Por Priscila D’Amora
Já ouviram a expressão self made man ? Pois então, ela cabe como uma luva para o presidente da Flytour, Elói D’Ávila
Por três anos consecutivos, a Flytour foi posicionada como a maior emissora de passagens aéreas da América Latina. Resultado de muita dedicação e amor ao trabalho.
A Flytour é uma das mais importantes corporações áreas do turismo do País. É a maior emissora de bilhetes aéreos da América Latina, atendendo cerca de 4.000 agentes de viagens. Possui uma força de trabalho composta de 1.000 colaboradores distribuídos nas suas 142 unidades de negócios em todo o País.
Acompanhe esse bate-papo descontraído em que Elói D ‘Ávila fala sobre sua vida, trajetória e como ganhou um dos mercados que mais promete no Brasil.
Empregos.com.br – Conte um pouco sobre sua trajetória?
Elói D’Ávila – Eu sou órfão de pai e mãe, 15º filho, fui doado a uma irmã mais ou menos aos dois anos e pouco de idade. Depois, aos 8 anos minha irmã fez uma caixinha de tabletes de marmelada e goiabada para que eu começasse a vender. Aos 8 anos e meio, eu fugi pela primeira vez de casa e vim parar aqui em São Paulo. Arrumei um emprego na estação rodoviária em uma empresa de malas, em que eu entregava as malas para quem fazia compra – normalmente as pessoas chegavam, compravam as malas e iam paras os hotéis. Aos 12 anos de idade eu conheci dois amigos, um com 16 anos e outro com 14, e fui para o Rio de janeiro. O nosso sonho no Rio de Janeiro era casar com uma mulher rica, isso não aconteceu (risos). Fiquei doente no primeiro dia, dormirmos oito horas na praia e eu peguei uma insolação, fiquei 14 dias doente. Depois nós fugimos de uma pensão em que estávamos hospedados, pois não pagamos e fomos para Copacabana então realizar o grande sonho da vida da gente. Mas no fim eu lavei e guardei carro em frente ao Copacabana Palace um bom tempo, até que eu conheci um guia turístico da Estela Barros que me levou para lá e me apresentou para a própria vovó Estela. Fui ser office boy dela, depois de um bom tempo ela descobriu que eu era moleque de rua, que eu não tinha onde ficar, e ela me deixou dormir na agência em um sofá de dois lugares – por isso que hoje eu tenho 168 agências de viagens e um sofá de dois lugares. E de lá para cá eu me engajei, ela gostou muito do meu trabalho e fui entrando.
Empregos.com.br – Como começou sua ascensão profissional e o surgimento da Flytour?
D’Ávila – Eu consegui um emprego na Bradesco turismo na estação rodoviária como fiscal da plataforma. Trabalhei nas linhas aéreas paraguaias como vendedor e fiquei na Bradesco até 1971. Logo em seguida fui promovido a gerente de vendas e aos 24 anos eu já abria a Flytour. No começo abri a Flytour como EDO representações. Eu representava companhias aéreas, inclusive a linhas aéreas paraguaias. Depois eu comecei a representar outras empresas como Ibéria, Aerobolivianas, Aerolineas Argentinas, Lanchile e, ao longo do crescimento até 1979, eu ainda era representante de companhias aéreas que eles chamam de GSA ( General Sales Agents).
Empregos.com.br – Você teve alguma formação acadêmica, como aprendeu a lidar com esse mercado?
D’Ávila – Como você percebeu, eu não fui à escola. Fugi da escola com 8 anos e meio e nunca mais voltei. Então, minha escola foi o mundo, e eu me firmei muito nas três coisas que levo muito em consideração, peopleware, hardware, software. Sem as pessoas, a gente não faz nada, as empresas não existem, quem existe realmente são as pessoas, elas que fazem as empresas.
Empregos.com.br – Como você mede sua gestão?
D’Ávila – Os grandes executivos usam do que chamamos de recompensa, que nós chamamos aqui de bônus, isso gera um bom progresso, desde que esses bônus não sejam mentirosos. É muito difícil você ser verdadeiro em um país como esse em que há uma falta de transparência muito grande, em que você é obrigado a fazer coisas que não gostaria, eticamente falando, para que você seja um empresário. Então é difícil você lutar, fazer as coisas corretas e a concorrência não ser correta, e mesmo assim você ter que ir para a casa à noite. Mas no outro dia você vê a recompensa, ao longo desses 32 anos de Flytour, eu cresci muito por causa dessa transparência. Normalmente não deixo nada na manga, eu falo a verdade, conto exatamente os meus pontos fracos e meus pontos fortes para os meus clientes, isso me ajuda muito, esse equilíbrio de 50% voltado para o cliente 50% voltado para o meu negócio. Então, a primeira coisa que faço é levar o colaborador para esse equilíbrio de 50% e fazer com que ele conheça uma coisa chamada foco do cliente e não foco no cliente.
