Carreiras | Empregos

por Juliana Ricci
Chega de mesmice! Esse é o novo lema de Simon Franco, consultor e diretor geral da TMP Worldwide para a América Latina. Depois de defender a idéia do “saber + saber fazer”, ele agora utiliza a experiência de 36 anos na área de Recursos Humanos para afirmar que o profissional também tem que “saber ser”. O que isso significa? Abandonar o hábito de seguir cegamente as exigências dos manuais de empregabilidade, de querer ter as mesmas habilidades dos outros. A saída? Desenvolver um estilo próprio, criar métodos e maneiras novas de se destacar em meio à imensa quantidade de profissionais que almejam as mesmas oportunidades de carreira. Essas idéias estão reunidas no recém-lançado livro “O Profissionauta – você no mercado de trabalho do século XXI”, da editora Futura, onde Simon não traz respostas, mas um convite à reflexão sobre as transformações no mercado de trabalho e sobre os reflexos delas na carreira de todos nós. Em entrevista exclusiva ao Empregos.com.br, Simon Franco falou sobre as idéias do livro, emprego, carreira e muito mais.
Empregos.com.br – Quem é o profissionauta?
Simon Franco – Nautas eram aqueles que navegavam nas antigas naus, eram viajantes, navegantes. Por que eu associo o profissional aos viajantes? Primeiro porque o mundo do trabalho está em alta movimentação. Se você não estiver permanentemente em movimento, não acompanha. Segundo, porque o que caracterizava o navegador do século XV é a coragem, ousadia, curiosidade intelectual, ele não sabia para onde ia, não tinha instrumentos adequados, tinha apenas uma vaga noção. Hoje é preciso ser um profissionauta, que navega. No livro, tento tornar o mundo corporativo compreensível para que as pessoas sejam bem-sucedidas.
Empregos.com.br – Como surgiu a idéia do livro?
Simon Franco – Este, assim como o “Criando seu próprio futuro”, nasceu porque as pessoas me pediam para fazer seminários, palestras, e me perguntavam se tinha o material para distribuir, mas eu não tinha. Eu não distribuo material, porque as pessoas geralmente deixam guardado na gaveta. Então, após algumas insistências da editora, reuni as informações em livro. O objetivo era levar para fora as coisas que tenho o privilégio de viver aqui. O headhunter é receptáculo de sucessos e fracassos, frustrações e alegrias. Estamos dos 3 lados: do candidato, do nosso próprio e do lado do contratante. Então, durante a contratação, observamos os motivos que levam o cliente a contratar determinada pessoa, o que dá consistência às nossas opiniões.
Com o tempo, acabei notando que muitas vezes, as pessoas tinham bagagem, mas ao abrir a mala, ela estava tão mal arrumada, que não era possível enxergar as melhores peças. Outro problema é a entrevista. Improvisa-se demais…
Empregos.com.br – O que é preparar-se para uma entrevista?
Simon Franco – É preparar-se para um exame. É preciso conhecer a empresa – o que ela faz, sua origem, seus principais trabalhos -, assim como se estuda para a matéria antes da prova. É preciso saber o que não se deve fazer. Com isso é possível interagir melhor, fazer perguntas inteligentes, demonstrar que a empresa interessa de tal maneira que você reservou seu tempo para estudá-la melhor, a ponto de concluir que é nela que você gostaria de trabalhar. Se eu quero contratar, você também tem que querer trabalhar aqui – e não só ter um emprego aqui. Entrevista é interação, e não inquisição. Quando pergunto como as pessoa vêem o entrevistador, respondem de maneira muito gentil para não ofender, ou então confessam que o enxergam como alguém que está com a faca e o queijo na mão, como alguém que tem que ser vencido. Na verdade, ele é só alguém que também tem um problema: contratar uma pessoa que o cliente aprove. E quanto mais rápido ele resolver o problema, melhor. Portanto, cada vez que ele abre a porta, torce para que seja aquela a pessoa que procura. Então, por que depois de ver tantas pessoas, ele não contrata? Porque elas conseguem se anular, fazer coisas erradas – tiques nervosos, ser prolixas, não olhar nos olhos…
Empregos.com.br – Isso não vira rótulo? Uma pessoa tímida pode ser competente…
Simon Franco – Mas você há de convir que para os tímidos restam poucas oportunidades. Timidez pode existir, desde que não ofusque você. Se a sua timidez faz com que eu tenha que penetrar nos seus olhos para descobrir algo, esqueça! No mundo não há mais babás de profissionais. Se você consegue ser extrovertido de conduta, mesmo que inibido de constituição, não há problema. Mas, ser fechado, monossilábico e retraído é inviável.
