Carreiras | Empregos

por Camila Micheletti
“Como os jogos são sempre aos domingos, acabo não indo tanto porque quero passar meu tempo livre com a família. E também se começar a ir ao estádio todo fim de semana, as coisas podem ficar feias lá em casa”, brinca Paulo Vinícius Coelho, comentarista de futebol e chefe de reportagem da ESPN Brasil. Coelho participa de um programa chamado “Loucos por Futebol”, que vai ao ar aos sábados às 21h30 na TV a cabo, e sem dúvida é um dos mais aficcionados pelo tema.
Segundo ele, seu gosto pelo futebol começou aos cinco anos de idade, quando seu avô o levou a um estádio de futebol pela primeira vez. “É engraçado por que meu irmão estava junto comigo no dia e não se recorda de como foi o jogo. Mas a partida foi tão marcante para mim que eu lembro de tudo, nos mínimos detalhes. O jogo em questão era Portuguesa e Juventus e terminou em 2 a 1 para a “Burrinha”. Até hoje esse jogo é a minha primeira referência no futebol”, conta ele, com o mesmo entusiasmo dos seus cinco anos.
No vestibular, Paulo Vinícius optou pelo Jornalismo, já que lá teria a oportunidade de trabalhar com a sua verdadeira paixão: o futebol. “Uni a paixão de infância ao trabalho. O resultado é que hoje já trabalho com jornalismo esportivo há 12 anos e simplesmente adoro o que faço”, afirma. Pelo menos uma vez por mês, Paulo faz questão de ir ao estádio. Durante a semana, o jornalista segue uma rotina estressante que reúne as atividades de chefe de reportagem, que começam logo pela manhã, com as de comentarista, que costumam terminar tarde da noite. “Por isso acabo passando muito tempo na redação, quase 10 horas por dia”.
Mas até que ponto ser um apaixonado pelo trabalho faz bem à carreira – e à sua saúde? De acordo com a psicóloga Rosângela Casseano, fazer o que gosta é sempre bem-vindo, em todas as situações da vida. “A partir do momento que você faz o que gosta você se torna mais sociável, mais leve, passa a pensar sobre coisas agradáveis e não separa o lazer do trabalho. As coisas complicam quando você não consegue achar um limite para o trabalho e se torna um workaholic”. Isso pode acontecer porque a vida pessoal não segue a mesma linha que a profissional. “O executivo acaba ficando mais no escritório para não ter que passar muito tempo com a família. É preciso encontrar o equilíbrio, tentar resolver os problemas em casa e pedir ajuda de um profissional se necessário”, esclarece Rosângela.
A psicóloga fala com conhecimento de causa: ela confessa que já foi uma workaholic, mas conseguiu escapar a tempo. Rosângela conta que chegou a trabalhar 18 horas por dia e ficou seis meses sem um único fim de semana, período em que dava cursos para empresas e grupos. “Eu comecei a pegar tantos projetos e estava tão apaixonada pelo trabalho que não conseguia pensar em outra coisa, minha vida girava em torno disso. Mas consegui perceber que estava acabando com a minha vida e parei. E não foi porque puxei o breque de mão que estou ganhando menos. Estou ganhando a mesma coisa, porém com muito mais qualidade de vida”.
Mas ainda tem gente que rema contra a maré e trabalha bem mais do que a maioria. Este é o caso de Fernando Camargo Luiz, diretor e sócio da Orbe Investimentos. Ele afirma que pensa em trabalho 24 horas por dia, e qualquer conversa, por mais informal que seja, vira uma oportunidade para falar sobre a sua grande paixão, que é o mercado financeiro. “Eu trabalho cerca de 10 a 12 horas, fora o que leio e estudo em casa. Minha noiva reclama um pouco, mas fazer o que, esse é o meu jeito”. Fernando se formou em Engenharia Civil, apesar de sempre ter gostado de mexer com números e dinheiro. O interesse despertou quando ele foi trabalhar em um banco, ainda no 4º ano da Faculdade. “Desde então não saí mais do mercado financeiro. O que mais me motiva é a capaciadade e liberdade que tenho de me arriscar e ganhar mais. A relação risco X retorno é muito produtiva”, afirma ele.
Pesquisas apontam que atualmente cerca de 26 milhões de brasileiros trabalham mais do que 44 horas semanais, limite determinado pela Constituição de 1988. Esses dados comprovam o que já vem sendo falado pelos especialistas e defensores da qualidade de vida: parte dos brasileiros que está empregada estica a jornada de trabalho além do que prevê a legislação. Esta situação coloca o nosso país no oitavo lugar no ranking mundial de horas trabalhadas da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Você sabe que está trabalhando
demais quando*:
Sempre tem a sensação de não estar dando conta
Está irritadiço, crítico ou de pavio curto
Vê cada vez menos os amigos e a família
Tem dor de cabeça e dor de estômago com mais freqüência
Tem dificuldade em relaxar
Se sente culpado quando não está trabalhando
É só trabalho e nada de diversão
Está casado com seu trabalho
Se cansa facilmente
Tem dificuldade para pegar no sono
Às vezes fica deprimido ou triste, sem razão aparente
Necessita estar ocupado o tempo todo
Não está se divertindo muito

* Extraído do livro “Ganhar mais e trabalhar menos”, Editora Campus, 2003.

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