Carreiras | Empregos

por Juliana Falcão
Não adiantou fazer promessas para São Pedro e nem colocar a culpa no governo. O racionamento está aí!
E com ele uma grande dúvida: Como ficam os empregos? As empresas conseguirão se adaptar e reduzir turnos sem precisar enxugar seus quadros de funcionários?
Depende do ponto de vista. Há quem esteja otimista e até tirando proveito da situação. É o caso da Rayovac, líder do mercado brasileiro de pilhas e lanternas. Fernando Faria, diretor comercial da empresa, diz que a insegurança proporcionou o aumento de vendas para algumas empresas. “Acredito que as vendas cresçam entre 50% e 60%”, revela.
Há dois anos a empresa investe na instalação de geradores de energia em suas fábricas de Jaboatão dos Guararapes e Ipojuca, ambas no Estado de Pernambuco. Faria prevê que o emprego dos 700 funcionários não será ameaçado. “Se a situação piorar, podemos ter mudanças de turnos, mas não demissões”, garante o diretor.
A Officenet, empresa de comercialização de materiais elétricos para escritório, limpeza e prestação de serviços, aumentou suas vendas de estabilizadores em 190%. Os itens para back up – zips e CDRs – e as baterias, pilhas e velas apresentaram vendas 40% superiores com relação a agosto do ano passado.
“Apenas 10% das empresas médias brasileiras possuem geradores. Assim, procuramos conscientizá-las sobre a importância desse utensílio e oferecê-lo como forma de prestação de serviço”, revela Marcílio Pousada, vice-presidente da Officenet.
Com nove meses de atuação no país, a Officenet possui sete mil clientes cadastrados e uma equipe de 210 vendedores. Sua expectativa para 2002 é alcançar a meta de 60 mil clientes cadastrados com um faturamento de U$S 50 milhões anuais. Para isso, a empresa contrata cerca de 20 funcionários por mês. “Buscamos pessoas graduadas e com experiência comercial para trabalhar com venda ativa”, explica Marcílio.
Contratações à vista
Segundo a Adecco – Top Services, agência de empregos que atua no segmento de trabalho temporário, houve um crescimento de 5% na demanda por temporários no mês de maio em relação à abril, e 2% em comparação ao mesmo período do ano passado. A expectativa é que em junho essa demanda cresça 5% em relação à maio e 10% em relação a junho do ano passado.
“As empresas vão tentar segurar seu pessoal, antes de pensar em cortes, pois o custo de demitir agora e readmitir mais adiante é muito alto, além do risco de perder profissionais experientes e já treinados”, diz Sergi Riau, diretor-geral da Adecco – Top Services.
Segundo a assessoria de imprensa da Adecco, a procura cresceu na área de tecnologia, pois as empresas procuram profissionais para controlar o racionamento. Além disso, houve também um aumento pela procura de promotores de vendas, vendedores externos e fabricantes de geradores.
Incerteza
Por outro lado, a crise de energia fez com que as ofertas de emprego no Centro de Solidariedade ao Trabalhador da Força Sindical caíssem 41%. Essa porcentagem refere-se aos setores de pequenas empresas, comércio e construção civil.
Segundo João Carlos Gonçalves Juruna, secretário nacional da Força Sindical, já há propostas para evitar o desemprego. “Instalação de geradores, redução de turnos sem redução de salários e a criação de bancos de horas são alguns dos nossos itens de negociação”, explica.
Juruna, que também é secretário-geral e diretor-executivo do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, diz que as empresas estão num momento de apreensão e não sabem ainda o que fazer. “De acordo com o Dieese, o segundo semestre sempre é melhor que o primeiro. Mas dessa vez, a situação se inverteu. Creio que, com a implantação de algumas medidas, as empresas vão superar essa crise”, acredita.
Confiante na economia do país, Pedro Cordeiro, sócio-presidente da holding de investimentos em tecnologia Eccelera, do grupo venezuelano Cisneros, tem uma visão bastante otimista sobre o assunto e acredita que, “ao invés de demissões, haverá muitas contratações”. “As empresas vão precisar de pessoas para investir em novos projetos para combater o racionamento”, diz ele. “Não há razão para pensar em demissões. Achar que essa é uma forma de racionar energia seria subestimar a capacidade das empresas”, complementa.
Pedro acredita na “solidariedade” do setor empresarial. “Companhias do setor privado que mantêm suas próprias usinas termelétricas e outros tipos de energia para uso próprio poderão passar a oferecer seus excedentes para o setor público”, conta ele.
Para Cordeiro, a economia brasileira não é tão fraca quanto parece. “Basta lembrar do exemplo da Colômbia, que viveu uma situação pior que a do Brasil. Lá, o racionamento se arrastou por mais de seis meses e os “apagões duravam mais de oito horas por dia. Mesmo assim, a Colômbia conseguiu crescer. Em 92, o PIB colombiano era de 4%, em 94 passou para 5,8%”.
Com relação ao e-commerce, Cordeiro também descarta a possibilidade de prejuízo. “As pessoas navegarão em horários alternativos e serão mais objetivas, ao invés de comprar por impulso. Além disso, os sites instalarão geradores para suprir as necessidades dos seus clientes”, diz ele.
A Eccelera já viabilizou oito empresas de tecnologia da informação no Brasil. Com um capital de U$S 100 milhões, a meta é investir em 10 novos projetos brasileiros em cada ano de atividade.
Independente das medidas de contenção de energia, ninguém está livre do apagão. O jeito é ver nessa crise uma forma de aprendizado. “O racionamento veio para conscientizar as pessoas. Muitas empresas não estão acostumadas a economizar energia e essa crise fará com que os funcionários reavaliem suas atitudes dentro das empresas e elas reavaliem seus gastos com energia. Assim, o dinheiro economizado poderá ser investido em outros projetos”, afirma Marcílio Pousada, vice-presidente da Officenet.

