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Por Gisèle de Oliveira e Gabriel Aguillar
Mais do que uma atividade artística, a Arquitetura é uma profissão e precisa ser encarada dessa maneira pelos arquitetos. É o que defende Leonardo Araújo, diretor de criação da GAD, empresa que trabalha com Arquitetura comercial. Para ele, os profissionais atualmente não estão preparados para o novo perfil e desafio que a área requer. “Os arquitetos saem da faculdade mal preparados, não sabendo fazer negócio e isso acarreta numa vulgarização da profissão. A Arquitetura requer produtividade, qualidade e resultado nos trabalhos”, defende Araújo.
De acordo com o arquiteto, a profissão mudou muito nos últimos 30 anos e o profissional precisa estar ciente e alinhado a essas mudanças. “A Arquitetura ganhou novas características. “Eu aprendi na prática que o grande desafio é entender as necessidades do mercado. Será exigida do profissional uma capacidade de negociação, pois desenvolver um projeto é uma coisa, mas torná-lo viável, tanto comercialmente como em todas as outras etapas, deve ser a sua meta”.
Para conhecer essa e outras opiniões de Leonardo Araújo e saber um pouco mais sobre Arquitetura comercial, leia a entrevista que ele concedeu ao Empregos.com.br. Boa leitura!
Empregos.com.br – O que é Arquitetura comercial?
Leonardo Araújo – A Arquitetura comercial originalmente surgiu com a idéia de atender o varejo, mas hoje sua atuação é muito mais ampla. Hoje, atende os diferentes pontos-de-venda (PDV) das marcas, já que o PDV pode ser o próprio escritório da empresa. E estabeleceu-se essa nova relação do trabalho: a importância das marcas e sua relação com as pessoas. Se olharmos do lado do público, também é interessante, já que ao invés de lidar com um único indivíduo e família, a arquitetura comercial lida com a massa ou os públicos-alvos das empresas e requer um novo tipo de estudo sobre os aspectos antropológicos dessas pessoas.
Empregos.com.br – Como é formada a equipe de arquitetura comercial? Somente por arquitetos?
Araújo – A nossa empresa tem várias áreas que funcionam de forma interdisciplinar. Na equipe de arquitetura comercial temos 23 arquitetos que se relacionam muito com outras áreas de design gráfico, produto, etc. Esses 23 profissionais são divididos hierarquicamente. Por exemplo, temos o coordenador de contrato, o coordenador de projeto e até uma engenheira de formação que trabalha com controladoria, orçamento, contato com fornecedores e avaliação de custos. A área de arquitetura comercial é formada somente por arquitetos, mas a interação com as outras áreas e com profissionais de outra formação é e deve ser bem intensa. Em determinados projetos, por exemplo, conversamos muito com redatores e com o pessoal de estratégia, que nos ajudam a criar um conceito para iniciarmos o processo.
Empregos.com.br – Como é realizado o trabalho da equipe?
Araújo – Primeiro procuramos entender o conceito da marca e a linguagem de design para propor um norte conceitual. Eu diria que as fases do nosso trabalho têm um foco um pouco acadêmico. Elas são divididas em diagnóstico, prognóstico, planejamento e execução. No diagnóstico, procuramos entender toda a proposta e o que o cliente deseja, é uma etapa de conhecimento. Com esse conhecimento, desenvolvemos alguns insights que, na verdade, é um prognóstico. Esse prognóstico mostrará como a gente quer que fique esse projeto, e nessa etapa o projeto já tem todas as suas características. Depois disso, a etapa seguinte é o projeto executivo que viabiliza as ações de forma técnica, por meio de um cruzamento com outras áreas também com foco técnico. Por último temos a execução, sempre seguindo essa ordem. Na fase de execução, o nosso trabalho é de fiscalização e não de gerenciamento. No GAD Design nos propomos a não fazer gerenciamento de execução. Fazemos relatórios e acompanhamos até o final para ver se o projeto está sendo produzido como desejado, mas procuramos dividir esta etapa com os parceiros que realizarão os trabalhos de Engenharia, que é outra área diferente da Arquitetura. Essa é a diferença de Engenharia para Arquitetura. Nós, por exemplo, não contratamos pedreiros para uma obra. Conversamos sobre as necessidades do projeto juntamente com esses parceiros, mas realizamos apenas um trabalho de fiscalização. As empresas de engenharia são capazes de controlar melhor o projeto de execução.
