por Juliana Falcão
Responsabilidade social. Deveria ser uma característica inerente a todo ser humano, se pensarmos que responsabilidade é algo necessário e que somos criaturas sociais. Mas não é. Ainda. Uma das pessoas que está tentando virar esse jogo é Fernanda Dearo, diretora de Marketing Social da Dearo Ética e Cidadania. Sua função é captar recursos e ensinar as instituições beneficiadas a utilizá-los. Atividade relativamente nova, a consultoria social promete gerar um bom campo de emprego nos próximos anos. Saiba mais nesta entrevista que Fernanda Dearo concedeu aoEmpregos.com.br.
Empregos.com.br – Como foi o início da sua carreira?
Fernanda Dearo – Há oito anos fui promotora de vendas da Fundação Abrinc pelos Direitos da Criança, com o objetivo de conseguir doações pra manter a instituição. Fiquei dois anos lá e, durante esse período, peguei muito gosto pelo trabalho. Depois fui para a Laramara (Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual). Durante um ano, trabalhei com projetos de doações, mobilização de empresários e execução de campanhas. Depois voltei para a Abrinc e trabalhei lá por um ano e meio.
Empregos.com.br – O que você fez depois que saiu da Abrinc?
Fernanda Dearo – Na verdade, eu percebi que poderia ajudar diversas instituições. Comecei oferecendo consultoria nas regiões Nordeste, Sul e no interior de São Paulo. O negócio foi crescendo e aí eu montei a Dearo, que existe há um ano e meio.
Empregos.com.br – Fale um pouco mais sobre o seu trabalho de consultora social.
Fernanda Dearo – Meu trabalho consiste em orientar as ONGs (Organizações não-governamentais) para que se profissionalizem e aprendam a captar recursos para se manterem. Eu também procuro empresários, mobilizando-os a fazer parcerias com essas ONGs.
Empregos.com.br – Qual a situação atual do Terceiro Setor?
Fernanda Dearo – Infelizmente ainda convivemos com a “pilantropia”, praticada por ONGs que não destinam seus lucros para fins sociais. Isso é um obstáculo para o desempenho de um trabalho sério. Mas também há muitas organizações realizando um bom trabalho, o que me estimula a continuar buscando recursos.
Empregos.com.br – Por que você resolveu atuar no Terceiro Setor?
Fernanda Dearo – Quando eu saí da Abrinc, fui procurada por pequenas empresas. Sabia o que deveria fazer, mas não encontrava a maneira certa de passar meus conhecimentos para um número maior de pessoas. Assim, montei a Dearo, com a missão de ajudar diversas empresas a captarem os recursos necessários para manterem seus projetos.
Empregos.com.br – Que tipo de dificuldade você enfrenta para realizar seu trabalho?
Fernanda Dearo – A grande dificuldade é que não há uma cultura solidária aqui no Brasil. Falta desenvolver e divulgar essa cultura. É o que eu tento fazer.
Empregos.com.br – Que tipo de empresa você mobiliza para investir no Terceiro setor?
Fernanda Dearo – Empresas de qualquer ramo que tenham consciência de responsabilidade social. As que investem nesse setor recebem diversos benefícios mercadológicos. Isso porque o consumidor prefere as empresas que realizam esse tipo de trabalho. Elas se tornam mais simpáticas aos olhos do consumidor.
Empregos.com.br – A sua profissão já é comum no Terceiro Setor?
Fernanda Dearo – Não, pode-se dizer que ainda é uma profissão rara. As ONGs sentem falta de alguém especializado e com bastante experiência. Os poucos profissionais que atuam nessa área costumam trocar experiências, através da internet e de cursos que eles mesmos ministram.
Empregos.com.br – Qual deve ser a formação do consultor social?
Fernanda Dearo – A pessoa deve ser formada em Relações Públicas ou Marketing. É bom que faça também um curso de capacitação sobre a área. Mas, na verdade, o que forma atualmente o profissional é a prática. Acredito que, em breve, serão abertos cursos de graduação para o Terceiro Setor.
Empregos.com.br – Qual a média salarial para profissionais do Terceiro Setor?
Fernanda Dearo – Nessa área, estagiários e trainees ganham de R$ 500 a R$ 1.500. Algumas empresas fornecem prêmios e planos de carreira, o que faz com que o salário aumente gradativamente, mas isso varia muito. Profissionais com bastante experiência exigem valores bem mais altos.
Empregos.com.br – Quais as dicas que você fornece às empresas que querem investir no social?
Fernanda Dearo – A dica que eu dou é que invistam sempre nesse ramo, pois isso traz inúmeros benefícios para elas. Devem também procurar parcerias com organizações idôneas, ou seja, que prestam contas ou que possuem auditoria é fundamental.
Empregos.com.br – E para as pessoas que querem seguir a mesma profissão que a sua?
Fernanda Dearo – Elas devem gostar do que fazem, aprender a escutar muitas vezes a palavra “não”, possuir muita dedicação e criatividade. Quem pretende seguir esse caminho não deve desistir diante das dificuldades. O resultado do trabalho é muito gratificante.
Empregos.com.br – Como você vê o futuro do Terceiro Setor?
Fernanda Dearo – Esse é o ramo que mais cresce atualmente e ainda tem muito para crescer. Atualmente há cerca de 220 mil ONGs espalhadas pelo Brasil. Daqui a alguns anos, esse número tende a dobrar. Isso fará com que o mercado necessite de profissionais cada vez mais dispostos e interessados em valorizar o Terceiro Setor.