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Colunista: Eduardo Bom Angelo – Advisory Partner da Havik
 
Os versos de Paulinho da Viola ensejam uma viva reflexão sobre o papel dos gestores no ambiente da mudança. Em primeiro lugar, fica evidente que todo navegador vai enfrentar, aqui ou ali, hoje ou amanhã, um nevoeiro, uma tempestade, uma nevasca. No entanto, a impressão que se tem é de que os períodos de calmaria são cada vez mais raros e curtos. Há sempre uma urgência, algo a ser prontamente remodelado, refeito e reconstruído.
O problema, disse certa vez o guru Peter Drucker, “é que a maior parte das pessoas não consegue se adaptar a esse regresso da história a seu curso normal, isto é, o curso da turbulência”.
Ora, mas se a tempestade é a regra, terei de mover-me sempre com lentidão? Levar o barco devagar significa conduzi-lo com segurança, com habilidade, utilizando as ferramentas adequadas, tirando proveito do conhecimento. O importante é manter a embarcação em movimento. O “velho marinheiro” não adota como regra o refúgio no porto. Ele segue, reinventando meios.
Na minha carreira como gestor, percebo claramente que a iniciativa renovadora, cinética e diariamente reoxigenada é a única capaz de manter vivos e saudáveis os organismos organizacionais produtivos. Empreender internamente tem sido uma obrigação para quem precisa enfrentar as contingências de uma aventura no mundo dos negócios. Se há instabilidade, a ação de reciclagem tem sua importância multiplicada. O ato de empreender é muitas vezes entendido como uma ação externa, que surge do “nada” da ideia para o “tudo” da realidade. Fala-se da criação de uma nova empresa, da montagem do business plan, dos registros legais, da formação da equipe, da abertura de livros contáveis. Enfim, associa-se sempre o empreender à gênese de negócios. Mas, o empreender é um processo necessário também à corporação já consolidada. Seguindo o conceito do economista e pensador Joseph Schumpeter, o empreendedorismo regula-se por ciclos de destruição da ordem vigente e pela criação de novos serviços, produtos e formas de organização. As corporações dinâmicas seguem esse procedimento interno para seguir na boa rota, desviar do iceberg e evitar o naufrágio.
A organização de hoje segue a sina da fênix, que morre e renasce permanentemente. Particularmente, não acredito numa gestão eficiente que prescinda da iniciativa empreendedora. Como bons navegadores, os gestores qualificados sabem mapear. Têm noção de onde estão e para onde vão. Sabem com o que contam: instrumentos, víveres, combustíveis e, sobretudo, reconhecem as limitações e capacidades da embarcação. Além disso, enfrentam desafios quando os demais resolvem recolher velas e desistir. São pessoas que improvisam, criam e inovam durante a travessia. Adotam o plane-fazendo, em que projeto e execução se misturam na simultaneidade. Logicamente, é gente que assume riscos e que tem gosto por isso. Mas eu pergunto: existe economia competitiva sem risco? Não será esta exatamente a natureza do espírito empreendedor, virtude impressa no DNA do capitalismo?
O empreendedor corporativo, aquele que está dentro das empresas, tem hoje de adotar essa postura que mistura competência e valentia. Deve ser capaz de perceber o desafio e a adversidade como companheiros de viagem.
Os novos gestores certamente terão de incorporar o espírito navegador dos intra-empreendedores. Porém, mais que isso, terão de exercer uma liderança capaz de estender esse senso de responsabilidade pró-ativa aos demais colaboradores. Só isso? Não. Toda a cadeia de relações, envolvendo diversos públicos, de fornecedores a clientes devem participar e vivenciar essa experiência.
No entanto, é preciso perceber que tempestades inclementes varrerão os mares pelo caminho. Nesses ambientes de medidas emergenciais, as pessoas não poderão ser geridas no sentido tradicional. Essa força de trabalho somente será útil à organização se souber gerir-se com velocidade e independência, se souber empreender no detalhe. Mas que nau de anarquias é essa? Que tripulação de insensatos é essa? Certamente será aquela de hierarquias reduzidas, tendente à horizontalidade, moldada nas atribuições compartilhadas, em que os marinheiros mais valorizados serão aqueles prontos para a multifuncionalidade. Se você está preocupado em garantir o êxito da viagem, procure conhecer sua embarcação nas minúcias, da quilha ao cesto de gávea, da proa à popa, dos mastros às âncoras, da bujarrona à traquete. Conheça também os corações e mentes a sua volta. Gerir, hoje, equivale a gerir a mudança. Paradigmas alteram-se ao sabor dos ventos. Vale estar atento.
Eduardo Bom Angelo – Sócio da Havik Consulting, Coach, Conselheiro de Empresas, Professor Associado da Fundação Dom Cabral, autor do livro “Empreendedor Corporativo”, Campus, 2003.

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