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Por Marcos Graciani


Diferentemente dos economistas, o professor Eliezer Pacheco, secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, não foca o crescimento do PIB para medir a vitalidade da economia – e sim a quantidade de formandos no ensino técnico. “A demanda por tecnológos é uma espécie de termômetro para medir o nível de desenvolvimento de qualquer país”, diz.
Nesse quesito, nos últimos sete anos, o Brasil saiu de uma posição digna de uma Serra Leoa para atingir a marca de um… Brasil. No entanto, assim como acontece com a maioria dos indicadores de educação, o nível Brasil está bastante aquém do desejado. De 2002 para cá, a oferta desse tipo de curso multiplicou-se por cinco.
Mas o exército de tecnólogos ainda é pequeno: pouco mais de 350 mil profissionais formados por ano em um universo de mais de 5 milhões de diplomas de curso superior entregues a cada temporada. Ou seja, menos de 7% do total. Nas nações desenvolvidas, em média, 30% dos profissionais se formam no ensino técnico. Nos Estados Unidos, esse índice é superior a 50%.
A demanda por esse perfil cresce rapidamente no Brasil e vai seguir em disparada. Preocupado em não ficar para trás, o MEC tem um plano para ampliar aceleradamente a quantidade de instituições que oferecem cursos técnicos. A meta é pular de 140 escolas para 366 até o final do próximo ano. Isso mesmo: mais do que duplicar o número de instituições em apenas um ano e meio. Constam também, no plano do ministério, estratégias para agilizar a ampliação da oferta de escolas autorizadas a ministrar o ensino técnico.
Atualmente, o tempo de espera para a liberação de um curso novo é de dois anos. Uma das ações do ministério para reduzir a espera será instituir uma avaliação por eixo. Ou seja, se a instituição obteve boas notas em seu curso de mecânica, recebe quase automaticamente autorização para abrir um de eletromecânica.
“Com esse esforço, queremos naturalmente aumentar o número de matrículas nesta área”, promete Eliezer Pacheco, responsável pelo setor no MEC – e pelo desafio de chegar sem muita demora ao índice de 30% de formandos no nível técnico, tal qual a média dos países mais ricos. Nos números atuais, isso significaria um despejo anual de 1,6 milhão de tecnólogos no mercado, ante os 350 mil formados atualmente.
Como o nome já indica, o profissional formado no nível técnico é talhado para funções eminentemente práticas – ao contrário do bacharel, que passa quatro ou cinco anos mergulhado em teorias. “Em um curso acadêmico, há uma série de disciplinas que depois não vão ser aplicadas “, reconhece Remi Castioni, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília.
“O tecnólogo tem de ser muito melhor do que o engenheiro na aplicação, no trabalho, no cotidiano. Peça para um engenheiro desmontar um celular e montar de novo. Ele não sabe por onde começar”, explica Claudio de Moura e Castro, especialista em educação e presidente do Conselho Consultivo da Faculdade Pitágoras, de Minas Gerais..
Não existe uma estatística que demonstre com precisão o tamanho da demanda por tecnólogos. Na avaliação de Moura e Castro, à medida que crescer a quantidade de formados em cursos técnicos, as vagas vão disparar na mesma proporção. Dada a baixa oferta, muitas empresas sequer cogitam a possibilidade de contratar um profissional com esse perfil. “Lembra um pouco a história da galinha e do ovo: se o empresário desconhece o tecnólogo, nem sabe que ele faz falta”, argumenta o especialista em educação.
Quem optou pela graduação técnica não se arrepende. É o caso do estudante curitibano Fabio dos Santos Freitas, 26. Depois de oito anos no Exército, o então segundo tenente fez um curso de curtíssima duração no setor de telecomunicações. De imediato, conseguiu emprego em uma empresa de TV a cabo. Resolveu prestar vestibular na Fatec e realizar um segundo curso técnico, de três anos. “Desde que ingressei, meu salário não pára de subir”, comemora.
Hoje, Freitas, que se forma no final de 2009, coordena equipes de campo da companhia paulista Procisa, que presta serviços na região de Curitiba. Há pouco, precisou contratar um supervisor também com formação de tecnólogo. Não encontrou e acabou desistindo de preencher a vaga.

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