por Heloísa Noronha
O mercado de trabalho para os profissionais do bem-estar, que se dedicam a práticas e terapias corporais, vai de vento em popa. Violência, trânsito, custo de vida elevado, jornada de trabalho estressante, competitividade, pouco tempo para se alimentar bem, desfrutar momentos de lazer e cultivar laços afetivos – tudo isso contribui para o aumento do estresse e suas conseqüências como dores musculares, enxaquecas, ansiedade e noites mal-dormidas.
Ávido por encontrar alívio para esses males, é cada vez maior o público de academias, centros terapêuticos, clínicas, spas urbanos… São pessoas em busca de tranqüilidade, paz de espírito e, principalmente, de um corpo relaxado após um dia atribulado.
Há um bom tempo as terapias e cuidados corporais ultrapassaram a denominação de modismo para se firmar como aliadas do bem-estar e da boa qualidade de vida. Um dado que confirma o crescimento e amadurecimento dessas carreiras é o aumento do número de especializações e cursos regulamentados e reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC). Além de aulas de graduação e de pós-graduação, há uma variedade significativa de cursos de extensão voltados a fisioterapeutas, médicos, psicólogos, psicoterapeutas, enfermeiros, educadores físicos, pedagogos e até assistentes sociais.
Quem já lida com saúde e quer se aprofundar nas técnicas alternativas – massoterapia e práticas orientais como tai chi chuan, do-in e shiatsu são as mais procuradas – ou sonha em trocar de carreira pode comemorar: várias são as opções de trabalho em clínicas médicas ou estéticas, hospitais, clubes, spas, hotéis, saunas, centros de reabilitação física, cruzeiros em navios e até nas grandes e médias empresas (veja o box Ginástica na hora do expediente). Muitas clínicas possuem equipes multidisciplinares, compostas por técnico em quiropraxia ou um massoterapeuta, por exemplo. Não faltam oportunidades também para aqueles que preferem atender de forma autônoma, em consultório próprio ou em domicílio, ou que gostam de dar aulas e transmitir seus conhecimentos.
A remuneração é variável e difícil de traduzir em números, pois depende muito do local onde o profissional atua. Segundo o massoterapeuta Fábio Arnone, coordenador da área de massoterapia do Senac São Paulo, trabalhar com massagem tem um bom retorno financeiro, mas é preciso um tempo para colher os frutos. “Primeiro, é necessário fazer parte de uma clínica, para aprender a dominar as técnicas e formar a clientela. Só depois é que a pessoa estará apta a alçar vôo solo”, explica. Ele dá uma dica importante: o público formado por crianças excepcionais, deficientes físicos, idosos e gestantes merece atenção especial. “São pacientes que precisam de toque, carinho. Uma massagem pode fazer maravilhas para a auto-estima delas. Infelizmente, ainda há poucos profissionais capacitados para lidar com eles de maneira adequada”, ressalta.
Oportunidades e mudanças radicais Talvez por ser a cidade brasileira com maior número de pessoas estressadas por metro quadrado, São Paulo reúne um panorama mais generoso de ofertas, pois concentra ainda uma quantidade significativa de clínicas de estética (que cada vez mais apresentam terapias alternativas em seus serviços) e hotéis de luxo, equipados com spas. A cidade abriga também um número impressionante de cursos do setor. Uma iniciativa recente nasceu da união de cinco escolas tradicionais na transmissão dos ensinamentos e práticas das técnicas orientais de massagem: a Associação de Massagem Oriental e Naturopatia do Brasil (Amor), o Centro de Estudos de Acupuntura e Terapias Alternativas (Ceata), a Escola Integrativa, a Keiko’s Prevenção e Saúde e a Escola-clínica Shiozawa Prevenção em Saúde. Essas entidades se juntaram e criaram a Escolas Associadas, cuja primeira iniciativa é o curso de habilitação profissional de Técnico em Massoterapia, com duração de dois anos. As aulas começam em setembro, são reconhecidas pelo MEC e destinadas a quem completou o ensino médio. “Vamos abordar temas como Do-In, Shiatsu, Massagem Ocidental e Anatomia e Fisiologia Energética. Tudo isso por meio de aulas práticas e estágios”, conta Armando Austregésilo, fundador da Amor. “Nosso próximo passo será inaugurar uma faculdade de massoterapia em São Paulo”, antecipa.
Outra prática que ganha a cada dia novos adeptos é a ioga. A Universidade de Yôga (Uni-Yôga), que possui sede em São Paulo e entidades autônomas representantes em diversos estados, pertence ao Mestre DeRose. A escola oferece um curso de formação de 12 anos para quem está interessado em conhecer profundamente a ioga, uma filosofia que visa o autoconhecimento. Esse tema, aliás, também faz parte de um curso de extensão (Prática do Yoga), da Universidade Anhembi Morumbi. Existem também cursos livres, como o da Aruna Power Yoga, em São Paulo, de Power Yoga com o instrutor Marcos Shutz, em Florianópolis (Santa Catarina). A Uni- Yôga, porém, não é uma instituição de ensino superior. E é bom lembrar que há um projeto de lei no Senado Federal, regularizando a profissão de instrutor de ioga.
