Carreiras | Empregos

por Juliana Ricci
Em 54 anos de existência, a rede de varejo transformou-se num grupo que reúne 29 lojas, sendo 28 delas distribuídas pelo Rio de Janeiro e uma no Espírito Santo, considerada o primeiro passo da expansão para fora do estado. Com seções de cama, mesa e banho, lingerie, calçados e bolsas, brinquedos e moda adulto e infantil, a empresa tem origem em Miracema, no norte Fluminense, onde mantém até hoje uma loja. Seu maior crescimento até agora aconteceu em 1970, quando inaugurou lojas em Itaperuna, São Gonçalo, Icaraí, centro de Niterói, e Barreto, também, em Niterói.
Depois disso, a Leader não parou mais. O crescimento ininterrupto é uma marca da organização, que conta hoje com 3.000 funcionários integrados graças ao modelo de gestão participativa adotado pela liderança. De acordo com Suzy Gouvêa, “a gestão participativa é o que mais motiva as pessoas, porque na realidade todo mundo quer colocar seu talento à disposição da empresa e ser reconhecido por isso”. Outro forte alicerce do desenvolvimento da companhia é a cultura organizacional. “Sempre penso em como disseminar a cultura, influenciar e envolver os profissionais”, diz a executiva.
Um dos grandes impulsionadores de venda é o cartão próprio Leader Magazine, que começou a fazer parte da rede em 1998 e oferece como vantagem adicional descontos em centenas de empresas, o que rendeu à rede de varejo o Prêmio de Destaque de Marketing em 99 da ABMN – Associação Brasileira de Marketing e Negócios. Atualmente, a empresa conta com cerca de 2 milhões de clientes portadores do cartão próprio, que representa 75% de suas vendas.
Outros prêmios, como o Destaque RH 2003 recebido por Suzy Gouvêa, demonstram a evolução da maneira de fazer negócios e gerir pessoas na Leader, que levou à transformação pela qual a empresa e a área de Recursos Humanos vêm passando desde o ano passado. “Ao fazer o planejamento estratégico para 2005 decidimos reestruturar o plano de carreira, de cargos e salários e benefícios, e contratamos a consultoria Hay para nos ajudar. Também estamos fazendo um grande projeto de mudança de valores, missão e teremos que disseminar isso entre os funcionários. Ainda estamos montando um código de conduta, para deixar ainda mais claro o que a empresa espera de cada funcionário”, revela Suzy.
Quer saber detalhes sobre as novas diretrizes da Leader Magazine e sobre como a área de Recursos Humanos oferece suporte ao desenvolvimento da empresa? Leia nesta entrevista concedida ao Empregos.com.br.
Empregos.com.br – Fale sobre a sua formação e a sua carreira
Suzy Gouvêa – Sou formada em Psicologia com pós-graduação em Recursos Humanos. Fiz MBA em Varejo e MBA Executivo no Copead da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), porque considero que ter visão de mercado, de finanças e negócios é fundamental para o profissional de RH. O começo de minha carreira se deu na área clínica, depois entrei na Leader como estagiária. Saí de lá e depois de um tempo voltei como gerente de RH. Desde então estou há 15 anos na companhia.
Empregos.com.br – O que você acha que mudou nesses 15 anos?
Suzy Gouvêa – Não tínhamos uma política voltada para o relacionamento com a equipe e hoje temos a estrutura voltada para isso, porque entendemos que essa é a base dos bons resultados.O RH ficou estratégico, voltado para o negócio da empresa. Isso era uma necessidade, porque é um reflexo do mercado. Os executivos de RH precisam conhecer o negócio da empresa e isso dá credibilidade para a própria área. Como propor treinamento, por exemplo, sem conhecer os processos que devem evoluir e as necessidades da emrpesa? É preciso ter visão sistêmica.
Empregos.com.br – Como o RH age estrategicamente na prática? Como está estruturado?
Suzy Gouvêa – O primeiro ponto é ter uma diretoria e estar no board, fazer parte da cúpula que toma decisões. Além disso, é preciso que a área possa dirigir-se diretamente ao presidente, para ter o poder de influenciar a cultura da empresa. Aliás, cultura é um dos pontos com os quais mais me preocupo. Sempre penso em como disseminá-la e envolver os profissionais. Como ela se define a partir do que pensa a liderança, se eu não tiver o contato direto com o presidente perco a possibilidade de fazer esse trabalho. O setor de Recursos Humanos está dividido em equipes que cuidam das áreas de folha de pagamento, benefícios, cargos e salários, seleção, treinamento, etc. São cerca de 50 pessoas.