Empregos.com.br – E quanto aos currículos?
Simon Franco – Eu recebo cerca de 2.000 por mês. Nosso trabalho é não desprezar mercado e eles são fruto da nossa credibilidade, então eles são bem-vindos. O problema é que a maioria é padronizada, porque alguém disse aos candidatos que é preciso padronizar. Aí entra o que eu digo no segundo livro: chega de mesmice! Tudo funciona até um certo tempo, mas não para sempre. É preciso saber a hora de mudar. Atitudes e normas vencidas devem ser avaliadas. Não fique pensando que você é o errado porque não se adapta mais a elas.
Eu fui um dos primeiros a dizer, alguns anos atrás, que competente era o indivíduo que tinha o saber (conhecimento, aprendizagem) e o saber fazer (vivência, experiência). Até hoje tem gente que manda currículo para 200 empresas e não recebe retorno. São pessoas que acham que ainda só é preciso mostrar saber e saber fazer, que só precisam dizer “fiz tal escola” e “aumentei os resultados em tanto”. Isso vai para o lixo. Sabe por que? Uma infinidade de pessoas fez a mesma coisa que você.
Empregos.com.br – O que deve ser colocado no currículo então?
Simon Franco – Tudo isso, mas não só isso. É preciso começar a definir o “saber ser”. Você é quem valoriza o processo e o saber, você é quem otimiza a experiência do saber fazer. Sem você, o saber e o saber fazer perdem o sentido. Máquinas fazem e enciclopédias sabem. Mas você realiza, complementa e executa de maneira única.
Empregos.com.br – E como colocar isso no currículo?
Simon Franco – Ah, não sei. Esse é o grande problema. As pessoas querem fórmulas. E eu respondo: vai para casa e pensa! Eu não tenho a solução. As pessoas esperam um messias com uma bússola na mão, isso não existe mais. Cada vez menos você vai encontrar informações prontas e disponíveis e será cada vez mais comum encontrarmos um 11 de setembro pela frente. Não no sentido da tragédia, mas das coisas inesperadas. Nenhum ser humano seria capaz de imaginar o que poderia acontecer naquele dia. E cada vez mais acontecerão coisas no mundo que ninguém tinha imaginado, cada vez mais as inovações e a criatividade estarão aflorando e você tem que provocá-las e também reagir a elas. Só que a maneira de fazer isso não está no manual. No livro eu resgato o conceito de saber pensar, porque é preciso tomar decisões instantâneas, diante de algo que não foi planejado.
Empregos.com.br – E como é possível conciliar isso com a pressão das empresas, afinal , não há uma cultura de valorização dos “não-modelos”. Além disso, as empresas ainda prezam encontrar nos currículos nomes de boas escolas e informações sobre “saber fazer”.
Simon Franco – Se eu partir do pressuposto de que por não ter feito uma escola de primeira linha serei prejudicado, devo então superar minha criatividade para compensar essa aparente deficiência. E, provavelmente, ao procurar uma maneira diferenciada de fazer meu currículo, eu já estarei marcando um gol. É preciso valorizar seus feitos de tal forma que o selecionador pense “puxa, apesar de ele não ter uma faculdade maravilhosa, eu quero conhecê-lo”. As empresas já sabem que cada vez mais as melhores cabeças não saem necessariamente das melhores escolas.
Empregos.com.br – Como devemos encarar as novas relações de trabalho? O que é preciso para entendermos nosso novo papel profissional e identificar oportunidades de atuação criativa e realizadora?
Simon Franco – É preciso pensar se você quer ser maioria ou minoria. Na primeira opção, não se preocupe com nada do que estou falando, porque a maioria certamente vai ficar numa situação acomodada e vai fazer parte de um grupo como a classe média, que tem muitas reclamações sobre a vida mas também não faz nada para mudar. Se quiser ser parte dos que estão na vanguarda – mérito é estar entre os primeiros a fazer algo, o que não significa mais ter faculdade ou MBA – precisa entender o dinamismo do tempo. Quero estar entre os que fizeram faculdade? Então parei há dez anos. Quero estar entre os que têm MBA? Então estou parando no tempo hoje. Vou estar entre os que vão fazer o quê para estar à frente daqui a dois ou três anos? É para essas pessoas que estou falando. São essas pessoas a quem o mundo chama hoje de capital humano. As empresas têm hoje duas definições: recursos humanos e capital humano. A diferença é que o capital rende dividendos, é um investimento, porque agrega valor à empresa e a partir daí não negocia salário, mas sim a carreira. Já o recurso humano é um custo.