Empregos.com.br – Fale um pouco do dia-a-dia de sua profissão.
Araújo – O meu dia-a-dia é administrar a minha equipe de trabalho e fazer reuniões de criação. Chego ao escritório às 8h30 todos os dias e ajusto a minha pauta de trabalho para poder convocar reuniões com outros grupos envolvidos nos projetos. No cargo de diretor de criação, me envolvo mais com os projetos de apresentação aos clientes, bem como a definição de briefing . Faço um trabalho de comunicação, vou até os clientes para tentar entender bem o que eles procuram. Durante o dia troco muitos e-mails e monitoro cada equipe de uma forma meio digital. Realizamos videoconferência entre os escritórios de Porto Alegre e São Paulo para nos entendermos melhor, sempre que há a necessidade de um contato. Nos lançamentos de projetos, participo também de reuniões que são realizadas conforme as demandas e projetos.
Empregos.com.br – Qual é a sua formação?
Araújo – Em 1985, me formei em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade Unisinos de Porto Alegre. Sou arquiteto urbanista, mas desde o quarto semestre da faculdade, trabalho profissionalmente. No início da minha carreira profissional, por uma questão de destino ou sorte, trabalhei em um escritório de design de móveis suecos, que caracterizou o início da loja Tok & Stok. Continuei trabalhando nesse escritório até me formar e me tornei sócio de uma empresa chamada Designs Alternativos. Mas mais para frente, montei uma empresa minha chamada 3D Arquitetura e Design. Um dia conversei com o Luciano (sócio do GAD) e acabamos fazendo uma espécie de fusão, pois trouxe todo o meu escritório para dentro do GAD Design. Hoje já faz 11 anos que atuo como sócio e diretor de criação.
Empregos.com.br – Quais foram ou ainda são os maiores desafios na sua carreira?
Araújo – O grande desafio na Arquitetura é a própria reinvenção da nossa atividade. A Arquitetura mudou muito da forma que ela era há 30 anos. Ela ganhou outras características. A grande questão é que os arquitetos precisam pensar que isso é uma profissão e não uma atividade artística. A arquitetura requer produtividade, qualidade e resultado nos trabalhos. Os arquitetos, atualmente, são mal preparados para isso. Eles saem da faculdade não sabendo fazer negócio e isso acarreta numa vulgarização da profissão. Eu comecei muito cedo e aprendi na prática que o grande desafio é entender as necessidades do mercado. Uma capacidade de negociação será exigida, pois o arquiteto desenvolver o projeto é uma coisa, mas torná-lo viável, tanto comercialmente como em todas as etapas, deve ser a sua meta. A própria classe não consegue construir uma referência forte. Hoje no Brasil, o corretor de imóveis tem uma opinião no projeto mais importante que o arquiteto, e esse equívoco é causado pela própria classe. Eles esqueceram o lado business . O arquiteto precisa saber valorizar o seu tempo.
Empregos.com.br – Qual é a tendência do mercado?
Araújo – A tendência é uma maior compreensão das necessidades dos clientes. Existe uma necessidade de o serviço ser muito qualificado. Os arquitetos precisam compreender o que os clientes querem e de que forma querem. Tentar entregar da melhor forma e acertar combinações é muito importante, pois ajuda a administrar as expectativas dos clientes. Muitas vezes os clientes acabam sendo mal informados sobre o projeto que será entregue e isso pode gerar uma insatisfação. É uma questão de comunicação, saber combinar e negociar. Tudo isso está por trás das soluções técnicas do projeto. O cliente precisa saber o que está comprando.
Empregos.com.br – Qual o maior desafio do arquiteto?
Araújo – Localizar um problema, identificar uma solução, transformar em um projeto e torná-lo viável.

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