Carreiras | Empregos

Por João Prado
Demissão. Eis a palavra que assombra e permeia os pensamentos de muitos brasileiros. Em época de uma crise financeira ainda mais. É só comprar o jornal pela manhã, ligar a TV ou abrir os portais na internet que estará lá: “Indústria já demitiu 500 mil neste ano”. Mas a demissão não é algo que atormenta uma classe trabalhadora específica, como se vê nos noticiários. Assim como funcionários “do chão de fábrica”, diretores e gerentes de companhias também sofrem com o fim abrupto de seus empregos. A Sadia, por exemplo, dispensou cerca de 350 profissionais que ocupavam cargos altos, com a justificativa de reestruturação. Isso para citar um exemplo dentre outros. Mas a pergunta que fica nessa hora é: o que fazer para retomar a minha carreira? Uma das profissionais que pode responder essa pergunta é a professora da PUC e especialista em recolocação profissional, Sandra Loureiro. Por telefone, Loureiro, que também é psicóloga formada, concedeu a entrevista ao Empregos.com.br que você lê a seguir, na qual dá dicas de como evitar o pânico e retomar o seu emprego.
Boa Leitura e boa sorte!
Empregos.com.br – Uma pessoa acaba de ser demitida. Nesse momento, como é o processo para se recolocar no mercado de trabalho?
Sandra Loureiro – A primeira coisa que acontece com um profissional que é demitido é ele se questionar em relação à própria capacidade. São criados alguns esqueletos, que viram traumas para essas pessoas. Será que não sou capaz? Essa é a pergunta freqüente que fazem. Nesse momento, o importante é fazer um reconhecimento da trajetória dessa carreira. O profissional precisa saber quais são suas virtudes e também os defeitos. É importante saber quais áreas ele pode melhorar, como o inglês, o relacionamento com os colegas de trabalho etc. Esse reconhecimento da própria trajetória evita que o pânico tome conta, sendo que a maioria das pessoas demitidas acabam perdendo o chão e se acham incapazes.
Empregos.com.br – Como psicóloga, a senhora nota alguns sintomas freqüentes entre as pessoas que são demitidas?
Sandra Loureiro – Algumas pessoas sofrem com a síndrome do pânico, a depressão e até casos em que os profissionais não conseguem se desligar do seu antigo trabalho. Ainda vivem do que fizeram como as conquistas na empresa que o demitiu. Isso é ruim, sendo que ele não consegue dar o passo adiante.
Empregos.com.br – Passado a etapa de reconhecimento profissional, qual é próximo passo?
Sandra Loureiro – Esse reconhecimento ajuda na reformulação do currículo. Digo que o currículo é sua propaganda, é seu marketing pessoal. Acima de tudo, precisa ser um documento que lhe venda bem aos outros. Então ele deve ser reduzido, mas de maneira que possa mostrar toda a sua área de atuação. É importante dizer que essa máxima que diz “que se deve mentir no currículo” é uma grande armadilha. Ao contrário, o melhor é colocar somente o que você é capaz de fazer, até para buscar a sua própria qualificação.
Empregos.com.br – De alguma forma, realizar trabalhos voluntários ajuda no currículo? Isso chama a atenção das empresas?
Sandra Loureiro – Não necessariamente. Depende da vaga que você vai disputar. Se for uma vaga executiva, isso vai importar pouco, sendo que o princípio básico será o domínio de informações e ações do mercado.
Empregos.com.br – No caso da pessoa ser chamada para uma entrevista, como deve ser o comportamento?
Sandra Loureiro – Em primeiro lugar deve-se evitar qualquer tipo de ansiedade e medo nessa hora, o que pode parecer praticamente impossível. Mas o importante é reduzir as chances para o pânico dominar. Coisas básicas ajudam muito, como ir com antecedência para evitar congestionamentos e atrasos, chegar antes para saber qual é o clima da empresa, se é mais formal ou não, desligar o celular etc. A parte visual também é muito importante. Estar bem vestido conta muito e posso dizer que é um fator muitas vezes determinante para o entrevistador. Não se deve estar muito agitado, com pernas balançando ou gesticulando muito as mãos. Isso demonstra insegurança. Essa coisa de olho no olho também não deve ser levada à risca, sendo que existem pessoas tímidas e olhar no olho não significa necessariamente que você é uma pessoa mais verdadeira do que a outra. Basicamente aconselharia estar bem vestido, falar pausadamente, deixar o entrevistador falar e ser direto em seus objetivos.
Empregos.com.br – Em relação a dinâmica de grupo, você teria algum conselho?
Sandra Loureiro – A dinâmica serve exclusivamente para detectar como é o relacionamento entre os candidatos. Nessa hora, o profissional responsável pelo recrutamento vai estar atento à arrogância, à simpatia, à maneira de como a pessoa ouve e pede atenção para falar e coisas desse tipo. Posso dizer que numa dinâmica todos estão com dez pontos e podem manter essa nota ou abaixá-la. O ideal é pensar assim, até para cometer o mínimo de erros possíveis.
Empregos.com.br – Entre um diretor demitido e funcionário de chão de fábrica, as dificuldades para se recolocar no mercado são as mesmas ou não?
Sandra Loureiro – Sim. Os dois vão enfrentar as mesmas etapas, como revisão da própria trajetória, construção do currículo, entrevistas etc. Mesmo que em ‘andares diferentes’, os profissionais passam pelos mesmos processos. Inclusive os medos e traumas são os mesmos também.
Empregos.com.br – Parece que estamos numa época de pânico com as demissões, até por conta da crise financeira. De alguma forma é um momento diferente também para profissionais como a senhora, especialista em recolocação profissional?
Sandra Loureiro – Claro que os efeitos da crise são visíveis no mercado de trabalho. Mas penso que já existiram outras crises, que foram ultrapassadas pelas empresas. Por exemplo, o 11 de setembro. Entre outras coisas, os atentados atingiram a economia dos EUA e o centro econômico mundial. Houve pânico de recessão imediata, mas as companhias se mantiveram sólidas e as oportunidades de emprego não desapareceram. Acho que a atual crise deve ser encarada da mesma maneira, com precaução, mas também como possíveis oportunidades que aparecem. Crises sempre irão existir, mas o importante é saber que historicamente as pessoas e empresas passam por elas. Isso é um pensamento geral, que não inclui e exclui ninguém.

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