Empregos.com.br – O que seria esse foco do cliente?
D’Ávila – O foco do cliente está em você customizar o processo do cliente junto ao seu, trazer as necessidades dele e colocar dentro do seu sistema, seja eletrônico, manual, escrito, falado, ditado, não importa! Você tem que fazer o que o cliente entende como o melhor para ele e esta é a balança que eu falo dos 50%. Muita gente fala assim: eu trabalho para a minha empresa – então o seu cliente é um insatisfeito. Você precisa trabalhar para o cliente e não trabalhar para os fornecedores, a maioria das empresas na minha área trabalhava para os fornecedores, tinha medo da Varig, TAM, Transbrasil, Gol, não tem que ter medo não, tem que ter medo do cliente, ele é que paga o nosso salário. Eu não trabalho para os meus fornecedores, trabalho para os meus clientes, eu customizo o processo de relacionamento e as oportunidades que eu tenho para entender as necessidades dos nossos clientes.
Empregos.com.br – Qual é o papel do colaborador na Flytour?
D’Ávila – Então, na Flytour em primeiro lugar vem o funcionário, em segundo lugar vem o cliente e talvez em terceiro ou quarto venha o fornecedor. Eu cuido muito do ambiente de trabalho. Fornecemos uniformes, nós não somos uma multinacional, nem uma grande empresa ainda, mas temos um faturamento razoável na nossa área, talvez sejamos considerados hoje a maior agência da América Latina em termos de volume de processos de bilhetes aéreos emitidos. O que mais a gente recomenda para o colaborador é o aprendizado. Nós temos uma academia de ensino aqui na qual mostramos que hoje é importante ter conhecimentos. Por exemplo, todos têm uma planilha de Excel, um Office, um Windows, um conhecimento grande em hardware, software. Eu normalmente “sento no colo” do meu colaborador, para ele entender o quanto eu tenho a necessidade que ele cuide do nosso cliente, porque é ele quem realmente paga o nosso salário.
Empregos.com.br – Qual a estrutura e como funciona o seu regime interno? Como você administra as eventuais crises do setor?
D’Ávila – Nós somos em 1350 funcionários e eu nunca paguei salário, aliás, quando eu precisei pagar, em resultado das guerras ou bombas que jogam por aí no mundo e que conseqüentemente nosso negócio cai, já que a primeira coisa que as empresas cortam são as viagens para economizar, eu tive ajuda. Teve uma época, nos anos 1970, que alguns funcionários emprestaram dinheiro para eu pagar os salários deles, porque eu não tinha dinheiro, a gente sempre fala que quem paga o nosso salário é o cliente. Lá em Alphaville eu tenho um tubarão de 5 metros de cumprimento que entra pelo teto do nosso restaurante, porque isso prova que o tubarão é o predador, é a concorrência, é o mau exemplo interno que a gente pode dar a nós mesmos. Hoje o que realmente se busca é a melhor forma de fechamento de um negócio, é a verdade e não a mentira, porque ela amanhã aparece e você perde o cliente.
Empregos.com.br – Como vocês investem na divulgação, com tantas empresas do mesmo segmento?
D’Ávila – Nós nunca fizemos publicidade, o nosso marketing é o nosso cliente. O endomarketing para gente é muito importante, pois é fundamental que o colaborador esteja familiarizado com o processo e sinta o DNA da empresa, conhecendo nossos processos e que esteja determinado, capacitado e comprometido.
Empregos.com.br – Como você lida com a rotatividade de funcionários, problema muito comum dentro das empresas hoje em dia,?
