Carreiras | Empregos

Por Gisèle de Oliveira
Você já esqueceu de voltar ao trabalho depois do horário de almoço? Não? Mas acredite, essa foi uma das justificativas alegadas em recente pesquisa da consultoria norte-americana CareerBuilder intitulada Out of the Office (literalmente, fora do escritório), que constatou que cada vez mais os trabalhadores estão inventando desculpas esfarrapadas para faltar ao serviço. Mais de um terço dos entrevistados afirmaram ter “enforcado” o trabalho nos últimos 12 meses. Outro dado que o estudo apontou foi que 35% justificaram uma falta com uma suposta doença, mesmo não estando doentes, pelo menos uma vez no último ano, sendo que 10% repetiram tal desculpa três ou mais vezes no mesmo período.
A desculpa da doença foi usada para camuflar outras razões para a ausência no trabalho e as principais delas foram: resolver problemas pessoais, dormir mais e apenas relaxar. Entrevista de emprego, compromisso com o filho, mau tempo e planos com amigos também foram citadas. Por incrível que pareça, 20% faltaram porque não estavam com vontade de trabalhar e 25% assumiram a ausência no trabalho como folgas extras. Essa tendência foi confirmada por outra pesquisa – Faltas não agendadas de 2004 – realizada pela Harris Interactive, empresa também norte-americana especializada em pesquisas de mercado pela Internet. De acordo com a Harris, somente 38% das faltas são realmente por motivos de doença, enquanto que as outras 62% são por questões familiares (23%), assuntos pessoais (18%), estresse (11%) e por sensação de merecimento (10%).
Em terras brasileiras
No Brasil não é diferente e conta ainda com um agravante: o medo que as pessoas têm de perder o emprego. Pode parecer contraditório dar uma desculpa absurda por medo de falar a verdade e ser despedido, mas isso acontece e muito. Tirando a face cômica da situação, ela demonstra um lado muito mais sério que precisa ser analisado: o motivo real que leva as pessoas a agir dessa forma. “Além de ser um comportamento característico nosso, as pessoas estão com medo do desemprego e isso as leva ao ridículo, vai morrer muita avó, muita tia por aí. Já vi gente faltando ao trabalho porque estava com a garganta ruim, mas isso não afetaria em nada o serviço ou então faltar porque se atrasou da volta do feriado, isso não existe, deveria ter saído mais cedo”, afirma Gilberto Guimarães, diretor da consultoria francesa BPI do Brasil, presidente da Ong Amigos do Emprego e coordenador do comitê de RH da Amcham. “Existe um outro fator a ser considerado: uma falta por doença ou morte não rompe o espírito de coleguismo, evitando que o profissional seja excluído da ‘tribo’, pois seus colegas serão solidários a ele. Normalmente, pessoas que usam desculpas cômicas, esfarrapadas têm um nível de auto-estima muito baixo, são inseguras, desconfiadas. Elas alegam uma fragilidade, pedem apoio e acabam adotando uma postura infantilizada”, acrescenta.
De acordo com Guimarães, a Legislação Trabalhista vigente também induz as pessoas a mentir. “Basta apresentar um atestado médico que não há o que contestar. O empregador não pode fazer nada. É preciso haver um acordo entre empregador e empregado de que se pode dizer a verdade. É preciso agir com justiça e segurança, dos dois lados”.
Comunicação é fundamental
Se por um lado o trabalhador mente para poder faltar, por outro, muitas vezes as empresas não compreendem nem aceitam as necessidades de seus funcionários. “As empresas têm mais dificuldade de liberar as pessoas porque trabalham de forma enxuta, mas é preciso que haja dentro das companhias uma comunicação mais transparente. A percepção do patrão é fundamental para perceber se o funcionário não pode fazer nada para evitar a falta ou se foi provocada por ele mesmo”, diz Dieter Kelber, diretor executivo e professor do Instituto Avançado de Pesquisa e Desenvolvimento Intelectual. “Na prática, são poucos os líderes que se preocupam com os funcionários, mesmo porque são poucos os líderes que se preocupam com suas próprias famílias. E por incrível que pareça, a empresa é quem mais perde, porque um funcionário infeliz produz pouco”.
De acordo com Kelber, além de melhorar a comunicação dentro das organizações, as companhias poderiam também fazer algo para facilitar a vida de seus funcionários. “Muitas empresas já trabalham com isso, fazendo com que alguém vá até o local de trabalho resolver os problemas de seus funcionários. Essa é uma maneira de evitar a ausência do trabalhador na companhia e, conseqüentemente, evitar a mentira”, declarou.
Confira algumas das desculpas mais absurdas que a pesquisa apurou para faltar ao trabalho:

  • Meu cérebro adormeceu e eu não conseguia acordá-lo;
  • Eu me esqueci que dia da semana era;
  • Eu caí sobre o meu cachorro e fiquei inconsciente;
  • Eu tive que embarcar os ossos da minha mãe para a Índia (obs: ela faleceu há 20 anos);
  • Meu macaco morreu;
  • Eu fui atacado por um gambá.
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