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por Camila Micheletti
Atuando desde 1959 com Recursos Humanos, Laerte Cordeiro conhece como poucos a dinâmica das organizações e a gestão de pessoas em geral. É economista e administrador, com mestrado em Administração de Empresas e cursos de especialização em Administração Geral e Recursos Humanos nas Universidades de Harvard, Stanford e Michigan State. Desenvolveu sua carreira como professor da Fundação Getúlio Vargas e Diretor de Recursos Humanos de Grupos Empresariais. Também é conselheiro da APARH – Associação Paulista de Administração de Recursos Humanos, membro do Conselho Editorial da Revista Gestão Plus/RH em Síntese e é especialista de Busca do Emprego do Empregos.com.br. Há 20 anos no comando da Laerte Cordeiro Consultores em Recursos Humanos, Laerte é referência no meio para assuntos de outplacement, recolocação de executivos e profissionais e aconselhamento de carreiras. Confira, nesta entrevista ao Empregos.com.br, a opinião do profissional para o ano que chega e o que o executivo brasileiro pode esperar em se tratando do novo governo, contratações e áreas promissoras do mercado:
Empregos.com.br – Como foi o ano de 2002 para o executivo brasileiro?
Laerte Cordeiro – Para sabermos o que aconteceu este ano é preciso voltar um pouco atrás, no ano 2000, que foi um ano excepecionalmente bom, em virtude da bolha da internet e centenas de outros fatores que fizeram a oferta de empregos subir 40%, um número ótimo. Em 2001, todos imaginavam que este crescimento iria permanecer, seria algo duradouro, mas aí vieram alguns acontecimentos inesperados, como o acidente com a Plataforma P-36, da Petrobras, o apagão, a queda das torres do WTC e a crise argentina. Foi um ano muito atípico e que derrubou todas as nossas expectativas. As empresas pararam as contratações e, com isso, os executivos tiveram bem menos ofertas de emprego neste período. Como era de se esperar, o ano de 2002 começou mal e terminou na mesma, talvez um pouco melhor. Houve uma pequena melhora em março, mas logo piorou de novo, em virtude da incerteza gerada pelas eleições e uma possível guerra dos Estados Unidos com o Iraque. Hoje, já podemos ver alguma luz no fim do túnel, temos um panorama relativamente bom do ponto de vista político.
Empregos.com.br – Quais são as suas expectativas para o novo governo?
Laerte Cordeiro – O brasileiro é muito otimista por natureza, graças a Deus. Estou com uma expectativa muito boa porque parece que a fase ruim está passando, o dólar já começou a abaixar, assim como o Risco Brasil e as pressões internacionais. A tendência é que melhore ainda mais, principalmente a partir do próximo ano.
Empregos.com.br – E o que você espera para o ano de 2003?
Laerte Cordeiro – Esperamos uma pequena melhora. A verdade é que, todo e qualquer empresário, quando está assustado e com medo do que ainda está por vir, não contrata gente de peso. Todos estão muito preocupados e receosos com os acontecimentos dos últimos dois anos, o que prejudica a contratação de profissionais de nível executivo, como gerentes, diretores e presidentes.
Empregos.com.br – Mesmo com esse desaquecimento do mercado, quais seriam as áreas mais quentes e promissoras para os executivos?
Laerte Cordeiro – Como a preocupação com redução de custos é alta, pode ser que o gerente e diretor financeiro adquira um importância maior neste cenário atual. Em compensação, havendo uma melhora, mesmo que pequena, profissionais de todas as áreas, em especial quem atua com produção, engenharia e marketing já podem começar a vislumbrar uma oportunidade, já que são setores altamente estratégicos para qualquer empresa, em qualquer ramo de negócio. A expectativa é que as vagas comecem a surgir depois de março, mas o ideal é que os executivos já mandem seus currículos agora, para já estarem competindo a partir de janeiro. Lembrando sempre que o tempo de espera por uma vaga para profissionais mais seniores gira em torno de 6 a 8 meses, que é uma média normal do mercado.
Empregos.com.br – Esta semana acontece em São Paulo um dos eventos mais importantes do mundo para os executivos, a ExpoManagement. Quais as suas expectativas para este evento? O que senhor espera ver lá de novidades e tendências?
Laerte Cordeiro – Eu acredito que a grande tendência de hoje no mercado corporativo é falar de gente, da importância que o fator humano vem adquirindo nas organizações, e na minha opinião essa deve ser a tônica do Evento. Este é um tema relativamente novo no mercado, não é da história do management falar de pessoas. Há uns cinco anos que o tema começou a ser visto como realmente importante e estratégico, já que os valores e competências dos profissionais que vão determinar o sucesso da organização. Agora que os executivos estão começando a entender este conceito. Sai a fase da engenharia e dos processos, entra a era do valor humano e das competências individuais, sempre pensando no que cada profissional pode agregar para a empresa. Vejo que o Evento pode ser uma ótima oportunidade para colocar este e outros temas em discussão e, claro, fazer muitos contatos.
Empregos.com.br – Quais são as principais dificuldades e falhas do executivo, na sua opinião?
Laerte Cordeiro – Primeiro, ele precisa praticar um pouco mais o que lê e ouve. A quantidade de práticas, tendências e coisas interessantes que ele aprende diariamente, em conversas informais, reuniões, eventos como a ExpoManagement e tantos outros é enorme. Mas quanto disso será que ele coloca em prática, na organização que ele trabalha? Vejo que a culpa não é só dele, porque ao mesmo tempo ele se sente meio perdido entre tantas teorias, as do passado e as atuais. O profissional se sente puxado para a sua formação histórica, que envolve o taylorismo, fortismo e tantas outras teorias que hoje já se encontram um tanto ultrapassadas. Neste sentido, ele precisa ser chamado para o que importa realmente, que são as pessoas. Chega a ser uma coisa até meio catequética, entende? Ele sempre aprendeu a ver as pessoas como um “mal necessário”, e agora tem que saber rever todos os conceitos. É uma mudança a longo prazo e que leva gerações inteiras até você incorporar e praticar de fato o que aprendeu.

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