Este número mistura situações e histórias muito diferentes. Aí estão, por exemplo, aqueles brasileiros que perderam o emprego e foram à luta, e eles são muitos. Também leva em conta gente que foi praticamente expelida de seus postos de trabalho, a bordo de planos de demissão “voluntária” que entupiram as cidades brasileiras de vans de cachorro-quente e outros negócios que, via de regra, terminaram em desalento para seus proprietários. Por fim, a estatística de autônomos inclui – em proporção ainda ignorada – o alvo desta reportagem: profissionais que não perderam nem abandonaram o emprego, mas, pelo sim,
pelo não, tratam de reduzir sua dependência do contracheque e, claro, complementar renda.
Entre executivos, esta é uma opção mais comum do que supõem seus empregadores. ”Antes da reengenharia e da globalização, a ordem era primeiro perder o emprego e só depois buscar uma alternativa”, historia o headhunter paulista Laerte Cordeiro. ”Os anos 90”, compara, ”mostraram que a demissão estava muito mais próxima do que os executivos poderiam imaginar, e é daí que surge a necessidade de um negócio paralelo”. Um levantamento mostrou que 16,3% dos executivos com idade a partir de 40 anos mantêm um negócio paralelo. Outros 24% afirmaram que não possuem, mas desejam ter seu empreendimento.
É difícil para eles abrir o jogo com os patrões, normalmente desconfiados de profissionais que não dedicam 110% de seu tempo à companhia. Nada menos que 50,2% dos presidentes, vice-presidentes e diretores ouvidos por este estudo deixaram bem claro que não aprovam a contratação de quem toca um negócio paralelo.
Esta questão do negócio paralelo tem um ingrediente infalível em quase todos os casos de empregado-empreendedor: alguém da família – esposa, marido, filho -, ou mesmo um amigo, acaba tendo um papel decisivo para dar o pontapé inicial no negócio e fazê-lo avançar. “Num tempo em que as corporações exigem dedicação integral de seus executivos, a única chance que eles podem ter de começar um empreendimento paralelo é entrar como sócios minoritários e ir palpitando aqui e ali – e, mesmo assim, eu diria que é muito complicado”, afirma Steffi Maerker, diretora da Trust, uma agência de executivos de São Paulo.
Foi exatamente assim, pelas beiradas, que o paulistano Jairo Boppré Sobrinho, de 35 anos, acabou se envolvendo com um negócio que nada tem a ver com seu emprego. Há nove anos no cargo de gerente administrativo de uma indústria de calçados em Piracaia (a 80 km de São Paulo), Boppré começou a dividir sua atenção entre o trabalho na fábrica e a gestão da Cia. Aquática, pequena confecção de biquínis e maiôs tocada pela esposa. Ele cuida das questões administrativas e financeiras.
Ela se encarrega da criação e da produção dos modelos. Com o tempo, Boppré passou a se interessar tanto pelo empreendimento que, a esta altura, confessa entender mais de tecidos e confeções que de calçados. “Agora, posso dizer que tenho algum projeto concreto de futuro para meu filho”, empolga-se Boppré, que sente prazer em trabalhar depois do expediente como empregado. Tudo deu tão certo que a Cia. Aquática, atualmente com cinco funcionários, já não se limita a vender peças com marca própria na loja de fábrica e cidades vizinhas a Piracaia. Hoje, parte da produção mensal de 1.500 peças vai para confecções de marcas de renome nacional. “Já estamos negociando uma outra grife para quem deveremos produzir em breve”, garante.
Muito além do emprego (continuação)
Este número mistura situações e histórias muito diferentes. Aí estão, por exemplo, aqueles brasileiros que perderam o emprego e foram à luta, e eles são muitos. Também leva em conta gente que foi praticamente expelida de seus postos de trabalho, a bordo de planos de demissão “voluntária” que entupiram as cidades brasileiras de vans de […]
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