Carreiras | Empregos

por Peter Harazim*
E, de repente, parece que as empresas grandes, pequenas, velhas, jovens, todas, enfim, lançaram-se na tarefa de definir sua missão, delinear sua visão e formatar seus valores. O que elas afirmam é que sem isso não há como sobreviver, muito menos, prosperar. Mas, afinal, do que estão falando? O que vem a ser missão, visão, valores? Colocar tudo isso no papel e pregar cópias em todas as paredes é realmente tão importante?
Para começar, vale a pena relembrar a definição de cada um destes elementos de gestão:
Missão – é o motivo pelo qual a empresa existe; o que ela se propõe a realizar. Também encontramos este conceito com os nomes “Razão de Ser” e “Definição do Negócio”.
Visão – é o cenário ideal visualizado pela empresa. É a situação que a empresa busca, e para onde ela dirige sua criatividade e recursos.
Valores – são os princípios que regem as ações e decisões da empresa, segundo os quais ela age. Também encontramos os valores com o nome “Políticas Gerais”, entendendo política como “preceito de ação”.
Em relação aos valores, é preciso distinguir bem entre valores e crenças. Uma crença é algo em que eu acredito como sendo certo, justo ou bom. Um valor, por sua vez, é uma crença segundo a qual eu ajo. Portanto, uma crença está sempre associada ao pensar, enquanto um valor sempre ao agir.
Isto, a propósito, nos leva à constatação que muitos quadros com valores que vemos nas empresas são, na realidade, suas crenças. Por exemplo, que tal uma empresa comercial declarar como valor “o cliente vem em primeiro lugar” e, ao mesmo tempo, reservar as melhores vagas no estacionamento para os diretores?
Então, já sabemos a definição de missão, visão, valores. Agora vem a pergunta: minha empresa precisa disso? A resposta varia muito de caso a caso.
Podemos ter uma certeza: toda empresa possui uma missão, uma visão e um conjunto de valores. Apenas, algumas têm isto explicitado formalmente enquanto outras têm estes elementos na cabeça de seu(s) dirigente(s). Empresas dirigidas pelo seu fundador, proprietário, principal acionista, enfim, pelo dono, orientam-se pelos valores dessa pessoa.
Isto acontece naturalmente: ninguém precisa colocar nenhum valor no papel; todos os integrantes da organização respondem com facilidade à pergunta “Como é que o sr. Fulano age nessas horas?” Assim, o valor aplicável passa a ser vivido também pelo colaborador. A mesma coisa acontece com a missão e a visão, que estão na mente do dono. Como ele orienta todas as suas ações e decisões em função da missão e da visão que ele visualiza, em pouco tempo os colaboradores compreendem quais são e começam a agir da mesma forma.
Daí decorre que, enquanto as decisões estiverem sendo tomadas pelo dono, não há realmente grande necessidade de formalizar nada disso. Porém, a partir do momento em que a empresa inicia um processo de descentralização de decisões, seja porque ela está crescendo, seja porque o proprietário está se preparando para transferir as decisões a sucessores da família ou a profissionais, aí terá chegado a hora de se formalizar missão, visão e valores. Eles serão uma das cinco condições para a delegação de autoridade tão necessários quanto as outras quatro (competência, informação, controles e vontade).
Portanto, ao avaliarmos se uma empresa deve ou não formular missão, visão e valores, a pergunta que precisa ser respondida é “Esta empresa está num processo de descentralização, com delegação de autoridade decisória para além dos proprietários?” Se a resposta for afirmativa, então a medida será necessária. Se, no entanto, não se estiver cogitando uma mudança dessa natureza, nosso melhor conselho seria que a empresa não perdesse tempo com isso: ainda não é a hora.
* Peter Harazim é diretor da Hicon Consultoria.

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