Prevenção é o segredo
Após uma fase de grandes investimentos no setor de energia, que durou de 1980 até 1987 – período em que a soma do valor aplicado chegou a U$S 26 bilhões -, o governo brasileiro tirou o assunto de suas prioridades. Na década de 90, foram liberados U$S 6 bilhões para a modernização dos sistemas de geração de energia elétrica e em 2000, apenas U$S 3 bilhões. Enquanto a capacidade de geração de energia cresceu 119% no ano passado, o consumo aumentou 165%.
Algumas empresas, preocupadas com a redução dos investimentos e com o possível colapso, adotaram medidas de contenção já há algum tempo, e agora estão prontas para garantir o emprego de seus funcionários.
É o caso da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). Segundo a assessoria de imprensa, as medidas de contenção da empresa, que envolvem horários de funcionamento do ar condicionado, dos elevadores e das luminárias, apenas foram intensificadas para que a meta do racionamento fosse atingida. A empresa não vê necessidade de demitir profissionais para cumprir as exigências do governo.
O Grupo Pão de Açúcar também intensificou hábitos que já faziam parte da rotina das empresas. Racionando energia desde 1998, as redes Pão de Açúcar, Barateiro, Extra e Eletro economizaram energia suficiente para iluminar 145 mil casas. “Essa estratégia, que na ocasião nos proporcionou uma economia de 15%, agora foi intensificada, resultando em mais um corte, desta vez de 22%. Esperamos aumentar esse número ainda mais”, diz Caio Mattar, Diretor de Investimentos do Grupo Pão de Açúcar.
A Alcoa, líder do mercado brasileiro de alumínio, investe na geração de energia própria desde 1995, quando o governo brasileiro concedeu às empresas permissão para construir hidrelétricas. Ao longo desses anos, a empresa aplicou U$S 256 milhões em dois consórcios no Sul do país. Novos consórcios da Alcoa aguardam leilões previstos para este ano, visando a ampliação da capacidade de gerar energia elétrica e o abastecimento de suas unidades localizadas nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste no Brasil. Ao todo, a empresa será capaz de produzir 70% da energia que consome, o que deixa seus funcionários numa posição segura com relação aos seus empregos.

 

Avalie:

Comentários 0 comentário

Os comentários estão desativados.