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Alexandre Dellamura tem 27 anos, é economista e trabalha como auxiliar financeiro em um banco em São Paulo. Se durante o dia lida com planilhas e cálculos, nos períodos fora do trabalho quem invade a cena são o papel e a caneta. Ele afirma ter três rascunhos de livros na gaveta e um outro em andamento. O primeiro rebento foi lançado há quatro meses e leva o título de “O Sangue de O´Connor”. “É uma obra de ficção que se passa no conflito da Ditadura Militar, e está relacionado com o IRA, exército irlandês”, conta ele. O livro foi lançado por uma nova editora carioca, a Alta Books. Alexandre não tem a pretensão de virar um autor profissional mas também não escreve somente por prazer. “Eu gosto muito de escrever, mas se puder ganhar algum dinheiro com isso, melhor ainda. Estou escrevendo um livro sobre assassinos em série porque eu sei que esse tema vende. Mas tem um outro sobre a Segunda Guerra Mundial, que é um projeto pessoal que eu sei que não deve vender muito, mas vou escrever mesmo assim”.
Alexandre é um dos leitores do livro “Você já pensou em escrever um livro? Informações Fundamentais para Tornar-se um Escritor de Sucesso” (Samm Editora), de Sonia Belloto. Ele diz que o livro forneceu ferramentas que o ajudaram no processo criativo, principalmente na construção dos personagens. O guia traz as técnicas da oficina organizada pela autora para a formação de escritores, inspirada em cursos norte-americanos de expressão. Sonia explica ainda o funcionamento das editoras, analisa o mercado editorial e dá dicas de marketing. “Esqueça tudo o que você já aprendeu sobre escrever. Não existem regras para escrever bons textos. As regras que nos ensinaram na escola só serviram para inibir a nossa criatividade. (…) A maioria de nós encara o processo de escrever como algo difícil e desagradável”, afirma a autora, logo nos primeiros capítulos do livro.
Desesperador? Nem tanto. Apesar de não existirem regras, é possível equipar-se de informações que podem ajudá-lo a enfrentar o processo de forma mais natural e objetiva. “A primeira coisa para escrever um bom texto é perder o medo de escrever, eliminar o trauma de ser julgado e corrigido”, ensina Sonia. “Muitas pessoas têm uma autocrítica exagerada sobre o que escrevem. Se você escreveu um texto e não ficou bom, amassa e joga fora. Tem que começar, sem se preocupar muito com a forma. Lapidar o texto é um processo posterior à criação”, completa a psicoterapeuta e terapeuta corporal Andrea de Arruda Botelho, que desenvolve e ministra oficinas de escrita criativa desde 1996.
Ler e reler clássicos da literatura e depois praticar bastante, sem medo de errar, parece ser a única regra fixa da escrita. Mas é possível listar ainda três condições básicas para produzir um bom texto:

  • Conhecer o leitor
  • Conhecer o assunto
  • Conhecer as técnicas de escrita

É preciso ser criativo para ter um bom texto? Ser criativo é ver as coisas de forma diferente, desenvolver habilidades de percepção e saber traduzi-las em palavras. Andrea afirma que a criatividade não é um pré-requisito, é uma atitude, está relacionada com a postura de cada um. Em suas oficinas, todas realizadas em São Paulo, ela aborda temas e habilidades fundamentais para a escrita criativa e para o autodesenvolvimento – principalmente a percepção – e oferece ferramentas para cultivá-los. O próximo encontro acontece no dia 20 de novembro e terá duas horas de duração.
Ajuda profissional é importante e muito bem-vinda
Você já ouviu falar no parecerista? Este profissional emite pareceres, opiniões e comentários sobre textos, que podem ser literários ou não. De acordo com o parecerista Christian Botelho Borges, a pessoa que já tem um passado de escrita, que já escrevia muito antes de pensar em publicar algo tem mais chance de acertar o tom do texto do que aquela que escreveu pela última vez na redação do vestibular.
Na hora de mostrar o seu texto para um parecerista ou mesmo um consultor literário, tenha humildade para ouvir que o texto não está bom, e prepare-se até para reescrevê-lo, caso haja necessidade. “Muitas pessoas têm dificuldade em aceitar as críticas e sugestões, e sofrem muito quando precisam mudar alguma coisa no texto. Esta é uma atitude que não vai ajudar em nada. Recomendo que as pessoas aproveitem esse momento para crescer e melhorar ainda mais”, orienta Christian.
O parecerista listou dois erros muito freqüentes, que não devem ser feitos na hora de escrever um livro:
Muita atenção com o público-alvo. O escritor precisa saber com precisão qual público quer atingir. Por exemplo, se você é um médico endocrinologista e está escrevendo sobre dieta para leitores leigos no assunto, de nada adianta escrever numa linguagem técnica, citar pesquisas e procedimentos médicos específicos. A linguagem deve ser leve porque o público não conhece o assunto, mas ao mesmo tempo não pode ser seca, exemplos e personagens são importantes porque ilustram o assunto.
Não queira agradar a todo mundo. Seu livro tem um foco, lembra? Complementando o item anterior, é comum o autor querer escrever um livro infantil que dá dicas para os pais, professores e educadores. Isso não existe. Se o livro é para as crianças, foque na linguagem e no universo deles. “Você precisa ter em mente que vai perder leitores, mas com certeza ganhará outros”. Da mesma forma, cuidado quando for escrever sobre aquilo que conhece e gosta mais. “Há uma tendência de aprofundar naquilo que se conhece mais e perder o foco inicial do texto. Perder esta linha narrativa pode destruir toda a obra”.
Nunca, jamais, mande seu texto para a editora sem revisão. Isso demonstra falta de respeito com a editora e aumenta ainda mais as chances do seu livro ir parar no lixo. Aquele seu primo que era bom de português nos tempos de colégio não conta. Nesta hora, pague pelo serviço de um bom profissional.
“Escrever é diferente de ser escritor. Qualquer um pode desenvolver a escrita. O que diferencia um escritor de talento de um mediano é onde esta pessoa vai chegar”, alerta Andrea Botelho. Christian completa dizendo que nem todos têm a pretensão de ser grandes escritores, e em alguns casos a publicação por uma editora é inviável e desnecessária. Isso ocorre quando você quer registrar a história da sua família ou da sua turma de amigos, por exemplo. São temas muito específicos, que só vão interessar a você e as pessoas que viveram o momento ou mesmo fazem parte do seu relacionamento. Nestes casos, a solução é fazer uma edição de autor, com uma tiragem limitada de 10, 15 ou 20 exemplares, ou mesmo recorrer à internet, com os blogs, páginas pessoais e livros eletrônicos, mais conhecidos como e-books.
Todas as pessoas podem fazer um livro mais despretensioso, que não tenha ambições comerciais e consiga ser editado em uma editora pequena, muitas vezes com o dinheiro do próprio autor. Mas Christian avisa: ter seu livro publicado por uma editora grande é muito difícil. As editoras estão abarrotadas de originais esperando para serem lidos, apenas uma pequena parcela é publicada. “Primeiro você precisa mostrar que é capaz de produzir um livro comercialmente viável. Só depois disso é que as editoras irão se interessar em publicar seus trabalhos”, diz a escritora Sonia Belloto.
Potencial existe, falta estrutura para crescer
Uma nota divulgada recentemente pela Revista Amanhã afirma que “o mercado editorial já movimenta cerca de R$ 3,3 bilhões por ano no Brasil – e exibe um grande potencial a ser explorado. De acordo com a pesquisa ´Retrato da Leitura no Brasil`, da Câmara Brasileira do Livro (CBL), cerca de 26 milhões de brasileiros leram pelo menos um livro nos últimos três meses. Parece muito, mas o fato é que esse número ainda equivale a apenas 30% da população adulta alfabetizada. Para a coordenadora da pesquisa e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Adélia Franceschini, os maiores entraves para o desenvolvimento desse setor é a baixa qualidade do ensino brasileiro e o restrito acesso aos livros, tanto pelo preço quanto pela falta de bibliotecas”.

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