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Por Gutemberg Macedo
“Quem anda em integridade anda seguro, mas o que perverte os seus caminhos será conhecido”. Provérbio de Salomão 10.9
O Currículo é a peça publicitária mais importante por ocasião da busca e conquista de novo emprego. Nada, nada mesmo, o substitui. Portanto, ele deve ser redigido de maneira objetiva, transparente e acurada. Qualquer informação fornecida de forma distorcida, incompleta ou que desperte dúvida na mente do selecionador poderá custar um altíssimo preço – a perda de uma grande oportunidade, a do emprego tão sonhado.
Reconheço que em mercado de trabalho extremamente competitivo, não raro, muitos profissionais são tentados a mentir sobre diferentes assuntos – títulos de posições ocupadas, datas de entrada e de saída de uma organização, remuneração mensal ou anual, credenciais acadêmicas, inflar suas realizações, apresentar-se com características pessoais de liderança muito acima da realidade, entre tantos outros.
Na década de noventa fui contratado por empresa nacional a fim de assessorar seu diretor de recursos humanos em seu processo de transição de carreira. As credenciais acadêmicas que dizia possuir eram impressionantes – graduação em administração e psicologia organizacional, mestrado e doutorado em administração de empresas. Intrigado com as informações fornecidas, resolvi checá-las pessoalmente. As minhas dúvidas se confirmaram. As suas credenciais acadêmicas eram todas falsas. O único diploma que ele verdadeiramente tinha era o de graduação em faculdade de segunda linha.
Diante de fato de tamanha gravidade, suspendi imediatamente o seu processo deoutplacement. Desde então, jamais ouvi qualquer notícia sobre esse profissional. É bem provável que ele continue mentindo pelo Brasil afora.
Caso semelhante ocorreu quando minha empresa atuava na área de seleção e recrutamento no final da década de noventa e até meados da década de oitenta. Profissional de marketing de importante empresa multinacional norte-americana dizia ter formação superior em administração de empresas. Naquela ocasião, não pedi para ver o seu diploma universitário. Cometi grave e imperdoável erro comoheadhunter – pois o apresentei ao meu cliente sem checar as suas credenciais acadêmicas. Contratado por meu cliente, empresa de tecnologia de importante grupo nacional, seis meses depois ele foi demitido. Motivo: ele não tinha diploma nenhum. Ele mentiu sobre as suas qualificações acadêmicas.
Hoje, esse profissional é um dos principais líderes religiosos do país. Há sete anos aproximadamente, conhecido consultor de empresas, teve suas credenciais acadêmicas desmascaradas em nível nacional, em matéria de autoria do jornalista David Cohen, publicada pela revista Exame sob o título “História de Pescador” (Edição 752, Abo 35 – nº 22 – 31/10/2001 – pags. 90-94).
Durante anos, ele se apresentou às empresas e ao mercado como tendo pós-doutorado em Macroeconomia pela London School of Economics, doutorado em Antropologia (não fornecia o nome da Universidade em currículo original), licenciatura em História e bacharel em Direito, entre outras credenciais acadêmicas. Além disso, afirmava em suas palestras que ensinava na Universidade de Harvard e no MIT – Massachusetts Institute of Technology.
Em uma checagem rápida junto às instituições mencionadas em seu currículo, o seu castelo mentiroso desabou. Embelezar o currículo com informações falsas e mentirosas, a fim de turbiná-lo e torná-lo mais competitivo e atraente ao mercado, não é um comportamento observado apenas no currículo de profissionais brasileiros. Essa é uma prática comumente observada no mundo inteiro. Há dados estatísticos que afirmam que 57% dos MBA’s norte-americanos mentem sobre suas qualificações por ocasião da busca de novo trabalho.
Esse é um percentual assustador e preocupante, visto que tal comportamento indica fortemente o desvio de caráter. Esses mesmos profissionais uma vez atuantes em suas novas empresas podem se valer do mesmo expediente, atribuindo a si mesmos resultados e feitos que nunca se materializaram. Os exemplos desse tipo de expediente abundam. É só consultar os jornais e revista para perceber a movimentação dos chamados salvadores da pátria.
Infelizmente, no Brasil não temos dados científicos sobre esse assunto, mas o panorama deve ser igual ou pior. Haja vista que atualmente tramita uma lei no Congresso Nacional que objetiva coibir e punir com severidade tal comportamento – Lei 6561/09 datada de 05 de fevereiro de 2010.
Caro leitor, atualmente os itens mais fáceis de serem chegados pelas empresas são precisamente aqueles citados no inicio deste artigo – títulos, datas, remuneração, educação, etc. Portanto, evite a qualquer preço mentir em seu currículo sobre eles. Posso assegurá-lo que tal comportamento não se sustenta por muito tempo. No momento em que você for apanhado inflando ou mentindo sobre tais informações, sua carreira poderá ser interrompida ou desmoronada.
 
Portanto, minhas recomendações são:

  • Seja honesto ao escrever o seu currículo. Cada detalhe conta a seu favor ou contra você;
  • Nunca exagere em suas afirmações e adjetivações. Evite expressões do tipo “ampla experiência”, “inglês intermediário”. Um idioma se fala fluentemente ou não. Não existe meio termo;
  • Se não tem as qualificações exigidas para o desempenho de uma atividade, diga abertamente que não as tem, mas que você tem interesse genuíno em desenvolvê-las e adquiri-las;
  • Nem tudo o que você fez ou deixou de fazer precisa ser colocado em seu currículo. Você pode omitir. Omitir informações não é pecado. Afinal, ninguém pode testemunhar contra si mesmo. Esse é um princípio sagrado no direito constitucional brasileiro – “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei; São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e imagem das pessoas”. (Constituição da República Federativa do Brasil, Título II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, Capitulo I, Art. 5, II e X);
  • Se for abordado por ocasião de uma entrevista sobre assuntos sobre os quais não discorreu em seu currículo, fale sobre eles abertamente. Nada supera a verdade. Os vencedores nunca mentem;
  • Nada acrescentes às suas palavras, para que não seja repreendido e achado mentiroso;
  • Três são as virtudes de um job hunter – integridade, simplicidade e comunicação persuasiva;
  • Seja você mesmo em tudo o que faz. Esteja seguro do seu conhecimento,accomplishments, crenças, valores éticos, e da sua sensibilidade para com aquelas pessoas com as quais interage. Papeis são importantes, mas não tente representar alguém cujo estilo e valores não são compatíveis com os seus. É verdade que muitos idiotas alcançam o topo da pirâmide, mas você não precisa agir ou ser como um deles para conquistar a posição numero 1. Eles não permanecem lá por muito tempo. E quando caem em desgraça, geralmente não há ninguém por perto para consolá-los ou apoiá-los;
  • Nunca envie seu currículo aos milhares. O seu destino será a lata do lixo. Estude cada empresa para onde deseja enviá-lo e nunca deixe de fazer umfollow-up. Tenha o controle de toda a correspondência enviada;
  • Se não sabe redigir um currículo que desperte a atenção de seu potencial empregador, contrate um especialista ou passe em uma livraria e adquira o melhor livro sobre o assunto. Leia-o com atenção.
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