D’Ávila – O turnover é muito baixo na Flytour. Eu odeio mandar gente embora, prefiro discutir com a pessoa a mandá-la embora. O investimento que se faz tanto meu quanto dele no processo é muito grande e ele indo embora corre o risco de ainda trabalhar na concorrência. Só para você ter uma idéia, toda nossa diretoria tem mais de 25 anos de casa, todos nossos gerentes tem mais de 15 anos e assim nós crescemos. Um exemplo é o Domingos, diretor corporativo há 28 e que começou como office boy , eu brigo com ele e ele comigo, mas ok, nós vamos continuar trabalhando juntos. As empresas quebram na maioria em seu primeiro ano e os casamentos até o segundo ano, você imagina colocar um Domingos na rua e trazer outra pessoa que eu só vou ter aqui depois de dois anos com o DNA da empresa incorporado. É uma perda de tempo, eu prefiro xingar o desgraçado (risos) e ele me xingar, mas nós trabalharmos juntos, essa é uma visão que eu tenho. Isso saiu das ruas para mim, porque eu tinha muitos pais, todo o dia alguém que me pegasse na rua no outro dia eu já tinha que chamar de pai, mas ele não tinha o DNA do meu pai, ele só fez uma caridade muito grande, que eu reconheço.
Empregos.com.br – Quais as características que você acredita que o futuro colaborador precisa ter?
D’Ávila – Primeiro, nós estamos abrindo um curso bom de gestão, você precisa ter uma gestão na sua vida particular, nos seus horários, um gerenciamento melhor profissional, e o que eu busco hoje são gestores. Eu não cuido dos processos, eu os crio, eu os motivo para encontrar os seus resultados. Então, pelo o que estou brigando hoje é por pessoas que tenham a capacidade de gerar resultados. E como é que você faz isso? A primeira coisa é não ser um medroso, a gente não pode ter medo da vida, senão ninguém sairia na rua, você precisa ser mais negociador e isso consiste em negociar com seus preconceitos, com suas atitudes, com seu ego, principalmente o ego em um país pobre como esse que tem um monte de gente com um ego exagerado. As pessoas estão loucas, e você vai encontrar ego em uma favela e também vai encontrar ego no meio de uma sociedade altíssima no Brasil. O primeiro ego a vencer é o seguinte: quando a porta abrir, entre; se você não entrar, seja por causa do seu namorado essa noite, seja por causa do seu fim de semana, você não vai encontrar nunca os seus resultados. Quando eu faço minhas entrevistas busco sempre entender se o ego que a pessoa tem é flexível, se ele está com vontade de quebrar esse gelo, se está preparado para atender as necessidades de um cliente. E, se estiver preparado, eu vou investir tudo nele. Nossa visão de futuro é crescer muito mais na missão, é reconhecer que nós estamos alcançando os objetivos dos nossos clientes, mas acima de tudo é oferecer algo diferenciado, é encantar o nosso cliente. E como é que se encanta um cliente? Dando sempre mais daquilo que ele comprou, entregando mais daquilo que ele tinha como expectativa de entrega do bilhete aéreo. Existem aqueles que ficam chorando e se perguntando o que o “fulano” fez para conseguir tal posição e etc., muito simples: ralou um pouco mais, entendeu um pouco mais, foi mais humilde, perdeu um pouco o ego. Eu lavei muita louça, areei muita panela, lavei chão, vendi muito pastel, porta vaso, carnê do Silvio Santos, páginas amarelas, eu fiz tudo o que você possa imaginar, trabalhei em padaria na porta do forno, em peixaria de madrugada, em beira de porto, em caminhão da Coca-Cola, assentei tijolo, enfim, na minha vida isso não é ego, isso é oportunidade. De todas aquelas portas que se abriram, em uma delas eu falei é isso que eu gosto e continuei.
Empregos.com.br – Quais as ferramentas necessárias para vencer nesse segmento?
D’Ávila – Falta filosofia empresarial, governamental, familiar, educacional, é complicadíssimo, mas eu vejo isso como uma oportunidade. Todas essas falhas, e talvez eu tenha crescido por isso, pode parecer inoportuno se aproveitar delas em um primeiro momento, mas isso quando você é negativo, quando você torce pelo jacaré, aí você fecha a sua cabeça. Eu vejo isso como oportunidade, como nicho, então eu cresci nesses nichos na minha área, vendo que faltava alguém que vendesse para as agências de viagem, vendo que alguém não estava atendendo bem as empresas, alguém não cuidava muito do recurso humano dentro das organizações e tudo o que eu aprendi de ruim eu não trouxe para a minha organização.
Empregos.com.br – O que trouxe para sua organização?
D’Ávila – Eu trouxe o bom, eu também devo ter um monte de coisas erradas aqui, mas eu acho que se me chamarem a atenção eu consigo voltar, não é me ajoelhar, mas é olhar para o pé e não só para cima. Gostar. As pessoas precisam gostar do que fazem, então se eu não tivesse essa porcaria desse vestibular, talvez eu passasse em um que eu realmente quisesse e não fazer escolhas por pressão da família e etc.
