Carreiras | Empregos

por Fátima Motta e Edsom Galrão França
O objetivo desse artigo é discutir um caminho para tornar os times de trabalho mais eficazes, mais produtivos, voltados a resultados significativos. Mais do que nunca existe a necessidade de se trabalhar em times e é nesse momento que se observa quantos problemas aparecem quando grupos de pessoas se unem para realizar um trabalho. Vários são os motivos para a existência desses problemas, mas, a partir de experiências com algumas empresas, pudemos observar algo invisível, mas tão pernicioso quanto um vírus se não cuidado: é o lado emocional. Nesse artigo vamos discutir como as emoções, ideologias, valores e crenças podem se tornar grandes facilitadores para o trabalho em times de alta performance.
Times: pessoas diferentes com objetivos comuns
As mudanças na hierarquia das empresas, a necessidade de maior conhecimento, assim como a velocidade das informações, são fatores que, entre outros, geraram a necessidade do trabalho em times. No entanto, poucas são as empresas que conseguem transformar seus grupos de trabalhos em verdadeiros times. Mais difícil ainda é transformá-los em times de alta performance.
O grande motivo é que times são formados por pessoas, em pequeno número, com objetivos comuns e conhecimentos complementares, compromissadas com uma meta de alta performance. Quando se fala em pessoas, aí já se encontra grande complexidade. Cada pessoa traz para o time seus componentes individuais – mente, corpo, emoções e espírito. Além disso, os objetivos de cada pessoa são diferentes, assim como o significado que cada um enxerga no trabalho, o que interfere na vontade em disponibilizar os próprios conhecimentos para o time e no comprometimento com a meta de performance. O que se percebe, então, é que existe um caminho a percorrer para transformar grupos de trabalho em times e esse caminho passa por vários pontos:

  • Formação do time com pessoas altamente competentes, com perfil adequado para trabalhar em times, ou seja, preferência em trabalhar com outras pessoas, que não precisem brilhar sozinhas e que tenham abertura suficiente para compartilhar conhecimentos, idéias e experiências;
  • Definição clara do objetivo a ser alcançado e que seja um desafio tão forte a ponto de virar um sonho, uma paixão;
  • L iderança com características de transformação e com sensibilidade suficiente para “curar” o time, além de prover os recursos necessários para o alcance do objetivo;

Emoções, ideologia, crenças e valores: o lado invisível dos times
Os pontos descritos anteriormente são básicos para a formação dos times, mas não suficientes a ponto de garantir alta performance, uma vez que existe todo lado emocional que, apesar de mudo, fala muito mais alto.
É o lado emocional responsável pela presença do otimismo, da motivação, do comprometimento, da busca do sucesso conjunto, fundamentais para o alcance de resultados, assim como pelos fatores que destroem qualquer time: inveja, ciúmes, rigidez, angústia, decepção, medo, insegurança, resistência e estrelismo.

Portanto, para assegurar a alta performance de um time, há de se trabalhar os processos emocionais oriundos das relações entre os membros do grupo e de cada com a tarefa.

Em outras palavras, é preciso olhar o invisível, tornar explícito o conteúdo implícito do grupo, tirar debaixo do tapete a sujeira emocional escondida. E aí está a grande diferença de um líder: o que enxerga além da tarefa, todo conteúdo emocional que permeia o trabalho e as pessoas.

