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Excessos – “Em questões de saúde, não há extintor para apagar o fogo”, aprendeu Renato Requião da Rocha, engenheiro e presidente da Fundação Inepar, grupo empresarial com sede em Curitiba. A conclusão, que fez Renato mudar a sua vida, veio da própria experiência. Depois de passar dez anos sem tirar férias e participando pouco do convívio familiar, o executivo começou a apresentar sintomas de depressão. “Hoje, para não ter a depressão de volta, faço exercícios e caminho”, descreve.
Casado e com duas filhas, Renato também valoriza melhor o tempo que dedica à família. Para completar, voltou a freqüentar o museu do automóvel, uma paixão antiga. “Me reúno para conversar com outras pessoas no museu e isso funciona como terapia”, conta. O ritmo de trabalho continua alucinante, mas um pouco mais regrado. A rotina começa às sete e meia da manhã, inclui almoço no refeitório e termina às seis da tarde. Pelo menos duas vezes por semana, Renato tem compromissos extras na empresa, que se estendem até as oito e meia da noite. Isto quando não está viajando, em visitas às unidades do grupo.
A agenda de Wilson Brito, diretor administrativo da corretora de valores PlaniBanc, não é menos estressada. Casado e com 32 anos, Wilson atua na empresa há seis anos e é responsável pelo back office, setor que processa todas as transações realizadas pelos operadores na mesa. Isto o faz responsável pela movimentação de cerca de US$ 10 milhões por dia, valor das ações das 500 empresas que a PlaniBanc representa no mercado financeiro. “Cada minuto do meu trabalho significa dinheiro. Não há tempo para pensar. No mesmo instante em que uma ação está em alta, ela muda e começa a cair. Por isso, estamos sempre em estado de alerta”, descreve Wilson.
Apesar da correria e das horas a mais de trabalho, Wilson sempre foi considerado pelos colegas uma pessoa tranqüila e descontraída. Pelo menos, até quatro meses atrás. “Comecei a me sentir cansado e sem paciência para nada”, conta o executivo. Pequenos problemas passaram a ser motivo de irritação profunda, os colegas começaram a reclamar. “Não dava mais atenção nem para meus filhos”, lembra.
Ao invés de descansar, Wilson passou a levar trabalho para casa, não conseguia mais relaxar nem durante o sono e a insônia era cada vez mais freqüente. Resultado: uma gastrite e problemas na pele – ambos provocados pela liberação dos tais hormônios e substâncias que o nosso organismo produz nos estados de alerta, lembra?
“Só aí me dei conta de que estava estressado”, confessa Wilson, reconhecendo uma parcela de culpa neste processo.
“Nos últimos três anos, eu quase não almoçava, não tirava férias e deixei de praticar esportes.” Os problemas estão sendo resolvidos com um tratamento à base de vitaminas e florais de Bach,
combinado com uma readequação de hábitos de vida.
“Procuro seguir à risca um planejamento, com tempo para atividades extras, convívio com a família e para as refeições.” Como lazer, Wilson escolheu um esporte que, curiosamente, está associado a altas doses de adrenalina: o pára-quedismo. Só que, ao contrário da adrenalina liberada no trabalho, ao saltar de um avião a sensação é muito mais prazerosa.
Trabalho, logo sofro – “O trabalho traz mais sofrimento do que prazer”, constata o francês Cristophe Defours, psiquiatra e responsável por uma linha de estudos sobre a organização do trabalho e a saúde mental do trabalhador. E não adianta negar: por mais que se goste do que se faz, por mais que se vibre com uma promoção ou com um elogio, por mais que se trabalhe 12, 15 horas por dia sem sentir falta alguma de outras atividades, o sofrimento no ambiente de trabalho é algo inerente à forma como ele foi organizado ao longo de séculos.

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