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por Camila Micheletti
Muito já se falou sobre responsabilidade social e terceiro setor. Mas você já pensou em atuar diretamente nessa área? Pois é, muita gente não sabe, mas o profissional de RH pode colaborar – e muito – para alavancar e até implantar o setor de voluntariado na empresa em que trabalha.
Em algumas organizações, os projetos sociais são responsabilidade da própria área de RH. Daí vem a proximidade do profissional que atua em Recursos Humanos com o Terceiro Setor. Outra situação comum, é que o departamento de Marketing coordene essas ações e o próximo passo, provavelmente, é que se criem áreas específicas para os projetos sociais.
De acordo com Heloísa Occhiuze, gerente do núcleo de capacitação e mobilização do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, hoje em dia pessoas das mais diversas áreas atuam no terceiro setor. “Vemos profissionais de Administração, Psicologia, História, Geografia, Recursos Humanos. Só que mais importante que a formação são as características pessoais como liderança, iniciativa e muito compromisso com a área social”, diz ela.
Heloísa salienta ainda que o profissional deve estudar e ler muito, já que precisa ter uma visão ampla e profunda da área social, abrangendo desde a formação do Estado brasileiro até a sustentação do projeto que ele pretende montar. “Um fator muito importante é a escolha ética que o profissional terá que fazer todos os dias, ele precisa saber que vai estar lidando com temas fortes como a pobreza, a desigualdade social e econômica e a diversidade, ou seja, não é tarefa fácil”, explica Heloísa.
O GIFE foi criado em 1987, mas só se institucionalizou em 1995. É uma associação constituída por organizações privadas doadoras de recursos para projetos sociais e formada por associados, sendo que 58% são fundações de direito privado, 31,3% associações civis sem fins lucrativos e 10,4%, empresas. Segundo Heloísa, “o GIFE tem a função de fazer a divulgação da nova consciência para atuar com investimento social privado, sempre em projetos relacionados ao terceiro setor”.
Como começar
O profissional interessado em atuar no Terceiro Setor poderá trabalhar em ONGs, em empresas – implantando projetos sociais – e em institutos e fundações, como o GIFE. Geralmente, há cinco áreas que podem ser exploradas: meio ambiente, educação, cultura, saúde e desenvolvimento comunitário. Mas, antes de começar, o ideal é buscar cursos na área, que visem dar um maior embasamento teórico e formação específica para o profissional. O GIFE auxilia neste processo e promove muitos cursos relacionados ao terceiro setor.
Confira alguns cursos que estão previstos para começar no próximo semestre, a partir de junho, no GIFE:
Agente de Terceiro Setor (Ex-PTG – Programa de Trainee GIFE): é um curso de pós-graduação lato sensu. Tem 400 horas/aula e vai ser lançado em junho, em parceria com uma universidade. Possui três módulos: Desenvolvimento Social, Organizacional e Pessoal.
Ferramentas de Gestão: curso mais rápido, tem 84 horas de duração e visa habilitar o profissional a atuar na área de gestão para o terceiro setor. O curso iniciou em 2001, é realizado em 12 módulos e ocorre em junho em São Paulo. O GIFE estuda a possibilidade de montar uma turma em julho no Rio de Janeiro.
Cafés da manhã/oficinas do terceiro setor: seminários e workshops de curta duração que visam dar uma explanação básica sobre o tema. Ocorrem ocasionalmente em vários estados do Brasil.
Formação de Gestores: em fase de estruturação, será um MBA direcionado ao terceiro setor. Deve ser lançado entre os meses de julho e agosto, em São Paulo.
Para obter mais informações sobre os cursos e fazer sua inscrição, consulte o site do GIFE.
Na prática
Mariângela L. Pomene Sena é coordenadora de RH da Unidade Paulínia do Grupo Orsa, terceiro maior produtor nacional de embalagens e caixas de papel ondulado. A profissional entrou na empresa em 95 e, um ano depois, passou a trabalhar com os projetos sociais da empresa. Ela afirma que, para atuar na área social, o profissional de RH deve ter, acima de tudo, muita sensibilidade e tato ao lidar com pessoas, já que trabalha com pessoas de todos os níveis sociais.
“Caso a empresa não tenha nada implantado, a primeira coisa é buscar parcerias com instituições que trabalhem com responsabilidade social. Elas têm o expertise do negócio e podem auxiliar a empresa a implantar projetos eficientes e socialmente responsáveis, que sejam úteis para a comunidade e para o público interno da empresa”, explica Mariângela. Ela afirma também que o profissional de RH precisa ter uma grande capacidade de análise crítica, para poder identificar qual a real necessidade da comunidade em que a empresa está inserida.
No Grupo Orsa, que possui uma Fundação só para cuidar dos projetos de Terceiro Setor, são realizadas ações com foco no meio ambiente, terceira idade e portadores de deficiências. Mariângela afirma que a responsabilidade social na empresa têm três objetivos principais: “reforçar a imagem de organização socialmente responsável, abrir espaço para os funcionários atuarem como voluntários e levar integração para a população”.