Empregos.com.br – Qual a importância de se fazer o que gosta. E como ser recompensado por isso?
D’Ávila – Então, se você tiver infra-estrutura você começa achar os artistas naquilo que ele gosta, vou te dar um exemplo: meu filho mais velho é piloto, ele trabalha na Gol e ganha uma mixaria, mas ele faz o que gosta, então, se eu estudar naquilo que gosto, trabalhar naquilo que eu gosto, se eu viver com quem eu gosto, morar no lugar que gosto, o dinheiro vem vindo, ele vem na medida em que você vai sendo mais feliz, me mostre um rico feliz, se você achar um rico feliz traz aqui que eu te dou 1 milhão de reais (risos). A felicidade vem da realização e não do dinheiro, ela vem do conhecimento e da capacidade e não do status. Existem cantores, artistas e empresários pequenos e médios que são mais realizados e felizes do que os grandes cantores. Você pode ver que os grandes artistas são muito infelizes, são sozinhos na sua maioria, então isso mostra que fazer o que gosta é o mais importante e as pessoas não estão conseguindo se realizar nesse momento porque vão para uma faculdade que elas não querem. Fazer aquilo que se gosta vai resultar em uma remuneração eficiente, então o segredo de tudo está em brigar com tudo e todos, mas vai fazer o que gosta, porque a única felicidade é esta, comercialmente falando.
Empregos.com.br – Como avalia a indústria do turismo no Brasil?
D’Ávila – Bom, eu acho que a indústria do turismo nesse momento ainda não existe no Brasil, ela não nasceu ainda. Movimentamos em termos de volume, número de cliente, número de viajante, o que os Estados Unidos movimentam na semana de ação de graças. Os EUA recebem mais de cinco milhões de turistas por ano, a Espanha já está com 75 milhões de turistas por ano e lá teve um aumento de 9% ao ano nos últimos dois anos, enquanto nós ficamos nos quatro milhões e meio, não houve crescimento, isso gera falta de infra-estrutura, mas a indústria do turismo será a maior indústria brasileira depois da agricultura, já que passamos da postura de quintal do mundo. Hoje, são praticamente 50%, 50% em termos de exportação, exporta mão-de-obra, tecnologia, como avião, computadores, máquinas e equipamentos, mas a agricultura, o agronegócio é um carro muito forte. No Brasil são aproximadamente sete mil quilômetros de praia, só temos um Hilton apenas, por exemplo, então nós não crescemos, nós temos donos de hotéis, não temos ainda hoteleiros. Temos sim poucas cadeias de hotéis, poucas oportunidades de sair de férias, todo mundo está endividado com a casa, com o carro, com a escola com a educação, com a saúde, tudo pagando duas vezes. No futuro, com esse investimento atual no Brasil que está havendo, a entrada de dólar no Brasil, sem dúvida daqui 20 anos seremos a quarta economia no mundo, mas nós não podemos pedir só para Deus, o brasileiro está muito mal acostumado com o “se Deus quiser”, nós temos é que fazer e só aquele que faz sabe. Temos de estudar e aprender essa indústria.
Empregos.com.br – Você acha que falta profissional qualificado no mercado?
D’Ávila – Todos os grandes profissionais quiseram abrir agências de viagem. O mau exemplo do empresário, é que a maioria dos funcionários dele vira empresário, também porque ele não é um bom empresário e não mantém seus funcionários, e esseturnover , essa rotatividade, faz com que todos pensem: chega de ser empregado, eu vou ser meu próprio patrão. Concordo que ser empreendedor é uma maravilha, eu sou um empreendedor, só que eu vejo que os grandes empresários muitas vezes não sabem administrar. Um exemplo: no livro Pai rico e pai pobre você vai ver que 95% da população ainda trabalha para os outros 5% que são empresários, isso está crescendo, vai chegar a 10%, 15%, 20%, eu acho que nesse momento é muito mais fácil você ter um bom emprego do que uma empresa nesse país. Pelos impostos, quanto mais arrecada mais imposto cria, e aí gera essa loucura esse turnover enorme, podem colocar 100% de multa no Fundo de Garantia que vão continuar as demissões, não adianta, nada segura, eu acho que o que realmente segura é fazer o que gosta ganhando pouco, mas ganhando sempre e é difícil encontrar um Ronaldinho que faz o que gosta e ainda ganha dinheiro. Mas pôxa, vamos nesse caminho, eu acho que eu sou o meu Ronaldinho aqui do turismo, eu faço o que eu gosto e ainda ganho dinheiro, isso está muito bom, agora o importante é não ganhar sozinho.