As terapias corporais não fazem bem somente para os alunos. Os próprios especialistas costumam destacar que ter uma profissão ligada ao bem-estar os deixou mais serenos, pacientes, dispostos e, principalmente, felizes. Que o diga Fábio Arnone, do Senac SP. Ex-engenheiro mecânico, ele detestava a antiga carreira, mas continuava a encará-la por causa do salário compensador. “Comecei a desenvolver a síndrome do pânico e tive depressão. Ganhava bem, mas gastava boa parte do dinheiro em remédios”, lembra. “Em 1992, esgotado, abandonou a rotina estressante e decidiu cursar fisioterapia. Especializou-se em massoterapia e hoje tem uma remuneração menor, mas uma qualidade de vida infinitamente melhor. “As pessoas me achavam bravo, chato. Eu vivia de mau humor. Hoje posso dizer com todas as letras que adoro o que faço e sou muito feliz”, comemora. Fica a lição.
Cabeça, corpo e espírito
Saiba quais são os pré-requisitos básicos para um bom profissional Desde 2000, Lourdes Satiko Higashi Ferreira coordena a área holística do Senac São Paulo, que compreende os cursos técnicos em massoterapia e em quiropraxia e vários livres, como os de Feng Shui, Reiki, Florais de Bach, Cromoterapia, Shiatsu, Massagem Ayurvédica e Técnicas de Relaxamento, entre outros. A instituição está formando turmas para os cursos de extensão Consciência Corporal e Movimento Expressivo: O Corpo Consciente/Equilibrando Tensões. “É interessante observar que o Senac vem recebendo muitos profissionais da área de Exatas em busca de ensinamentos que lhes proporcionem mais bem-estar. A qualidade de vida se tornou fundamental e o mercado só tende a melhorar”, diz, otimista. Em outubro, o Senac abre inscrições para a pós-graduação Dinâmicas Corporais como Expressões Terapêuticas. Seu objetivo é propiciar uma visão diversificada dos fundamentos conceituais, filosóficos, psicológicos e fisiológicos da saúde holística (corpo, mente e espírito são analisados juntos), promovendo o desenvolvimento da consciência do corpo.
Apesar da grande procura por aulas como Liang Gong e Quick Massage, de pessoas das mais diferentes formações, Lourdes enumera os pré-requisitos básicos de um bom especialista: ética, responsabilidade e gostar de “gente”. Os dois primeiros dizem respeito à seriedade no contato físico e à confusão que ainda há com algumas práticas que receberam conotação erótica. “É o caso da massagem tailandesa, cujos preceitos nada têm de sexuais. E gostar de gente é fundamental, porque o paciente precisa acreditar no terapeuta e se sentir à vontade diante dele”, explica.
Para o professor de Educação Física Alexandre Zamarion, o aperfeiçoamento também é imprescindível, desde que o profissional se dedique a algo que acredita e que tenha a ver com sua filosofia de vida. “Optei pelo Método Rolf porque ele trabalha os aspectos físico, mental e emocional”, afirma. Trata-se de uma técnica de alinhamento do corpo que propicia uma melhor qualidade de vida. “Para deficientes e portadores de paralisia cerebral, por exemplo, a prática do Rolf os ajuda a se locomoverem melhor”. Mas, não apenas para estes casos mais graves, o Rolf também é excelente para quem busca melhorar a postura, ter mais equilíbrio e mais saúde de maneira global.
Ginástica na hora do expediente
Preocupadas com a qualidade de vida de seus funcionários – e também com o número de faltas justificadas com atestado médico –, algumas empresas vêm adotando a ginástica laboral como rotina. De quebra, abre-se mais um espaço no mercado de trabalho para os profissionais dessa área.
A prática consiste de exercícios simples, feitos sob a coordenação de um especialista, que duram cerca de 15 minutos e podem ser executados no próprio escritório, sem a necessidade de roupas ou aparelhos especiais. Os exercícios diários combatem males como a lesão por esforço repetitivo (LER) e o distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho (DORT ), doenças que podem até causar aposentadoria por invalidez.
“Os exercícios preventivos relaxam e dão ânimo para enfrentar um dia cheio de atribuições”, argumenta a fisioterapeuta Marcia Tomie Kotomi Ito. Ela integra a equipe do Mizuki Centro de Saúde, Beleza e Estética, que terceiriza a ginástica laboral em grandes empresas. Algumas, inclusive, contratam até massagistas uma vez por mês para aliviar tensões no pescoço e nas costas de seus empregados. Tudo em nome da qualidade de vida – e da produtividade, é claro. Sorte dos terapeutas, que encontram aí um novo nicho a explorar.
Profissionais do bem-estar
O mercado de trabalho para os profissionais do bem-estar, que se dedicam a práticas e terapias corporais, vai de vento em popa. Violência, trânsito, custo de vida elevado, jornada de trabalho estressante, competitividade, pouco tempo para se alimentar bem, desfrutar momentos de lazer e cultivar laços afetivos – tudo isso contribui para o aumento do estresse e suas conseqüências como dores musculares, enxaquecas, ansiedade e noites mal-dormidas.
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