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por Maria Patriarca*
Algumas pessoas focam-se quase exclusivamente nas suas experiências do passado. De um modo geral, em experiências mal sucedidas, em resultados não conseguidos, em problemas. Para estas pessoas, o futuro não faz parte da experiência. O resultado é quase sempre uma sensação de frustração e de impotência.
No lado oposto, todos conhecemos alguém que vive obcecado com o que ainda não aconteceu: como vai acontecer, que problemas vai trazer, que consequências (de um modo geral negativas) vai criar. Esta ansiedade – causa e efeito – está muitas vezes ligada a uma falta de balanço temporal: de interligação das experiências passadas com o presente e com os acontecimentos futuros. Como consequência, a pessoa tem poucas referências que lhe permitam tomar decisões para o futuro. Vista deste modo, a vida não é uma sequência interligada de acontecimentos, apenas uma série de factos desligados entre si, desconexos.
Um dos mais problemáticos impactos deste foco obsessivo no passado ou no futuro é a dificuldade de se focar no presente – a única parte do tempo em que se pode construir algo. Não temos condições para saber o que deve ser feito hoje como forma de garantir objetivos futuros. Para isso, é absolutamente necessário que estejamos lá: no presente. Se o nosso foco estiver nas experiências passadas ou nas preocupações futuras, muito do que está a acontecer hoje vai engrossar a coluna das experiências negativas passadas. Por não ter sido feito com a atenção devida e a projeção necessária.
O impacto no planejamento
Hoje em dia, quase todas as pessoas se socorrem de uma ou outra forma de “planeamento” das suas atividades, com o objectivo de lidar com prazos, cumprir objetivos, atingir resultados. Existem ferramentas em forma de planos diários, semanais, em papel ou suporte eletrônico. Todas prometem uma ajuda para lidar com o crescente aumento de atividades a que necessitamos dar resposta. A forma como usamos as agendas reflete um pouco a nossa relação balanceada – ou não – com os três aspectos da linha do tempo (o passado, o presente e o futuro).
Algumas agendas parecem uma manta de retalhos: mostram-nos compromissos isolados, anotações desgarradas anotadas por uma memória caprichosa que nesse dia se lembrou de algo e nos outros não. Tal como um estudante que prepara uma matéria sem nenhum impacto na sua escolha futura de formação. Ou como alguém que não tem nenhuma expectativa para o futuro. As pessoas excessivamente ansiosas com o futuro têm as agendas sobrecarregadas de inúmeras tarefas – isoladas, desgarradas, mas imensas! Estão sempre ocupadas, têm pouco tempo para si e para a família, têm uma atitude permanente de que há sempre algo pendente. De um modo geral, os seus objetivos não estão claros ou não são exequíveis.
Outras agendas mostram-nos uma relação mais complexa entre o que tem de ser feito hoje e no curto prazo para alcançar algo mais tarde. Mostram-nos um flow, uma interligação entre o passado, o presente e o futuro. Estas pessoas vivem menos estressadas, mais confiantes e, de um modo geral, tendem a sentir-se mais realizadas e a conseguir mais desafios. São ainda estas as pessoas que melhor conseguem um equilíbrio entre a sua vida privada e o trabalho.
O sentido da vida
Uma das formas de evitar a falta de balanço temporal é encontrar para si próprio uma visão, um sentido para a vida. Segundo Rappaport *, sem uma filosofia de vida é como se estivéssemos a explorar um novo território sem um mapa: é fácil quando seguimos uma estrada ou um caminho definido. Quando esse caminho não está claro no terreno, é quase impossível orientarmo-nos.
E o futuro é um caminho pouco conhecido para a maioria dos mortais.
Definir objetivos de vida em conjunto com os objectivos profissionais e considerá-los como um todo é o primeiro passo para a construção de uma base de decisão que, em cada momento, nos orienta para o que deve ser feito hoje no caminho do que queremos alcançar amanhã. Sem perder de vista que aquilo que realizamos no passado: também é obra nossa.
Uma base de decisão para o uso do tempo corresponde a ter uma visão global do futuro ao mesmo tempo que gerimos os detalhes do dia-a-dia.
Quando a nossa visão está clara, é necessário investir um pouco mais de tempo na sua operacionalização e na clarificação dos objetivos de longo, médio e curto prazo decorrentes da visão.
Agora que sabemos como é o futuro ( a visão mais próxima da realidade futura é a nossa representação de como queremos que ela seja), temos de levar a cabo as atividades que garantam que os fatos vão acontecer.
É aqui que precisamos de uma estrutura que nos possibilite ter uma visão global de todas as actividades e saber sempre em que área estamos a trabalhar e qual a sua finalidade. De outro modo, tudo não passaria de um amontoado de tarefas não relacionadas e cujo fim não seria claro.
Para cada tarefa é necessário alocar tempo nas nossas agendas e dispendê-lo realmente nessas e não noutras atividades. As agendas mostrarão, então, um conjunto de compromissos e tarefas interligados que reflectem realmente um balanço correto entre o que fomos e fizemos, o que queremos fazer hoje e o que alcançaremos amanhã. A energia e a motivação necessárias virão da nossa percepção do futuro e da nossa visão global da vida profissional e da vida privada.
* Maria Patriarca é Sócia-Diretora da TMI Brasil (parceira da rede mundial TMI) e fundadora da PlanB Internacional. International Master Trainer, tem atividades de treinamento e desenvolvimento de consultores internacionais TMI e Plan B. Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, tem uma pós-graduação em Gestão e outra em Gestão de Recursos Humanos, pelo Instituto Superior de Gestão em Lisboa.

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