idéia para pessoas que trabalham com você e que podem ser grandes aliados e parceiros do seu negócio. Essa é a melhor maneira de conseguir espaço, montar um pequeno “grupo de guerrilha” e ir à luta.
Empregos.com.br: Você pode indicar algumas táticas de guerrilha para os leitores do Empregos.com.br?
Marco Roza: A primeira e mais importante é demitir quem lhe demitiu. Muitas pessoas ficam com o orgulho ferido e, na tentativa de ameaçar e prejudicar a empresa, tentam uma vaga no concorrente. É preciso transformar a “de-missão” em “nova-missão” e partir para o ataque, que é o seu projeto de vida. Só quando você demitir o seu chefe vai conseguir esquecer tudo o que passou e começar uma vida nova, sem carteira assinada, com planos, independência e, claro, muito trabalho. A segunda tática é saber respeitar as pessoas, manter sempre o bom humor e a cordialidade, porque como já falei anteriormente, o seu capital é o outro. Por fim, a terceira tática é identificar nichos de mercado e ir na sombra de marcas famosas. Com um grupo pequeno e alguns diferenciais é possível conquistar um espaço no mercado. Um bom exemplo são as Tubaínas, que conseguiram complicar a vida dos refrigerantes líderes de mercado e hoje têm clientes fiéis.
Empregos.com.br: Mas como montar um novo negócio com tanta burocracia e tantos impostos? Há uma saída para não cair na informalidade?
Marco Roza: É fato que a informalidade está contaminando o mundo, mas vejo isso de forma positiva. É dessa informalidade que surgirão os grandes líderes de amanhã, e não das grandes empresas. Sempre vai existir os que insistem no emprego formal, mas quem se antecipar certamente será pioneiro e com muitas chances de ser um vencedor.

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