Carreiras | Empregos

por Camila Micheletti
“O sonho é a primeira etapa do planejamento estratégico das empresas, carreiras e até mesmo dos países”, diz o palestrante César Souza, autor do livro “Você é o do tamanho dos seus sonhos”, lançado em 2003 pela Editora Gente. Ele reuniu neste livro 50 casos de empreendedores que foram atrás de suas aspirações e construíram negócios bem-sucedidos.
César afirma que existem algumas características do universo feminino que, de forma preconceituosa, eram consideradas fraquezas, como impulso para acomodar situações, sensibilidade para a necessidade dos outros, preocupações comunitárias, etc; mas acabaram virando vantagens no mundo corporativo atual. “Se os homens foram os heróis da Era Industrial, as mulheres têm um grande papel a desempenhar na era dos Serviços, que precisa das habilidades de relacionamento com clientes e com comunidades, característica feminina por excelência”, analisa.
O espírito empreendedor se manifesta na mulher diferente do homem? Será que a mulher usa atributos essencialmente femininos – sensibilidade, intuição – na hora de se lançar em um novo negócio ou mesmo implantar um projeto na empresa que trabalha – e isso faz dela uma empreendedora nem melhor, nem pior, mas diferente de seu colega homem? Como isso afeta a gestão do negócio em si? E de que forma isso interfere em uma maior inserção da mulher empreendedora no mercado de trabalho?
Para o especialista em empreendedorismo e presidente da BrasilPrev, Eduardo Bom Ângelo, o empreendedorismo não está relacionado com o sexo da pessoa. “Nunca percebi essa diferença nas minhas pesquisas e nem com as pessoas que entrevistei para meu livro, Empreendedor Corporativo (Editora Campus). As características que fazem o indivíduo ser um empreendedor são as mesmas e não estão relacionadas ao fato dele ser homem ou mulher”. As competências femininas que as mulheres têm, de acordo com Eduardo, são aquelas que toda representante do sexo feminino possui, e não se reflete só no empreendedorismo como em tudo que a mulher faz.
Opinião diferente tem Marília Rocca, fundadora e diretora-geral do Instituto Empreender Endeavor. “As mulheres acabam empreendendo mais por necessidade porque precisam de uma fonte de renda que possa auxiliar nas contas da casa. Além disso, elas têm a jornada de dona-de-casa também”. Isso se reflete no número de empreendedoras mulheres que apresentam seus projetos na Endeavor – segundo Marília, esse número é bem baixo, justamente porque o Instituto só investe em negócios que tenham inovação e, por isso, apresentam maior possibilidade de risco. “A mulher já tem o papel de mãe, dona-de-casa, esposa, amiga… Com tantas responsabilidades em mãos, é natural que ela seja mais conservadora do que o homem na hora de abrir um negócio”, pondera. Para a especialista, a situação só vai mudar quando os papéis começarem a ser mais didividos em casa, mudança esta que não deve ocorrer tão cedo, é um processo a longo prazo.
Os dados se comprovam com a pesquisa “Empreendedorismo no Brasil”, divulgada recentemente pelo GEM – Global Entrepreneurship Monitor, em parceria com o Sebrae e o IBQP – Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Paraná. A proporção de mulheres empreendendo por necessidade é maior que a dos homens (39% homens e 42% as mulheres).
Por tudo isso é que muitas acabam optando por abrir uma franquia, que já tem um nome estabelecido no mercado e acaba sendo mais fácil e seguro. Quando o assunto é perfil do empreendedor algumas características intrisicamente femininas contam pontos a favor, como capacidade para lidar com as pessoas e dedicação ao negócio. Muitas redes, apesar de serem pilotadas por homens em alguns casos, preferem ter mulheres como franqueadas. A rede de escolas de inglês para crianças “The Kids Club” é um exemplo. Das 100 franquias existentes no Brasil, 90% são comandadas por mulheres.
De acordo com Sylvia Helena de Moraes Barros, presidente da filial brasileira e responsável por trazer a marca para o País, a mulher tem mais facilidade no trato com as crianças e na conversa com as mães. “Percebo também que ela tem mais flexibilidade, jogo de cintura e paciência na hora da negociação. A mulher sabe entender com mais facilidade o que o cliente quer, enquanto que o homem é mais business, quer ver o lucro mais rápido. É claro que o sucesso depende de quanto você se empenha, mas depois de 10 anos de experiência, percebo que as mulheres levam vantagem, pelo menos nesse tipo de negócio”, avalia.
Além de ter espírito empreendedor e um capital inicial que inclui a taxa de franquia (R$ 5000) e as instalações básicas (de R$ 1000 a 3000), a mulher que quiser entrar neste negócio também precisa ser fluente no idioma e batalhar muito para sua franquia ser adotada em um maior número possível de escolas. “Também tem que ser uma pessoa bastante versátil, já que no começo ela vai ter de ser responsável pelo método, as aulas e a parte administrativa do negócio”.
O modelo de empresa de sucesso pode ser a própria The Kids Club, que hoje tem 100 franquias espalhadas pelo Brasil e possui um faturamento anual de R$ 700 mil. Tudo começou com um sonho de Sylvia Helena, que conheceu o método quando morou nos Estados Unidos, aos 18 anos. “O começo foi muito difícil porque não havia ensino de inglês para crianças no Brasil. Tive que fazer um trabalho de conscientização com as mães e as escolas, mostrando que não fazia mal à criança, pelo contrário. Posso dizer sem sombra de dúvida que fui pioneira e que o The Kids Club influenciou muitas escolas e métodos que surgiram depois”, ensina ela, empreendedora, criativa e corajosa, como toda mulher deve ser, em todas as áreas da vida.
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