Por Gutemberg B. de Macêdo
Todos os anos, milhares de profissionais ingressam nas organizações com a mente cheia de expectativas em relação à carreira, convictos de que foram predestinados para o sucesso. Eis algumas das premissas que embasam suas convicções: formação acadêmica obtida em faculdade de primeira linha, fluência em vários idiomas, exposição internacional, berço privilegiado, participação em programas de trainees em grandes corporações multinacionais, talento pessoal, presença em redes sociais, entre tantas outras.
Entretanto, passados alguns anos após seu ingresso nessas mesmas empresas, eles descobrem a duras penas que o curso de suas carreiras está cheio de inevitáveis tropeços, repleto de decepções, recheado de frustrações e ameaças de estagnação, para as quais não se prepararam adequadamente, a fim de desafiá-las, contorná-las e superá-las. Daí porque tantos profissionais ainda muito jovens são conduzidos para o “Limbo Corporativo”, lugar reservado aos “chamados” e que desperta verdadeiro pânico aos “escolhidos”.
Os motivos para esse pavor são identificados facilmente. Os “escolhidos” sabem que no “Limbo Corporativo” não há perspectiva de desenvolvimento de carreira, ascensão na hierarquia corporativa, exposição à alta administração, investimentos em treinamento e desenvolvimento, altos salários e benefícios, bônus polpudos, “corner office”, carro blindado, viagens internacionais em poltrona de primeira classe ou executiva, status, poder, influência, entre tantos outros benefícios e regalias.
Com essas considerações iniciais em mente, desejo discutir neste trabalho, duas novas características do perfil de um profissional “escolhido.” Se o leitor leu o artigo anterior desta série (Carreira executiva – você está preparado?), tomou conhecimento sobre as duas primeiras particularidades: primeira, eles constroem a própria sorte. Segundo, eles nunca desperdiçam uma oportunidade de se tornarem incríveis.
Terceira – Os “escolhidos” têm os seus anjos da guarda. E, não raro, eles são escolhidos com racionalidade, inteligência e paciência. Quando você tem os seus “anjos da guarda” bem posicionados na alta administração de sua organização, você está coberto por um manto de proteção. Quando você apresenta suas ideias, projetos, relatórios e opiniões sobre determinados assuntos, todos lhe escutam, porque eles sabem que você tem algo para dizer. Quando surgem os conflitos entre departamentais ou pessoais nos quais você está envolvido, logo surgem os seus defensores e anjos da guarda. Quando uma nova posição se abre em sua área de trabalho, você é o primeiro a ser lembrado e indicado para preenchê-la.
Caro leitor, o seu primeiro e mais importante anjo da guarda em sua organização é o seu superior imediato. Nada, absolutamente nada, acontecerá em sua carreira sem a sua aprovação e consentimento. Portanto, procure surpreendê-lo sempre com trabalhos incríveis, atitudes positivas e construtivas, novas ideias e originalidade, comprometimento, desempenho excelente, flexibilidade e conduta irrepreensível. Nenhum obstáculo será capaz de detê-lo se você assume uma posição distinta e irrepreensível.
Quarta – Os escolhidos não desperdiçam tempo com assuntos ou atividades que não agregam valor à organização onde trabalham e muito menos à sua vida pessoal e carreira profissional. Eles são focados e se concentram apenas no que empreendem.
Desperdiçar o tempo é na verdade uma maneira de praticar o suicídio programado e lento. Afinal, cada dia que se passa em nossa vida nos aproximamos do dia de nossa morte. E que legado deixaremos para a sociedade?
Recentemente perdi meu advogado particular e um grande amigo vitimado por um câncer mortal. Durante os últimos meses de sua vida, a única prece que ele dirigia aos céus era: “Deus permita-me viver um pouco mais. Deixe-me viver um pouco mais. Tenho muitas coisas para fazer.”
Infelizmente, o seu tempo acabou e ele teve de partir para a eternidade. Aquelas coisas que gostaria de ter feito não as realizou. Daí a expressão, “ou você usa o seu tempo de maneira inteligente ou você o perde.” Não existe outra solução.
O desprezo e a negligência quanto ao tempo se manifesta de várias maneiras em nosso cotidiano:
- Conversas longas e frívolas que nada agregam ao crescimento pessoal, à aquisição de novos saberes, ao desenvolvimento de competências gerenciais e ao enriquecimento das amizades.
- Horas desperdiçadas em frente à uma tela de computador sem nenhum objetivo mais nobre como por exemplo: pesquisar sobre assunto específico que enriqueça sua visão do mundo, ler um livro interessante para não ser enganado com facilidade sobre assuntos relevantes para a carreira, se informar sobre matérias que podem impactar positiva ou negativamente sobre nossas vidas e carreiras.