Empregos.com.br – O Sr. tem dados sobre profissionais empregados ou de sucesso que não têm todos os requisitos “padrão” ou que já conseguiram assumir essa postura “antimanual”?
Simon Franco – A maioria que conseguiu isso o fez porque contestava as regras. Se você procurar na história, verá Tomas Edson, Cabral e Colombo contestando verdades e investigando. Não é anarquia, é comportar-se como um ser pensante. Esse livro é um divisor de águas entre “como ser” e talvez o que “não ser”. Isso porque hoje não há mais “como ser”. Quando surgiu a globalização, precisávamos de um novo perfil, mas agora isso já está obsoleto. Por mais globais que as empresas estejam, precisam delegar poderes para seus responsáveis agirem localmente. Como fazer isso à distância? Com discernimento, espírito crítico. Hoje, ser leal às empresas é ser um grande questionador, para encontrar vantagens e recursos. Mas isso também incomoda. É um dilema: por um lado todo mundo quer alguém que pensa; por outro, é um risco, porque é difícil mensurar e controlar o quanto as pessoas pensam – entretanto a empresa depende da pessoa quando ela pensa.
Empregos.com.br – O sr. poderia descrever o perfil de alguém que é profissionauta, que tem um estilo próprio e único de ser?
Simon Franco – Sim: Silvio Santos. Eu nunca conheci alguém tão determinado e esperto. Ele é intuitivo, corajoso, arrojado, tem autonomia, vai mais longe que os outros mas sabe a hora de parar, estimula as pessoas a jogar, ousar, mas também alerta sobre os riscos e conquistou muita credibilidade. Além disso, é totalmente focado no negócio, é inquisidor, dá a chance nas suas mãos, é ético. Ele é o modelo antimanual.
Empregos.com.br – No livro o Sr. comenta que as empresas precisam de pessoas preparadas e, ao mesmo tempo, que existam sempre outras, desempregadas. Explique melhor como funciona isso. Seria a tirania das organizações? Os profissionais estão condenados a viver sempre nessa instabilidade?
Simon Franco – Uma situação alimenta a outra. O sujeito desempregado pode sentar na calçada e chorar, ou se esforçar para virar um super profissional. O melhor momento de buscar e ter algo é quando você não tem. Esse processo é dinâmico, devido às mudanças do mundo e ao desenvolvimento em forma de espiral. O que é um espiral? Uma mola sem fim. É um desenvolvimento contínuo. Quando a média da sala é cinco e todo mundo tirou cinco, é preciso aumentar a média, para gerar estímulo. É assim que o mercado funciona.
Empregos.com.br – O Sr. acha que as garantias das leis trabalhistas, intensamente discutidas atualmente, acabam por dificultar a negociação de remuneração e benefícios entre empresas e profissionais – numa época em que as empresas são um meio e não um fim, e que as negociações estão mais flexíveis? Haveria uma solução?
Simon Franco – Leis são feitas para beneficiar a comunidade. A CLT data dos anos 40. E o mundo não mudou desde então? As leis da CLT não foram conquistas, mas heranças da ditadura. Acho humilhante Ter leis rígidas, elas provocam perdas para o indivíduo. Nos Estados Unidos, muitos profissionais aceitaram redução de salário para colaborar com o fim da recessão. Lá há a consciência de que não se pode ganhar num momento em que todo mundo está perdendo. É preciso colaborar, para que o problema acabe logo e no momento seguinte, ainda ter o emprego e voltar a ganhar.
Empregos.com.br – Segundo o livro, o poder de inovar, criar, buscar diferenciais, sempre esteve nas mãos das empresas, mas hoje isso é responsabilidade dos talentos das pessoas. Com isso, as empresas estão padronizando a iniciativa, transformando a retenção de talentos em estratégia competitiva. Isso é um risco? É possível que o desenvolvimento de talentos se banalize, assim como aconteceu com outras novidades – que se tornam comuns -, levando as pessoas à incapacidade de descobrir suas próprias habilidades e vontades?