Empregos.com.br – Você ganhou o prêmio Destaque RH 2003. Fale sobre ele.
Suzy Gouvêa – Ganhei na categoria “Profissional do ano”. Foi feita uma avaliação do trabalho realizado por meio de uma visita à empresa e entrevistas com funcionários. Pessoalmente foi muito importante porque as políticas diferenciadas que temos aqui são exceções no varejo, então ao ser premiada por elas eu percebi que poderia estar no caminho certo. Nós vamos contra a linha do mercado, acreditamos em motivação, em baixo turn over, em fidelização de profissionais. Somos um case de RH, somos convidados a dar palestras, o que traz valor para a empresa também. O prêmio, na verdade, não é só meu, é da equipe e da empresa toda.
Empregos.com.br – Mesmo com esse investimento em fidelização vocês têm problemas de alto turn over, que é característico da área de varejo?
Suzy Gouvêa – Em 2004 a taxa ficou em 15%, que para nós é alta, mas para o mercado de varejo não é, já que a média é de 40%.
Empregos.com.br – Como vocês administram os funcionários das 29 lojas à distância?
Suzy Gouvêa – Nós desenvolvemos o gerente para que ele faça o nosso papel. O conhecimento de lidar com pessoas não pode estar fechado no RH, pelo contrário, precisamos ter genialidade coletiva, o que significa que os gerentes devem estar preparados para ser seu próprio RH. Também desenvolvemos ferramentas que possibilitem a ele aprender e aplicar isso. Fazemos com que ele tenha autonomia para agir, mas a partir de uma política única, que nos norteia.
Empregos.com.br – Há algum tempo, nós publicamos um artigo de sua autoria onde defendia a idéia de que precisamos reduzir o desperdício de pessoas, já que geralmente contratamos pessoas com múltiplos talentos, sonhos, idéias e utilizamos somente seus braços, sua “mão-de-obra”. Como você coloca isso em prática na Leader?
Suzy Gouvêa – Estimulando as pessoas a participarem do sucesso da empresa e compartilhar isso com todos. Nós queremos pessoas com olhar crítico e não obedientes o tempo todo. Isso é aproveitar o que cada um tem de individual. Os projetos, por exemplo, são feitos por equipes multidisciplinares, assim temos a visão de todos, e visões diferentes, para decidir algo. O modelo de gestão participativa é uma das melhores maneiras de motivar as pessoas, porque na realidade todo mundo quer colocar seu talento à disposição da empresa. Não há nada melhor para crescer e superar desafios. A rotina quebra a emoção da empresa, precisamos combatê-la. Os próprios gestores fazem esse trabalho com a equipe, não permitimos que eles fiquem só mandando.
Empregos.com.br – Por que mesmo com iniciativas como essa ainda é tão difícil liderar?
Suzy Gouvêa – É preciso ver se a pessoa acredita que realmente a equipe faz a diferença ou se a usa só como recurso. Geralmente os líderes querem pessoas iguais a eles na equipe quando na verdade precisam procurar diversidade, para fortalecer seus pontos fracos. As pessoas foram desenvolvidas para serem chefes, o que significa não ter pessoas fortes por perto. Isso significaria uma ameaça ao seu poder. Assim fica difícil mesmo liderar. Eu quero pessoas fortes ao meu lado porque não sou boa em todos os processos de RH. Eu tenho uma visão geral e conduzo aqueles que sabem mais dos detalhes do que eu. Não se pode ter vaidade com relação a isso.
Empregos.com.br – Como é o processo seletivo? Quais as competências essenciais para ser funcionário da Leader Magazine?
Suzy Gouvêa – Além do recrutamento interno, já que os funcionários da rede têm prioridade na hora da contratação, garantindo a oportunidade de crescer dentro da empresa, estamos terceirizando o processo seletivo. Temos um objetivo grande de expansão e lá na frente cuidar do recrutamento internamente não será mais viável. Assim, já permitimos que o candidato mande o currículo pelo site da empresa, fortalecendo esse canal de comunicação, e quem vai cuidar de tudo é uma consultoria. Quanto às competências, priorizamos o perfil comportamental, então queremos saber se o profissional sabe trabalhar em equipe, ter bom relacionamento interpessoal, dinamismo, versatilidade, e se é um bom vendedor de idéias. Todas essas características são fundamentais na área de varejo.
