Carreiras | Empregos

por Camila Micheletti
 
Ernesto Kobaiashi Hanada prestou vestibular para Engenharia, mas não chegou a fazer o curso. Acabou optando por Administração de Empresas, achando que lá encontraria a tão sonhada realização profissional. Após dois anos e meio atuando em um banco e faltando pouco para terminar o curso, Ernesto mais uma vez viu que estava errado, mas ainda dava tempo para mudar. Foi então que decidiu largar tudo para dedicar-se à Educação Física. Prestou vestibular, enfrentou as angústias de um iniciante e foi em busca de um estágio na área. Talvez com um pouco de sorte, Ernesto conseguiu um estágio logo no primeiro mês da faculdade. Hoje trabalha como professor na academia onde começou a carreira, há cinco anos. “Sempre gostei de esportes, e de repente me veio a idéia de fazer do hobby uma profissão”, diz ele.
Ernesto conta que já está se sentindo um pouco cansado do trabalho em academia, e talvez faça mais uma reviravolta na carreira. “Não tenho medo de mudar e tentar coisas novas. Estou pensando em em abrir meu leque de opções e de repente passar a trabalhar na área administrativa da academia, usando os conhecimentos que adquiri no banco”, comenta o profissional.
Muitas vezes a mudança de carreira se dá por necessidade, mas também pela vontade de mudar e estabelecer outras prioridades na vida. Foi o que aconteceu com Shirley Sanches Garcia, que trabalhava na área comercial de uma agência de publicidade. Após 10 anos de muita loucura e o estresse normal da rotina profissional, Shirley, que já tinha um filho pequeno, ficou grávida de gêmeas. “A gravidez me fez repensar várias coisas e estabelecer outra prioridade na minha vida: os meus filhos. Foi então que parei tudo, pedi demissão da empresa que trabalhava e fui buscar algo que pudesse fazer em casa, e não me impedisse de estar com eles. Como sempre gostei de trabalhos manuais, fiz cursos que mostravam como fazer arranjos florais e lembranças em geral. Acabei me especializando na tupiara, que é um arranjo com função energética”, conta ela.
Hoje, Shirley tem um ateliê em casa, onde confecciona as peças, e se diz realizada profissional e pessoalmente. “O mais importante é que arrumei uma alternativa de ter meu dinheiro e consigo cuidar das crianças, que pra mim é fundamental”. Ela conta que consegue tirar, por mês, entre 600 e 800 reais, dependendo da época do ano. “Se tivesse mais tempo e contratasse alguém para me ajudar, até conseguiria um ganho maior. Mas gosto de fazer tudo personalizado, do meu jeito. Neste caso, o dinheiro não é o mais importante”, explica.
O apoio da família, tanto no caso de Shirley quanto no de Ernesto foi fundamental, já que ambos precisaram de um suporte financeiro para encarar a mudança. A artesã completa dizendo que, como seu marido tem um bom emprego, consegue sustentar a casa sem precisar do salário dela. “Não fico preocupada em pagar conta, o que me deixa bem mais segura e tranqüila”, confessa ela.
O mais comum, no entanto, é a pessoa mudar suas atividades, mas não se desligar totalmente da área em que trabalhava antes. Este é o caso de Vanderlei Abreu de Paulo, que trabalhou oito anos em Recursos Humanos. “Eu trabalhava como recrutador de pessoal e era o responsável por fazer a primeira triagem em um processo de seleção. Mas com a melhoria dos processos de informática e a chegada da internet esse cargo foi, aos poucos, deixando de existir”. Ele conta que resolveu mudar quando a empresa que trabalhava na época estava em um período de crise, e talvez houvesse até demissões. “Foi aí que decidi: vou dar um novo rumo na minha vida. Como comecei em RH muito cedo, a minha carreira já tinha chegado em um nível muito alto aos 26 anos, não havia mais para onde ir. Como sempre gostei muito de escrever, resolvi prestar a faculdade de Jornalismo. Tive que começar do zero nessa nova carreira, enfrentei algumas dificuldades, mas hoje não me imagino fazendo outra coisa”.
Já como aluno do curso de Comunicação Social da Universidade São Judas, Vanderlei foi em busca de um estágio na área. Teve que aprender a viver com um salário de estagiário, que segundo ele era de 200 reais, depois montou uma empresa, fez trabalhos por conta própria, foi aos poucos aprendendo e colocando seu nome no mercado. Após um ano e meio trabalhando como editor de cinco revistas do Grupo OESP Mídia, Vanderlei foi convidado para assumir a edição do Jornal Profissional e Negócios em RH, da Editora Central de Negócios. Desde 2001 o jornalista é o responsável pela publicação, uma referência para os profissionais de RH. “Indiretamente ainda me considero um profissional de RH, já que tenho que lidar diariamente com os assuntos relativos à profissão”, afirma o profissional, que já liderou dois grupos informais da área e é muito conhecido no meio.
Trace um plano de carreira
Mas alguém pode se perguntar: até que ponto a vocação é realmente fundamental para o seu sucesso como profissional? Para Márcia Nejaim, gerente de desenvolvimento de negócios da unidade do Rio Janeiro da RightSaadFellipelli, consultoria especializada em transição de carreira, pessoas que gostam do que fazem têm muito mais chances de ter sucesso do que aquelas que vão ao trabalho sem qualquer motivação ou entusiasmo. Márcia afirma que o ideal é ter uma carreira baseada na vocação, mas hoje em dia é muito comum vermos pessoas atuando em funções que não gostam, seja por necessidade ou falta de oportunidade na área. “Recomendo que você pense no trabalho, e não no emprego. É possível se desenvolver em áreas correlatas a que você gosta? Quais oportunidades podem se abrir se você fizer cursos e investir na carreira que você sempre quis?”, questiona ela.
Você sempre sonhou em ser bióloga, mas hoje trabalha como secretária? Ou então ser ator era o que você queria, mas a única novela da sua vida é aquele cliente que nunca está satisfeito? Pois saiba que, qualquer seja sua área e profissão, é fundamental traçar um plano de carreira, preferencialmente até os 30 anos. “Chega uma certa fase da vida que a satisfação pessoal pesa mais que os benefícios e o salário atraente. Você já tem uma vida consolidada, não precisa se preocupar tanto com a questão financeira. É essa a hora de ir em busca da sua vocação e fazer o que quer realmente, dar um sentido para sua carreira e sua vida”, comenta Márcia.
Não estamos falando de esperar chegar a aposentadoria para ir em busca dos seus sonhos, pelo contrário. Mas é que também soa um tanto utópico falar para esquecer tudo e fazer o que se gosta, quando ainda precisamos – e muito – de cada centavo ganho com o salário mensal. Além disso, a experiência também conta muito. “Quanto mais maturidade você tem, mais prazer tem para ir em busca do que quer”, considera ela. Com o plano de carreira em mãos, você deve agir para estar plenamente realizado na sua carreira quando for se aposentar.
E a faculdade que você fez acaba nem sendo tão importante, quando você trabalha no que gosta. “O que vale não é a sua formação acadêmica, mas sim como você aplica esse conhecimento. Todas as pessoas podem ousar e explorar novas oportunidades de trabalho”, ensina a consultora.

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