por Juliana Ricci
Escândalos de fraudes como o da Enron, gigante das telecomunicações norte-americana, e o da Parmalat, multinacional italiana fabricante de laticínios, levam-nos muitas vezes à pergunta: Será que já não se fazem mais executivos como antigamente?
O fato é que a competição acirrada provocada pela economia globalizada, as mudanças organizacionais, a necessidade de obter resultados em curto prazo de tempo e o “mito do CEO” – transformação dos chefes em heróis responsáveis pelo sucesso da corporação – são fatores que têm levado muitos executivos à loucura. Tanta pressão provoca falhas repetidas, insatisfação por parte das equipes e muito mais.
Pesquisa realizada com 1.118 visitantes do site Badbossology, criado para satirizar os maus chefes e ensinar os subordinados a lidar com eles, mostrou que 48% dos entrevistados demitiriam seus chefes, 29% mandariam para uma avaliação psicológica e 23% os encaminhariam para treinamentos gerenciais.
Diante desse quadro alarmante, David L. Dotlich e Peter Cairo, educadores, escritores e coaches de grandes executivos nos Estados Unidos escreveram o livro “Por que os executivos falham? – 11 pecados que podem comprometer sua ascensão e como evitá-los”, publicado pela editora Campus. Os autores apresentam 11 características de personalidade que, quando expostas à situações de stress e pressão, podem transformar-se em pontos negativos e causar danos à carreira e à performance do líder.
Para chegar a essas conclusões, Dotlich e Cairo basearam-se na experiência do atendimento a executivos e também no trabalho do psicólogo Robert Hogan, cuja pesquisa sobre os “descarriladores de liderança” é ampla e originou os questionários aplicados nos pacientes. Dicas sobre como conscientizar-se dos comportamentos negativos e controlá-los também fazem parte do livro.
O psicólogo e consultor de Recursos Humanos Roberto Affonso dos Santos, responsável pela tradução do livro para o português, explica que a incompetência dos executivos deve-se a vários motivos:

• As expectativas são mal definidas
• As empresas mantêm pessoas ruins em suas posições porque não há como substituir
• Falta punição para o mau desempenho
• Os processos seletivos são falhos. Os selecionadores devem ater-se ao fato de que bons profissionais técnicos e bons entrevistados – profissionais falantes e extrovertidos – não são necessariamente bons líderes

Para Santos, o bom líder tem 4 características principais: auto-conhecimento, conhecimento do outro, capacidade de gerir pessoas e capacidade de gerir negócios. “Em pelo menos 50% dos casos, o que derruba o executivo é ter as características indesejáveis, independente de não ter as positivas”, afirma. Por isso mesmo é que é tão importante para o profissional conhecer aquilo que muitas vezes o leva ao fracasso: os descarriladores da carreira.
Os 11 pecados
O Relatório de Descarrilamento de Carreira, também conhecido como Inventário de Desafios de Liderança, é o questionário de 168 perguntas que detecta 11 tendências de comportamento que, dependendo de seu grau, podem ser pontos fortes ou fatores de risco de descarrilamento de carreira em situações de stress.
De acordo com o comportamento demonstrado pela pessoa, sabe-se se ela apresenta risco baixo, moderado ou elevado para cada tipo de descarrilador. Por exemplo, uma pessoa temperamental é calma e apresenta humor estável se estiver em situação de risco baixo. Porém, em situação de stress, se tiver essa característica como um descarrilador, ficará irritável e imprevisível em risco moderado e explosivo em risco elevado. São níveis de descarrilamento.
No primeiro grupo estão os perfis que fazem o executivo afastar-se das pessoas. São eles: Temperamental, Cético, Cauteloso, Reservado, Passivo Resistente. Pessoas com essas características acentuadas lidam com seus sentimentos de inadequação evitando o contato com os outros. Vejamos como se comportam:

No segundo grupo de características que podem levar ao descarrilamento da carreira, estão as que provocam intimidação nas outras pessoas. Veja:

O terceiro e último grupo de descarriladores é o das pessoas que lidam com suas inseguranças fazendo alianças com outras pessoas. São as perfeccionistas e as obsequiosas:

Os descarriladores no dia-a-dia
O psicólogo Roberto Affonso dos Santos diz que é possívels termos mais de uma característica em nível moderado ou elevado. O livro mostra, inclusive, um caso em que o executivo tem as 11 características descarrilando sua carreira. “Eu já vi pessoas com 4 ou 5 descarriladores. A tendência é que sejam do mesmo grupo”, revela ele.
O pior tipo, aquele que mais se dá mal como líder é o Reservado, porque o líder tem que ser harmonizador, o maestro emocional do grupo e como o Reservado trabalha isolado e some no momento de crise, ele contraria a essência da liderança. Já o Perfeccionista é o que mais atrapalha o desenvolvimento do grupo, porque não delega tarefas. Mas Santos lembra que não há regra para isso, já que as culturas das empresas são diferentes. “O Citibank era conhecido por sua cultura arrogante, então esse perfil lá poderia até ser aceito. O ardiloso se dá bem em empresas muito competitivas, e assim por diante”, diz.
Santos garante que é possível controlar os excessos, mas é preciso assumir isso em si mesmo e querer agir de forma diferente. O livro “Por que os executivos falham? – 11 pecados que podem comprometer sua ascensão e como evitá-los” indica maneiras de conhecer e evitar os descarriladores. O consultor sugere: “Coloque-se no lugar da outra pessoa e imagine como você reagiria ao seu próprio comportamento. Avalie os custos de permanecer igual e de mudar. Busque pessoas de confiança para lhe dar feedback e esteja aberto para ouvi-las. Faça aos outros apenas o que gostaria que fizessem a você”.