Simon Franco – Nós, na verdade, estamos criando um novo manual. Colombo e Cabral não foram em frente sem mapa, só que construíram outro. Quando eu digo para questionar o manual, já sei que alguém vai vir atrás para saber o que existe de novo e seguir. Cada vez que surge uma idéia, ela acaba se institucionalizando, enquanto surge uma nova. Enquanto a maioria está embarcando, os precursores já estão na próxima.
Empregos.com.br – O Sr. acha que a “era do talento” permitirá a todos os profissionais se descobrir e ter como horizonte o mercado, o fato de ser disputado pelas empresas? É um momento de “qualidade total” das pessoas e, consequentemente, dos negócios?
Simon Franco – Sim, é. Mas o grupo de excluídos será cada vez maior, porque à medida que o mercado aumenta as exigências – veja, não há exigência de empresas, mas sim de mercado -, fica mais difícil acompanhar.
Empregos.com.br – E o que será dessas pessoas?
Simon Franco – É um dilema. Historiadores dizem que as pessoas de vanguarda, ao criar riqueza, criam meios para sustentar os que têm atividades menos nobres. Por que você acha que há tanta consciência hoje com relação à responsabilidade social? Há lucros a serem obtidos, não é generosidade pura. Quando a imagem da empresa aparece associada a projetos desse tipo, ela passa a ser querida pelo cliente. É uma atitude de vanguarda.
Empregos.com.br – O Sr. diz que as empresas são um canal de investimento do talento, e não mais uma compradora de horas de trabalho. É possível saber como, quando e até quando utilizar determinado canal?
Simon Franco – O profissional de vanguarda, ou aquele que quer ser de vanguarda, não está preocupado com emprego, mas sim com carreira. É uma pessoa atraída por empresas que dão oportunidade de aprendizagem e de desenvolver a carreira. No momento em que cai na rotina, está na hora de trocar o canal de investimento. Dispensar um emprego não significa ficar desempregado, mas sim parar de assistir ao mesmo filme e antes que ele chegue ao fim, procurar novidades.
Empregos.com.br – Como aproveitar esse novo cenário – diferenças, autonomia, globalização, mudanças constantes – para procurar emprego? A caça ao emprego mudou?
Simon Franco – Vamos imaginar alguém em início de carreira. É inadmissível, por maior que seja o nível de desespero, aceitar qualquer emprego comodamente, porque vira um círculo vicioso. Se você começa mal, em um emprego ruim, a probabilidade de ter uma vida inteira de empregos ruins é enorme. Então, eu diria que se você está desesperado por comida, coma o que lhe derem, mas continue sonhando com camarão e vinho branco. Hoje carreira é um bem, eu desenho como quero. Não acontece em um dia, é preciso começar e garimpar.
Empregos.com.br – Na era do talento, o que conta para definir uma parceria é a afinidade entre empresa e empregado. Isso significa que “ser competente” não é mais um conceito universal? Eu posso ser competente para uma empresa e não o ser para outra? Qual o parâmetro? Como posso medir meu desempenho e minhas qualidades?
Simon Franco – Todo mundo é competente. O resultado da sua competência é que vai aflorar mais em determinados ambientes, diante de fatores específicos. Com isso, a competência é otimizada e a parceria, possível. O problema de alguns profissionais é que abrem mão de suas competências para tentar imitar os outros e seguir o manual do mercado.
Empregos.com.br – Segundo o livro, quem se antecipar aos movimentos, enxergar oportunidades antes delas aparecerem, será vencedor, enquanto os outros ficarão esperando um novo manual, novas regras para seguir. Que tendências o Sr. vê para os próximos tempos? Que tipo de oportunidades pretende agarrar?
Simon Franco – Eu sinto que a atividade de executive search mudou pouco nos últimos 60 anos. As empresas medianas nivelaram-se às boas, principalmente por causa do acesso à tecnologia. Eu vejo que é preciso abrir novos leques, como o aconselhamento para board de diretores – o que também é uma opção para subir o nível novamente. Outro nicho fundamental, no qual estamos investindo, é a internet. Os processos eletrônicos estão cada vez mais comuns e a gestão de Recursos Humanos via web significa reduzir preços, além de agilizar o processo.

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