Um jeito diferente de manter a memória em boa forma. Essa é a proposta do livroMantenha o Cérebro Vivo – 83 Exercícios Neuróbicos para Prevenir a Perda de Memória e Aumentar a Agilidade Mental (ed. Sextante), que acaba de ser lançado no Brasil.
O “manual” foi baseado nos estudos desenvolvidos por Lawrence C. Katz, professor de neurobiologia da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, e por Manning Rubin, estudioso da área de Comunicação. A Neuróbica é o nome dado pelos autores para um conjunto de exercícios capazes de desenvolver os sentidos pouco empregados no dia-a-dia e de estimular a atividade cerebral, refazendo e criando novas conexões entre os neurônios.
O desenvolvimento de novas ligações entre os neurotransmissores (mensageiros químicos que levam a informação de um neurônio para outro) ajuda a retardar o envelhecimento do cérebro, mantendo-o ágil. É que as células nervosas produzem moléculas – como as neurotrofinas – que agem como nutriente cerebral. E a quantidade destes nutrientes produzidos pelas células nervosas está diretamente relacionada com o nível de atividade destas células. Quanto mais ativas, mais nutrientes produzirão. A estimulação sensorial, proposta no livro, produz novos padrões de atividades nos circuitos nervosos colaborando para a saúde cerebral.
Mudanças no cotidiano são ingredientes essenciais
O objetivo dos exercícios é fazer o indivíduo escapar da rotina. A idéia é oferecer novos dados ao cérebro e procurar aguçar os cinco sentidos. Nesse último aspecto, o livro privilegia o olfato e o tato, justamente por serem pouco explorados no cotidiano. Alguns exemplos: experimentar entrar em casa com os olhos fechados e realizar todas as atividades habituais assim. Achar a chave, destrancar a porta, acionar a secretária eletrônica, caminhar até o quarto. Quem está habituado a sentir cheiro de café logo pela manhã, pode substituir a bebida por um chá de hortelã, ou outro qualquer que tenha um aroma diferente do que se está habituado. Leitura em voz alta é outra forma de estímulo. A dica é ler para alguém e depois apenas ouvir. Para ativar o paladar, escolher pratos exóticos é altamente eficaz.
Estudos de imagens cerebrais realizados pelos pesquisadores demonstraram que o indivíduo que introduz novas tarefas em seu cotidiano tem um aumento na atividade cerebral. Isso acontece porque cada nova informação cria uma rede de ligações entre dois neurônios. E essas conexões são fundamentais para que o cérebro possa tanto armazenar novas mensagens como recuperar as antigas. Em contrapartida, o estudo mostrou também que a agilidade declina quando as atividades são rotineiras e repetitivas.
Stress, depressão e ansiedade prejudicam a memória
Fazer exercícios físicos moderados, comer bem e manter a mente ocupada é a melhor maneira de preservar e estimular o desempenho cognitivo do cérebro. Quem garante é o neuropsicólogo Orlando F. A. Bueno, coordenador do Centro Paulista de Neuropsicologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “A mudança na rotina, a leitura, os jogos lúdicos, o raciocínio e o lazer introduzem novas informações no circuito cerebral e desenvolvem a atenção e a memória operacional, aquela acionada no momento em que se está executando uma tarefa e que, ao mesmo tempo, permite registrar outros estímulos que se passam a sua volta”, diz Bueno.
Segundo o especialista, exercícios como os propostos pelo livro americano são interessantes. “Mas eles também não devem virar rotina. Senão, a mente se acomoda e os benefícios deixam de existir. Daí será preciso criar mais 83 atividades novas que ativem o cérebro”, critica. Bueno ainda destaca que o stress, o excesso de ansiedade e a depressão são alguns dos principais sabotadores da memória. Esses problemas dificultam a circulação sangüínea – o que piora com a idade já que os vasos estão mais estreitos – e podem gerar uma má irrigação do hipocampo, estrutura que fica na base do cérebro e é fundamental para a formação e a recuperação das lembranças.
Natália Rangel, especial para Salutia