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Desigualdade racial no mercado de trabalho o que mudou nos últimos anos?| Fonte: Shutterstock

A desigualdade racial ainda é uma triste realidade em nosso país. No cenário do mercado de trabalho a desigualdade é percebida através dos salários diferenciados, oportunidades, lideranças pretas em minoria, além do preconceito que muitas das vezes começa no processo seletivo.

Existe uma dívida histórica a ser paga e dizer que não existe racismo estrutural no Brasil é ignorar o problema, ou fingir que ele apenas não existe. De acordo com a segunda edição do estudo “Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil” feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) houve uma queda na renda familiar desde 2019 e isso vem acompanhado de um aumento de desigualdade entre negros e brancos.

Isso nos mostra que em 134 anos desde que acabou a escravidão no Brasil, ainda falta muito para o país evoluir em questão de igualdade.

Renda da população preta e parda foi a mais afetada durante a pandemia

O desemprego aumentou consideravelmente durante os anos de pandemia e os mais afetados da população foram os pretos e pardos. De acordo com os dados levantados pelo IBGE, em 2021 a taxa de desocupação para os pretos e pardos era maior em comparação aos brancos, veja:

  • Pretos: 16,5%
  • Pardos: 16,2%
  • Brancos: 11,3%

Além disso, quando observamos a questão do rendimento médio, a diferença é muito maior. No ano de 2021, levando em conta R$ 486 mensais por pessoa, a taxa de pobreza entre a população era:

  • Pretos: 34,5%
  • Pardos: 38,4%
  • Brancos: 18,6%

A população preta e parda foi a mais afetada nos últimos anos, porque geralmente estão em ocupações de maior vulnerabilidade social. Da mesma forma, recebem rendimentos menores e grande parte atua em trabalhos menos formalizados.

Outro ponto relevante é sobre a questão da educação. De acordo com o estudo sobre Ação Afirmativa e População Negra na Educação Superior, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica (Ipea) em 2020, 18% dos jovens negros de 18 a 24 anos estavam na universidade.

Em outro levantamento realizado pelo site Quero Bolsa, entre os anos de 2010 a 2019 o número de estudantes negros na faculdade cresceu em 400%, o que totaliza 38,15% de matriculados. Porém o percentual está bem abaixo da representatividade da população que chega a 56%.

Para que a realidade no mercado de trabalho mude, é preciso trabalhar com políticas públicas que colaborem com a questão da educação. A questão de cotas e bolsas de estudo são muito importantes, mas isso deve começar desde o ensino fundamental e médio. 

A grande maioria dos estudantes pretos e pardos estudam em escolas públicas, em que o sistema de ensino é fraco em comparação com as escolas particulares. Além disso, a distância, a defasagem ou até mesmo a necessidade de começar a trabalhar cedo para ajudar em casa, podem contribuir para o afastamento dos estudos.

Racismo estrutural dentro das organizações

Mesmo aqueles que conseguem avançar em seus estudos enfrentam dificuldades durante suas carreiras. Uma pesquisa realizada pela comunidade Potências Negras mostra que o racismo é muito presente no setor de tecnologia, uma das áreas que mais cresce em todo o mundo.

De acordo com a pesquisa, 83% dos trabalhadores negros já passaram por discriminação no trabalho. 56% dos pretos e pardos estão somente em cargos operacionais ou em nível de assistente ou técnico. Outro ponto relevante é que o rendimento médio desses profissionais negros corresponde a 66% da renda de pessoas brancas.

Sendo assim, mesmo com a capacitação, o mercado de trabalho ainda conta com o racismo estrutural, em que ocorre essa diferenciação de salários e falta de oportunidades e crescimento na carreira.

O movimentos das empresas para mudar o cenário do racismo estrutural no mercado de trabalho

A luta contra o racismo é responsabilidade de todos, não somente do governo. Por isso, nos últimos anos as empresas têm se movimentado e trabalham com estratégias para além de aumentar as contratações de pessoas pretas, acabar de vez com episódios de racismo dentro das organizações. Para isso, as organizações podem seguir alguns passos, veja a seguir.

Treinamentos sobre educação racial no Brasil

Incluir nas ações de endomarketing  palestras e treinamentos para os colaboradores sobre educação racial no Brasil pode ajudar a desconstruir o racismo estrutural. Nesses espaços  podem ser apresentados termos que as pessoas não consideram racistas, mas são, como por exemplo:

  • Amanhã é dia de branco;
  • Inveja branca;
  • Mulata;
  • Morena;
  • Criado mudo;
  • Lápis cor da pele;
  • Lista negra;
  • Mercado negro;
  • A coisa ta preta;
  • Entre outras.

Pessoas negras em cargos executivos

No que diz respeito à valorização de profissionais  pretos, é necessário estruturar programas de desenvolvimento para talentos internos, suportando e criando condições de aprimoramento  em todas as etapas inclusive em cargos executivos Isso já vem mudando nos últimos anos, mas ainda está longe de contar com uma representatividade significativa. Por isso, é necessário um plano para fortalecer as ações de combate ao racismo estrutural e equilibrar a diversidade racial dentro e fora da empresa, por isso é essencial avaliar as estruturas que os impedem de chegar a esses lugares.

Apoiar projetos que trabalham com a pauta antirracista

Participar e firmar parcerias com projetos e até outras empresas que trabalham com a pauta antirracista é mais uma oportunidade de firmar esse compromisso, não apenas com os colaboradores, mas perante toda a sociedade. Exemplo dessa mudança, é  a iniciativa Mover, fundada em novembro de 2020 O Movimento pela Equidade Racial é formado por empresas que assumiram juntas o compromisso de aumentar a participação de profissionais negros; Atualmente,  reúne mais de 40 empresas, entre elas a Ambev, Coca-Cola, Magalu, Nestlé e Vale, e tem a meta de gerar 10 mil novas posições para pessoas negras em cargos de liderança até 2030.

Salário justo

Por último, mas não menos importante, salários iguais para todos. Como visto, ainda existe a diferença salarial entre profissionais negros e brancos e isso precisa acabar. As empresas que reconhecem e praticam salários justos, contam com talentos mais satisfeitos e que se sentem realmente valorizados pela empresa.

Confira a nossa entrevista

O dia 20 de novembro é conhecido como o dia da Consciência Negra, uma data que reforça a importância da luta dos movimentos negros por direitos iguais. Nos últimos anos o Brasil tem apresentado melhoras, mas é preciso que muito ainda seja desenvolvido para termos um país justo e livre do preconceito.

Atualmente contamos com mais representantes negros em diferentes áreas, como na política, CEOs de empresas, influencers e muito mais. Mas falar sobre igualdade e a luta contra o racismo nunca é demais. Por isso, preparamos uma entrevista com o Iago Damacena, profissional de comunicação com mais de 11 anos no mercado e nos fala mais sobre a sua experiência, percepção do mercado e a importância do papel das empresas e sociedade na luta contra o racismo.

Clique aqui e assista!

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