Essa afirmação baseia-se no simples fato de que toda ação ou relação humana está carregada de conteúdos emocionais que interferem positiva ou negativamente nos resultados que a pessoa ou um grupo pretende obter.
Quando os conteúdos emocionais de um grupo não são trabalhados, parte da energia que deveria estar a serviço da tarefa é usada para represar essas emoções e alimentá-las, construindo estruturas de defesa e “boicotes”. Se as pessoas não conseguem espaço para falar de seus sentimentos em relação à tarefa e aos integrantes do grupo, a energia utilizada para lidar com o medo, angústia, desespero, incompetência, intranqüilidade, ansiedade, raiva, tristeza e ressentimentos, torna a relação falsa e a tarefa improdutiva.
Analisar o conteúdo emocional é tornar explícito o implícito do grupo. Não se trata de psicoterapia grupal, porque nesta análise não se entra na vida privada dos membros, nem na sua intimidade emocional, mas sim nas emoções relacionadas ao grupo e à tarefa.
Quando há possibilidade de um grupo explicitar o implícito, toda energia produtiva aprisionada para manter o implícito é liberada para ser usada na realização da tarefa.
Alguns grupos são tipicamente doentes, ou seja, não apresentam avanços na tarefa, rodam em círculo vicioso, porque sua energia produtiva está sendo canalizada para a manutenção da ‘doença’, a improdutividade.
Um outro lado dessa história está relacionado às ideologias, às crenças e aos valores dos integrantes do grupo. Refletem-se constantemente em todos os pensamentos conscientes e inconscientes, possuem grande carga emocional e são os responsáveis pela direção de todas nossas ações e relações.
Apesar de cada pessoa tratá-los como resultados de um raciocínio puramente lógico, freqüentemente o que ocorre é a existência de um significado interno, construído nas experiências afetivas desde a infância e que afetam nosso comportamento, muitas vezes de maneira inconsciente.
Como exemplo, podemos citar alguém que enxerga no time a possibilidade de realização, crescimento e amadurecimento pessoal. Outra pessoa, do mesmo time pode enxergá-lo apenas como forma de projeção pessoal. Essas distintas formas de pensar podem levar o time à estagnação, já que as duas diferentes visões podem se cristalizar em posições rígidas face à uma questão qualquer relacionada à tarefa.
São as ideologias, valores e crenças que constróem os comportamentos estereotipados, limitando a criatividade e criando uma visão viciada, impedindo a construção de novas soluções.
Quando rompido o estereótipo, o grupo se transforma em um time aberto a novas descobertas, onde teoria e prática se integram, construindo uma força criativa no próprio campo de trabalho.
Um caminho para chegar aos times de alta performance
Para “curar” o grupo e transformá-lo em time precisa-se considerar e trabalhar profundamente os sentimentos universais que Enrique Pichon-Riviére, psicanalista argentino, destacou como atuantes em qualquer grupo que venha a se formar frente a situações novas:
– medo da perda da estrutura anterior
– medo de ser atacado e de não dar conta da nova situação
– medo e resistência à mudança
– sentimento básico de insegurança
– resistência às novas aprendizagens e comunicações
Nossa proposta para transformar o grupo em time é a de possibilitar um “enraizamento”, ou seja, é tirar o time da superficialidade da tarefa e aprofundar as questões referentes ao conteúdo emocional. Para tanto, precisa-se:
– esclarecer o conteúdo implícito, trazendo à tona todas as emoções referentes à equipe na tarefa
– discutir e “limpar” essas emoções, reconhecer a ideologia e valores de cada membro do time
– estabelecer uma visão, ideologia, crenças e valores integrados na tarefa específica
– valorizar e respeitar as diferenças individuais
– construir uma rede de confiança e de cumplicidade
Cabe ao líder ser o grande transformador e curador do time, assim como cabe a cada integrante a disponibilidade em querer percorrer um caminho conjunto, buscando possibilidades de troca, aprendizagem, autoconhecimento e exercícios de convivência.
Assim como o conhecimento técnico é valorizado, quando se fala em times, o desenvolvimento da sensibilidade é fator-chave para o sucesso, para o alcance de resultados. Precisa-se ter a sensibilidade para ler e interpretar o grupo, compreender e aceitar as emoções, desenvolver a coragem para administrar situações de conflito, flexibilizar o poder e a liderança, transitar entre o saber e o não saber.
Compreender as emoções já é um grande passo, mas, além de compreendê-las, o líder precisa também aceitá-las como uma necessidade de expressão e não como um ataque pessoal.
Administrar conflitos é outro grande desafio, onde a imparcialidade é crucial para que se mantenha a coesão do time O líder precisa cuidar para nunca expor nenhum membro do time isoladamente. Qualquer problema deve ser tratado como um tema do time e não como uma questão individual.
Talvez o ponto alto seja a capacidade de flexibilizar o poder e a liderança. É reconhecer que o conhecimento e o saber individuais são limitados e que, no time, ampliam-se a ponto de construir uma sinergia tão enriquecedora para todos, onde o não saber é tão importante quanto o saber, porque é no não saber que reside a criatividade. Isso tudo nos leva a compreender que a convivência é tão importante quanto a realização da tarefa, uma vez que é a convivência que dá significado à existência de todo ser humano.
* Profa. Fátima Motta é graduada em Administração de Empresas e Comunicação, pós-graduada em Administração, Consultora especializada em desenvolvimento de Lideranças e Comportamento Humano, com vivência em cargos executivos em empresas de porte. Professora da matéria Fator Humano como Diferencial Competitivo nos cursos: MBA-Executivo e MBA-ITA da ESPM. Também é sócia-diretora da F&M Consultores.
* Prof. Edsom Galrão França, professor da cadeira de Fator Humano como Diferencial Competitivo no cursos de Pós de Marketing da ESPM e terapeuta bionergético.
A Profa. Fátima Motta ministrará o curso “Como desenvolver equipes de alta performance”, cujo objetivo básico é desenvolver nos profissionais as competências para participar e liderar trabalhos em equipe, na sede da ESPM, no dia 24 de julho, em São Paulo.

SERVIÇO
O quê: Como desenvolver equipes de alta performance
Quando: Dia 24 de julho de 2004 – sábado, das 9h às 18h, com 09 h/aula
Onde: Escola Superior de Propaganda e Marketing – Rua Joaquim Távora, 1240, em São Paulo, Capital
Quanto: R$ 370,00 à vista ou R$ 380,00, com almoço incluso.
Informações: pelo site da ESPM ou por e-mail: ferias@espm.br. Por telefone: (11) 5085-4600
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