por Dulce Magalhães*
Nos últimos anos, acompanhamos um processo avassalador nas organizações: a redução do quadro de pessoal, seja em nome da reengenharia, do downsizing, da tecnologia, da conjuntura, da globalização, ou mesmo por inépcia gerencial. A verdade é que esses cortes deixam profundas marcas no espírito das pessoas.
É sempre um momento desesperador receber o famoso bilhete azul, ser desligado, ficar à disposição do mercado ou, como preferem os mais diretos, ser mandado para o olho da rua. Dá uma angústia danada, um sentimento de insegurança se apodera do indivíduo, pois o futuro, já tão incerto, ficou fora de controle.
O baixo-astral se instala e a auto-estima entra num ciclo descendente. Inépcia, incompetência, incapacidade, uma leve depressão e a mente vazia de soluções. Essa é a sensação de 89% das pessoas recém-demitidas, segundo uma pesquisa da Organização Mundial do Trabalho, feita em abril de 2000. Nesse estado de espírito, fica bem difícil pensar com objetividade para montar um plano estratégico de recolocação.
“Há males que vêm para o bem.” Nem toda demissão é a pior experiência que poderia acontecer em nossas vidas. Algumas vezes, é a grande oportunidade disfarçada de problema. Pode ser o empurrão que faltava para você reorientar sua carreira e, finalmente, arriscar-se naqueles projetos com os quais vem sonhando há muito tempo.
Um famoso escritor paulista me contou que a melhor coisa da sua vida foi ser demitido de uma agência de publicidade onde trabalhava como assistente de mídia e, segundo ele mesmo, era de uma incompetência ímpar. Mas, com um emprego seguro e um ambiente agradável, já estava se acostumando à idéia de viver mediocremente o resto dos seus dias. O pessoal da agência não pensava assim, e lá foi ele para o olho da rua. Agora, com os dois olhos bem abertos para o mundo, acredita que o seu sucesso começou no dia da demissão.
É mais difícil aceitar a perda de algo que era o centro da sua vida, com o qual você se sentia realizado, tinha tudo para ser o “bam-bam-bam” do pedaço. Apesar de doída, é a condição mais tranqüila para quem é competente e está com o passe livre. Um histórico de grandes realizações não garante que continuaremos acertando, mas um investimento em atualização e o foco nos canais certos pode significar um avanço considerável na carreira, com novos desafios em ambientes renovados e, por que não?, uma remuneração melhor. Tudo depende da forma como orientamos o nosso projeto de carreira e investimos em capacitação e desenvolvimento.
Há os casos daqueles que ainda não se encontraram no mundo. Já não iam muito bem e permanecem sem a menor idéia do que podem vir a fazer de agora em diante. Está na hora de parar com essa mania de ser franco atirador. Procure focar seus alvos, identificar potenciais, descobrir talentos, estudar, fazer estágios, definir o futuro. A demissão é mais uma chance de construir um projeto de vida e mirar no destino em que se pretende chegar.
Tendo planos ou não, sendo competente ou ainda em preparação, conhecendo seus talentos ou estando à busca, todos vamos passar por encruzilhadas na carreira. O importante é notar que, apesar da trilha antiga ter terminado, há muitos outros caminhos que se abrem. É para isso que são feitas as encruzilhadas: para aumentar as nossas possibilidades de acertar e construir o sucesso, que é sempre do tamanho de nosso mérito.
* Dulce Magalhães é Doutora em planejamento de carreira pela Universidade Columbia (USA) e Mestre em comunicação empresarial pela Universidade de Londres (inglaterra).
Olho da rua, olho do mundo
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