- Longos bate-papos ao telefone que poderiam ser reduzidos a poucos segundos de conversa sem que o diálogo perca a sua eficácia e objetividade.
- Horas e horas diante de uma tela de televisão que os torna cidadãos alienados e medíocres. Além disso, desaprendem a pensar criticamente e passam a aceitar as notícias editadas por alguns editores de plantão como se todas elas fossem verdadeiras.
- Reuniões que nada agregam aos negócios ou ao desenvolvimento de seus participantes. Na maioria das vezes, elas são pura perda de tempo, pois enquanto acontecem, seus participantes estão brincando com seus jogos eletrônicos, lendo ou enviando mensagens em seus telefones celulares.
- Preparação de relatórios gerenciais que ninguém lê, até mesmo aqueles que os solicitaram. Muitas vezes, eles permanecem sobre a mesa dos solicitantes durante semanas a fio sem que nada de concreto aconteça.
- Almoços prolongados sob a justificativa de prospecção de negócios que na maioria das vezes produzem apenas indigestão e custos adicionais à empresa.
Assessorei inúmeros profissionais em processo de transição de carreira, que confrontados com essa questão, o uso inteligente do tempo, admitem de maneira pesarosa que desperdiçaram os melhores anos de sua vida e carreira. Viveram apenas para suas organizações e deixaram de pensar em si mesmos. Poor guys!
Caro leitor, aqui estão algumas perguntas para sua reflexão. Não tenha medo de respondê-las e de fazer uma autocrítica:
- Quanto tempo do dia você dedica à sua saúde física – caminhar, correr, nadar, jogar tênis ou praticar qualquer outro tipo de esporte?
- Quantas horas do dia você dedica ao seu enriquecimento intelectual – leitura, pesquisa, conversa com pessoas cultas e inteligentes, filmes? Você se lembra quais foram os últimos doze livros que você leu este ano? De que maneira a leitura contribuiu para torná-lo melhor? Você é capaz de identificar essas melhorias?
- Quantas horas do seu dia você dedica à educação de seus filhos? Educar não é simplesmente matriculá-los nas melhores escolas e confiar a sua formação a professores que você nunca viu. Educar é colocá-los sobre os próprios pés a fim de que andem sozinhos – self-reliance. Ou nas palavras do escritor soviético, S. Averintchev, 1874-1936, em tentativas de seu entendido, “A educação deveria preparar uma personalidade para ser intimamente independente da opinião alheia e para enfrentar na realidade aquelas situações em que é preciso assumir a responsabilidade de tudo e pagar por tudo em primeira pessoa.”
- Quantas horas do dia você dedica à sua esposa ou ao seu esposo? O diálogo diário fortalece a sua amizade, atenção e carinho ou o faz se distanciar do outro (a)?
- Qual foi a última vez que você empreendeu uma viagem a fim de absorver novas culturas? Você visitou museus, catedrais, teatros, lugares históricos, restaurantes tradicionais, entre outros lugares? O que aprendeu?
- Que porcentagem de seu tempo diário é gasto no gerenciamento de interrupções, “apagando incêndios” ou “matando baratas”? W. Edward Deming, renomado consultor norte-americano, ao analisar o ambiente de trabalho nas empresas norte-americanas, disse: “O trabalhador americano tem em média 50 interrupções por dia, das quais 70% não têm nada a ver com o seu trabalho.” (Sally McGhee e John Wittry, Taking Bach Your Life, 2007). E em nossas organizações privadas e públicas será que é muito diferente?
- Como você administra seu tempo em seu ambiente de trabalho? Você deseja ser mais eficaz no seu dia a dia? Identifique os ladrões de seu precioso tempo e os enforque imediatamente. Aqui vale lembrá-lo as palavras da música de Vandré: “Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora e não espera acontecer.”
Caro leitor, o seu tempo é o seu bem mais valioso. Portanto, não o desperdice. Sugiro que se inspire nas palavras de um escolhido: “Sonhe grande. Forme bases sólidas. Absorva informações como uma esponja. Não tenha medo de desafiar o senso comum. Só porque ninguém fez antes não significa que você não deva tentar. Seja concentrado e faminto. Em momentos decisivos deixe a adrenalina tomar conta de você. Muito tempo depois de os outros pararem para descansar e se recuperar continue correndo e perseguindo algo que ninguém viu.” (Howard Schultz, “Pour your heart into it: how Starbucks built a company one cup a time”, 1997).
*Gutemberg B. de Macêdo é colunista do Empregos.com.br, presidente da Gutemberg Consultores e autor de “Fui demitido. E agora?” (Maltese).
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