Empregos.com.br – Quais são suas principais dicas de mercado?
D’Ávila – Hoje não é mais a aparência que conta. Antigamente tinha que estar bem vestido, barbeado e etc. Hoje não, é a capacidade de compreender, ter um bom raciocínio e receber um bom DNA empresarial, o DNA empresarial é o conhecimento nas razões de ser de uma empresa, na sua filosofia, visão, missão, na sua estratégia, no seu conhecimento sobre o produto ou serviço que presta. Se eu liderar isso, e tiver a capacidade como novo colaborador, em pouco tempo liderar isso, certamente eu terei uma boa permanência nessa empresa e vou vencer. Então, não pode ser que só o empresário tenha errado. Quando as empresas quebram no primeiro ano, os funcionários também erram porque não conseguem perceber o DNA, então a primeira coisa que a gente deve trabalhar é essa relação. Quando são contratados é preciso estar interessado em conhecer a filosofia, se integrar a ela, para que possa ter um bom entendimento, mas se não tiver isso, que ao menos a respeite, hoje é fundamental no meu ponto de vista como empresário.
Empregos.com.br – Quais são suas expectativas com o País? Você pode ser considerado um homem otimista?
D’Ávila – O brasileiro, infelizmente, precisava de uma sacudida para ter mais respeito pela vida, por nós mesmos e pelo outros, nós não temos respeito a nada porque as leis não são boas, são muitas e não são eficientes, deveriam ser poucas e mais eficientes. O castigo não é o sinônimo de virada, mas acho que nós deveríamos ter mais educação e mais oportunidade na infância, nossos pais deveriam ter tido uma estrutura melhor e nós estamos criando uma estrutura pior ainda. O jovem busca a igreja para se salvar ao invés da família, ao invés da sociedade, então nós temos que buscar uma nova forma que eu acho que é através da educação. Porque que eu tive que esperar estourar uma bomba no meu bolso para aprender, porque que eu tive que perder meu pai, minha mãe, escola, amigos, irmãos para aprender. Infelizmente nós estamos um pouco perdidos.
Empregos.com.br – Qual é o seu segredo para ser feliz e bem sucedido?
D’Ávila – O que eu posso dizer para você é o seguinte: eu não me sinto um grande empresário porque eu me sinto um empreendedor, eu ainda estou empreendendo, eu ainda sou devedor, ainda não sou credor. Não plantei a minha árvore e eu tenho 33 anos de empresa. Na medida em que um colaborador novo entra na empresa, ele acha que sabe tudo, isso não dá certo, para não dizer outra coisa; não pode deixar subir a cabeça, não pode achar que está sendo perseguido, nem pode dar importância para essa porta, tem que entrar na porta da visão e não na porta do pessimismo. Não pode achar que não está sendo valorizada no sexto mês de emprego, a pessoa só pode dizer que não está sendo valorizada depois de um ano, dois de empresa, assim é um casamento, um relacionamento, é tudo. Então não vai dar certo no primeiro, segundo, terceiro meses, tenham mais paciência mais tranqüilidade, nem todo o dia o São Paulo ganha, aliás, se o São Paulo ganhasse, o meu Santos estaria perdido. Colocar mais a camisa do Brasil e não só a camisa da empresa. Tire a camisa da empresa e coloque somente o DNA no sangue, entre mais com o toicinho e menos com o ovo, porque todo mundo quer entrar com os ovos porque a galinha entra com o ovo e ela não morre, mas quando a gente entra com o toicinho entra com o corpo. Eu coloco a camisa desse País, deixar de falar mal do País e dos outros é olhar para o nosso pé e isso é importantíssimo. Não ter medo do patrão de jeito nenhum, tem que ter respeito, tem que buscar nele a visão profissional, entender o que ele imagina como visão de futuro da empresa e o respeito virá. O reconhecimento das empresas não é muito bom no Brasil, eu sinto que até eu sou falho no reconhecimento, então eu sou um eterno chorão, eu adoro ser reconhecido. Mas olha, se não vier não tenha medo e não olhe para trás, não queira ser reconhecido no primeiro mês e vá buscar fazer o que gosta, se não estiver fazendo o que gosta peça para ser mudado, porque só aquele que faz o que gosta e só aquele que faz sabe.
Das ruas à sala da presidência
Elói D'Ávila, presidente da Flytour, conta como superou as dificuldades e abriu sua própria empresa
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