Por Gisèle de Oliveira
Geraldo Barbosa entrou na Becton Dickinson em 1981 como auxiliar administrativo, cargo carinhosamente também conhecido por office boy. Hoje, ele é “simplesmente” o presidente da companhia. Nesses 25 anos que passaram, Geraldo aprendeu muito e nunca deixou de acreditar e apostar em seu talento e atualmente serve de modelo e inspiração para seus funcionários. “Nosso modelo de gestão é criar espaço para que talentos apareçam e tenham sucesso, é conseguir o melhor das pessoas. É bom fazer algo que sirva de exemplo para alguém, que sirva para o sucesso de outra pessoa. O sucesso de meus funcionários é que vai levar ao meu sucesso”, diz o presidente.
Nesta entrevista especial que concedeu ao Empregos.com.br , Geraldo conta um pouco de sua trajetória. Confira e inspire-se com a história desse homem que ao receber os agradecimentos por ter conversado conosco respondeu da seguinte maneira: “Foi um prazer, porque raramente tenho a oportunidade de falar sobre mim. Se esta entrevista servir para ajudar uma pessoa que seja, já terá valido a pena”. Esse é Geraldo Barbosa. Boa leitura!
Empregos.com.br – Como foi o seu início?
Geraldo Barbosa – Em 1981, ao entrar na faculdade, ESAN (Escola Superior de Administração de Negócios), achei que era o momento de conseguir um emprego e comecei a buscar uma vaga. Fiz testes na BD (Becton Dickinson) para auxiliar administrativo de vendas, que na verdade era office boy, e no banco Itaú para o mesmo cargo. Fui selecionado para os dois, mas nunca fui forte em estatística e matemática e também não conseguia ver o meu futuro numa instituição como um banco era naquela época, que era muito diferente do que é hoje.
Empregos – O que o levou a escolher a Becton Dickinson?
Barbosa – Tinha a convicção de que não teria sucesso numa atividade bancária. Sempre gostei de ter espaço para criatividade.
Empregos – Como foi o seu crescimento dentro da empresa?
Barbosa – De 1981 a 1984 trabalhei como auxiliar administrativo. Em 1984 tive a oportunidade de ir para a área de vendas, atuando também em marketing. Foi uma grande escola para mim, não só em vendas, mas para poder entender a mecânica da geração de valor. Em 1986 fui promovido a gerente de treinamentos de vendas, tinha 23 anos na ocasião e coordenava os técnicos e enfermeiros que davam o curso de coleta de sangue. Dois anos depois, em 1988, me tornei gerente de produtos e era responsável por vários aparelhos como estetoscópio, passando por anestesias até agulha odontológica. Nessa mesma época comecei a estudar Inglês, porque até então não falava nada. Depois passei para gerente de produtos voltados para diabéticos. Em 1990 fiquei sete semanas nos Estados Unidos, fazendo integração com a equipe de lá e aprendendo, fazia parte do time mundial para diabéticos. Fui transferido para a área de pré-analítico, incorporando novas linhas de diagnósticos. De 1990 a 2001 tinha responsabilidade além fronteiras, em 2002 me tornei gerente geral do País e no dia 5 de junho de 2003 fui nomeado presidente da BD.
Empregos – Como foi aprender Inglês aos 26 anos?
Barbosa – Sabia que era algo importante para o meu futuro, para o meu crescimento e era algo que eu queria conseguir. Foi difícil, mexe com toda a questão da autoconfiança, mas você estabelece a confiança novamente e segue para onde quer ir. A primeira vez que fui aos Estados Unidos, já estudando e achando que sabia alguma coisa, logo no avião não entendi nada que os comissários falavam. Então é preciso achar força dentro de você, com muito sacrifício pessoal, para chegar ao nível que dê para manter uma conversa. Até hoje me dedico a isso, assisto filmes sem legendas, vejo noticiário internacional para manter o bom nível.
Empregos – Quais características suas você acredita que tenham contribuído mais para esse desenvolvimento?
Barbosa – Espírito e criatividade para enfrentar o novo. Sempre me predispus a enfrentar o novo. No Brasil, acabamos vivendo uma instabilidade constante e se você não estiver preparado para enfrentar o novo, o desafio, não tiver criatividade e iniciativa acaba ficando para trás.
