Carreiras | Empregos

Por Leila Navarro*
Nas empresas que visito neste Brasil afora vejo escritórios altamente informatizados mantendo conexão permanente com filiais, fábricas, vendedores, transportadores, clientes. Vejo cada vez mais as pessoas de localidades diferentes se reunirem via teleconferência, sem ter que sair de seu local de trabalho. Vejo também funcionários fazendo cursos e participando de treinamentos por e-learning nos horários que lhes convêm e sem sequer levantar de sua mesa. Até minha palestra já foi transmitida diretamente do auditório da sede de uma empresa para outras unidades, permitindo que funcionários a centenas de quilômetros dali acompanhassem o evento.
Para o funcionamento das empresas, não há dúvida de que essa realidade traz grandes ganhos. As tecnologias da comunicação são fundamentais para que as organizações sejam mais competitivas e as pessoas possam desempenhar melhor seu trabalho. Hoje, a menor distância entre dois pontos já não é mais a reta: é a internet. O que antes era medido em quilômetros é agora em instantes, os instantes que levamos para estabelecer uma conexão eletrônica.
E para as relações humanas no ambiente profissional, o que implica toda essa tecnologia? Acho que muita coisa. Por uma questão de praticidade, rapidez e economia, os contatos pessoais estão sendo substituídos por e-mails. Nem o telefone é páreo para as novas tecnologias, tanto assim que o som de um escritório onde as pessoas estão a todo vapor não é mais o de campainhas tocando, mas o de pessoas teclando. O que antes só se resolvia com uma reunião pode ser perfeitamente discutido por intermédio de programas de mensagens como o Messenger. Cada vez mais as pessoas usam a tecnologia como intermediária de suas interações pessoais. Mas será que isso é bom para elas? Será que é bom para as empresas? Tenho minhas dúvidas.
Quando trocamos mensagens eletrônicas, limitamos nossa interação a um punhado de letras e números escritos numa tela. Para piorar, como temos pressa de resolver as coisas, procuramos ser objetivos e ficamos no estritamente necessário. Abreviamos palavras, eliminamos acentos, deixamos de lado maiúsculas, pontos, vírgulas. Nem nos damos ao trabalho de subscrever a mensagem, pois uma assinatura eletrônica previamente colocada no final de todo e-mail dá conta do recado. Tudo muito prático, não?
Quer dizer: o que antes fazíamos com um diálogo pessoal ou por telefone, agora fazemos com uma mensagem que mais parece um telegrama, breve, fria e impessoal. Já não precisamos mais ver o rosto da pessoa com quem nos comunicamos, nem mesmo escutar sua voz. Ainda que a imagem dela apareça em nosso monitor, mais parece que estamos falando com uma máquina do que com um ser humano.
No meu modo de ver, tudo isso nos faz usar cada vez menos o que chamo de inteligência interpessoal, ou seja, a habilidade de nos relacionar. Pois são as características do contato pessoal como olho no olho, aperto de mão, tom de voz, gestos, emoção e convicção que nos permitem criar ligações de confiança, respeito, companheirismo – e por que não dizer também de afeição – em nossos relacionamentos profissionais.
Os gurus da moderna gestão de pessoas não cansam de dizer que o sucesso das empresas está muito ligado à qualidade das relações que os funcionários têm entre si e com seus parceiros de negócios. Incentivam a intensa troca de informações entre as pessoas e valorizam a diversidade cultural. Mas como chegar a isso num ambiente em que as relações humanas estão cada vez mais virtuais e as pessoas se isolam em suas fortalezas digitais?
Acredito que a tecnologia, como tudo na vida, tem de ser usada com equilíbrio. Ela veio para facilitar e não para intermediar os relacionamentos humanos. A empresa que deseja ser competitiva, bem-sucedida e um bom lugar para se trabalhar precisa preservar um pouco do velho e bom jeito de se fazer comunicação: com reuniões de equipe, bate-papo na hora do cafezinho, visitas a clientes, treinamentos com professor de carne e osso e muita conversa ao vivo e em cores.
O relacionamento é a grande fonte do crescimento humano. A interação com colegas, superiores, subordinados, clientes e parceiros nos proporciona aprendizado, recicla nossos conhecimentos, estimula nossa criatividade, nos faz sentir atuantes. A conectividade que leva ao sucesso – nosso e da empresa – é a que existe entre os seres humanos, não entre as máquinas.
* Leila Navarro é palestrante comportamental e motivacional no Brasil e no exterior. Pela terceira vez consecutiva, está indicada ao prêmio Top Of Mind – Fornecedores de RH na categoria “Palestrante do Ano”. É autora de quatro livros, todos pela Editora Gente e disponbiliza conteúdo exclusivos para o autodesenvolvimento profissional e pessoal em seu portal

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