Empregos.com.br – Como está estruturada a política de benefícios da Leader Magazine?
Suzy Gouvêa – Oferecemos seguro-saúde, odontológico, alimentação, previdência privada, convênios com farmácias, instituições financeiras para linha de crédito, convênio com desconto em instituições de ensino como faculdades, seguro de vida e temos uma política salarial com premiações. Os funcionários de nível gerencial também têm a possibilidade de participar da universidade corporativa, criada por meio de parceria com o Instituto PROVAR, da USP (Universidade de São Paulo). Os aprovados na seleção fazem o curso de pós-graduação em varejo. Estamos na primeira turma da pós e o projeto foi muito bem aceito. Um dos trabalhos de Marketing elaborado pelos alunos foi entregue ao diretor e estamos viabilizando a implantação. Na formatura, que será no meio do ano, o melhor trabalho levará um prêmio.Eu acredito que a satisfação dos funcionários tenha origem nessa forte política mas também há outros fatores. O clima é o mais importante. Temos abertura com a direção, liberdade de opinar e isso conta muito. Os benefícios ajudam a ficarem tranqüilos, inclusive com relação à família, para produzirem bem.
Empregos.com.br – Como vocês investem em treinamento, além do curso de pós-graduação?
Suzy Gouvêa – A empresa mantém investimento constante na profissionalização de sua equipe e criou a Elevar, primeira escola de varejo do Brasil cujas aulas são ministradas por funcionários. São realizados programas internos voltados para o desenvolvimento de liderança e avaliação do desempenho funcional. O setor de varejo depende do pessoal de ponta, que atua diretamente com o cliente, mas temos que ter treinamentos que atinjam toda a empresa sempre. Em 2005 trabalharemos principalmente junto aos supervisores comerciais e de crédito.
Empregos.com.br – Como é a atuação da Leader na área de Responsabilidade Social? E a sua ligação com o Instituto Ethos?
Suzy Gouvêa – Incentivamos os funcionários a serem voluntários. Cada loja adota uma instituição próxima, propõe um projeto e se for aprovado, os funcionários ficam autorizados a sair durante o expediente para trabalhar lá. Temos alguns projetos também, como o “Amanhã”, que tem como objetivo propiciar a adolescentes, de 14 a 16 anos, o acesso ao mercado de trabalho e à profissionalização, com todos os direitos trabalhistas e previdenciários garantidos, e o “Mãos à Obra”, para oferecer cursos de curta duração destinados aos familiares dos nossos funcionários e para instituições sociais. Quanto ao Ethos, no final de 2003 fui convidada para ser a representante oficial da entidade no estado do Rio de Janeiro. Eu ministro palestras e participo de reuniões mensais com os associados para debater os temas ligados ao Terceiro Setor.
Empregos.com.br – É quase uma unanimidade a reclamação de executivos e profissionais de RH sobre a CLT. Qual é a sua opinião sobre as leis trabalhistas?
Suzy Gouvêa – A CLT atrapalha as relações entre empregadores e funcionários porque tem muita regra, não acompanha o mercado atual e torna-se um inibidor de demissões e contratações. Hoje fazemos o papel do governo, oferecendo plano de saúde, plano odontológico e outros benefícios que deveriam ser direito básico da população. Os custos chegam a dobrar, tanto com relação aos impostos e taxas de contratação e demissão, como no exercício desse papel social.
Empregos.com.br – Qual é a contribuição mais importante que a área de RH pode dar a um profissional com relação à sua carreira e trajetória profissional?
Suzy Gouvêa – O RH tem a maravilhosa oportunidade de ensinar a lidar com mudanças e pessoas, flexibilizar, aproveitar oportunidades. Além disso, pode ensinar os profissionais a liderar e reconhecer a complementaridade das diferenças. Quem não sabe essas coisas não chega longe na carreira profissional.
Empregos.com.br – Como você avalia a qualidade do setor de Recursos Humanos no Brasil? O que precisa melhorar?
Suzy Gouvêa – Fui convidada recentemente a participar de um grupo de executivos de RH e fiquei feliz com o nível das pessoas. Lá é possível conversar sobre negócios sob a ótica da gestão de pessoas. Esse é o caminho, afinal nós trabalhamos para os negócios e temos as pessoas como a ferramenta de trabalho. Ao mesmo tempo, vejo que visão estratégica é um tema que ainda precisa estar mais presente, ser mais discutido. A grande escola é conhecer bem a própria empresa e ver o que podemos dar como contribuição a ela.

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