Entre as atividades sociais da empresa estão chá-bingo em um asilo, campanha do livro entre os próprios funcionários da empresa e o projeto “Reciclando na Escola”, que é uma realização conjunta da Unidade Paulínia do Grupo Orsa e das secretarias do Meio Ambiente e de Educação e Cultura do município. Em 1999, quando foi implantado, o programa contava com a participação de 15 escolas de Paulínia, e 7,5 mil alunos. Em 2001, o programa reunia com 37 escolas e 13,1 mil alunos.
O projeto conta com o trabalho voluntário de 30 funcionários da Unidade de Paulínia, que realizam palestras nas escolas enfatizando a importância da reciclagem para o meio ambiente. Em seguida, as escolas recebem da empresa a instalação de caçambas para coleta de materiais a serem reciclados (papel, plástico e alumínio). Além dos alunos, o programa conta com a participação dos familiares, que trazem de suas casas materiais que antes eram jogados em terrenos baldios ou levados para o aterro municipal.
Outra iniciativa importante da Fundação Orsa é o projeto de inclusão profissional e social de portadores de deficiência através do trabalho, realizado por meio de parcerias com entidades especializadas que auxiliam a empresa na identificação de necessidades específicas para cada tipo de deficiência.
Atualmente, o Grupo Orsa tem em seu quadro mais de 30 funcionários deficientes que atuam nos setores de embalagens, expedição de bobinas, fabricação de papel, balança e segurança interna. De acordo com Mariângela, “através de um trabalho de acompanhamento é possível medir bom desempenho, índice mínimo de turn over, boa integração interpessoal no ambiente de trabalho e adesão aos demais projetos da empresa”.
Para a profissional, o assunto responsabilidade social deixou de ser um tema da moda para virar uma prática corrente nas empresas. “Com o tempo as corporações começaram a sentir necessidade de apoiar, ajudar pessoas e ONGs. E hoje vemos que o trabalho é muito profissional, não tem mais aquele ar de filantropia de antigamente”, afirma Mariângela.
RH não, Marketing Corporativo
Já na Philips, o RH tem um papel coadjuvante nos projetos sociais. “O departamento de RH é convidado a trabalhar nos projetos, mas não tem um envolvimento direto”, explica Flávia Moraes, gerente de Marketing Corporativo e responsável pelas questões do Terceiro Setor. A empresa atua nas áreas de saúde, meio ambiente e educação, e um dos públicos mais atingidos é o adolescente, sempre em escolas próximas à Philips, nas cidades de Manaus, Recife, Varginha, Mauá e São Paulo.
A campanha “Doe Vida” é um bom exemplo. Cada aluno escreve três nomes de alunos da classe e um é amarrado ao outro. “A classe fica toda amarrada e a idéia é mostrar como a Aids passa de uma pessoa a outra rapidamente. Nós mostramos a amplitude e disseminação da doença de uma forma divertida e lúdica, além de vencer o preconceito dos adolescentes, que geralmente acham que estão imunes à doença”, comenta Flávia O projeto começou em agosto de 2001 e, desde então, 9.000 alunos já puderam assistir as palestras.
Prêmio ECO premia os melhores projetos da área
Para incentivar ainda mais as empresas na questão da responsabilidade social, em 1982 foi criado o Prêmio ECO, que homenageia projetos de ação social desenvolvidos por empresas privadas nas áreas de cultura, educação, meio ambiente, saúde e participação comunitária.
Nestes 20 anos, foram inscritos 1.559 projetos de 1.285 empresas, que receberam investimento declarado de US$ 2,6 bilhões e resultaram em 111 projetos vencedores. O prêmio tem organização da Amcham (Câmara Americana de Comércio) e neste ano as inscrições serão aceitas até o dia 24 de maio.
Podem concorrer projetos com no mínimo um ano de existência, realizados ou apoiados por empresas privadas de qualquer porte, associações e fundações de empresas de todo o País, não necessariamente associadas à Amcham. A finalidade destes projetos deve ser o atendimento a necessidades de caráter público, que não se confundam com interesses comerciais privados e o público beneficiado não pode ser composto exclusivamente por funcionários da empresa e/ou seus familiares.
Um dos projetos concorrentes é o “Doe Vida”, da Philips. Para a gerente de Marketing Corporativo da empresa, “ganhar é apenas uma consequência de um trabalho sério que é realizado durante todo o ano. E cada vez que ganhamos um prêmio nos transformamos em exemplo para os funcionários da empresa, os clientes e a sociedade, e isso é muito gratificante”.
Entre os concorrentes deste ano estão empresas como o Insituto Xerox, Parmalat, Grupo Pão de Açúcar e Telefônica. Para saber mais ou fazer sua inscrição, visite o site da Amcham.

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