Empregos – Qual foi seu grande desafio e qual é o maior atualmente?
Barbosa – O meu maior desafio é estar sempre me aprimorando. No começo, como presidente, tive que mostrar o caminho para as pessoas. Com nosso quadro econômico é sempre um desafio conseguir que as pessoas enxerguem à frente. Procuro envolver as pessoas nos projetos, escutar as principais opiniões, quero que os funcionários sejam participativos.
Empregos – Quais são as características que você acha que uma pessoa deve ter para obter sucesso profissional?
Barbosa – No início, é uma questão de autoconfiança. Falo da autoconfiança porque normalmente quem vem de uma camada com mais recursos tem essa confiança mais desenvolvida, mas é preciso entender e acreditar que mesmo não vindo de uma camada com grandes recursos você tem condição de oferecer o melhor para qualquer empresa. É possível vencer. É mais difícil, claro, mas é possível. Temos que nos esforçar mais, ter muita autoconfiança, mas isso estabelece um padrão para a vida toda.
Empregos – Qual é o seu estilo de liderança na BD?
Barbosa – Nós trabalhamos de uma forma tranqüila, almoçamos no mesmo lugar, faço perguntas, vejo pessoas talentosas despontando, chamo para tomar um café. Essa proximidade me trouxe informações importantes. Tenho que estar aberto a ouvir o que não gosto.
Empregos – Por ser o presidente da empresa e por toda a sua história você acaba servindo de modelo para muitos funcionários. É difícil lidar com a pressão de ser um modelo para muitas pessoas?
Barbosa – Nosso padrão, nosso modelo de gestão é criar espaço para que talentos apareçam e tenham sucesso, é conseguir o melhor das pessoas. Por isso, prefiro olhar por outro ângulo: como é bom fazer algo que sirva de exemplo para alguém, que sirva para o sucesso de outra pessoa. O sucesso de meus funcionários é que vai levar ao meu sucesso. É muito bom olhar dessa forma, assim não se torna um peso para mim.
Empregos – A ética é um valor que vem sendo bastante comentado e questionado nos últimos tempos. Qual é o papel dela na sua vida pessoal e profissional e na própria empresa?
Barbosa – Não busco a perfeição, mas acredito que a ética está acima das leis e da moral da sociedade. Um ato pode ser antiético mesmo que seja moralmente aceito pela sociedade ou que não exista nenhuma lei contra ele. Uma regra de ouro é: não faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem a você. Procuro me pautar por esse caminho.
Empregos – Muitos presidentes de empresa não conseguem conciliar vida pessoal e profissional, você consegue manter um equilíbrio entre elas?
Barbosa – O equilíbrio entre a vida pessoal e profissional é muito importante e é um desafio constante. Tenho mantido uma constância com meus filhos e procuro entender o que eles querem e não o que eu quero. Nem sempre é possível, eventualmente alguma coisa escapa, mas a importância de conseguir esse equilíbrio é total. Aprendi que a qualidade do tempo que você passa com o seu filho é mais importante do que a quantidade.
Empregos – Quais dicas e conselhos você daria para quem ainda está estudando ou em início de carreira e almeja ter sucesso profissional?
Barbosa – É importante ter visão para onde você quer ir, arrumar coragem para seguir em frente. Além disso, tudo o que você faz tem que fazer sentido, para que tenha uma razão de ser. Sei que no início existem dilemas e questionamentos, mas não acho que a pessoa deva se alienar em certas questões e se prender a elas. Tem coisas que são impossíveis. É preciso ser modesto e pragmático, porque mesmo você tendo vencido em muitos momentos, pode perder em outro. É preciso buscar razão e motivo naquilo que está fazendo, porque muitos fatores podem ocorrer e você tem que estar pronto para dar a volta por cima. Nossa sociedade hoje é levada, em parte, a acreditar que alguém vem e resolverá todos os problemas, fica esperando as soluções caírem do céu. Quando é você que abre o seu caminho, essa decisão é individual.
De office boy a presidente
Geraldo Barbosa , presidente da Becton Dickinson, começou num cargo simples dentro da empresa, mas sua força de vontade, talento e autoconfiança o levaram à presidência da companhia
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