Carreiras | Empregos

por Ricardo Jordão Magalhães
Alguns minutos atrás você recebeu a notícia de que herdou R$ 5 milhões de reais. O que você faria com tanto dinheiro? Você o transformaria em um novo apartamento, um novo carro, um banho de loja, uma viagem para aquele lugar que você sempre sonhou, além de continuar com o seu emprego atual e guardar o que sobrou para ter ganhos financeiros todos os meses? Ou você largaria o seu emprego atual para abrir o seu próprio negócio? Ou você doaria tudo que você acaba de ganhar porque você não conseguiria lidar com a sensação de viver uma vida graças às realizações e trabalho de alguém que veio antes de você?
Às vezes quando eu passo por aqueles lugares onde eu vivi e cresci, e vejo que a velha padaria hoje é uma pizzaria, o cinema do bairro virou supermercado, o casarão da esquina foi transformado em um edifício comercial, e em frente ao lugar onde moravam os meus amigos se encontra uma placa “Aluga-se”, uma pontada de saudade bate no meu coração, as referências que eu tinha da minha infância sumiram, e daqui a pouco vai parecer que o mundo em que eu vivi nunca existiu.
Triste? Eu não acredito. O importante na vida é manter contato com as pessoas e não com as coisas. Se nem você, que morava onde você morava, mora mais por lá, quem disse que a nova geração tem que gostar das coisas que você gostou? Quem disse que o filho do dono da padaria deve dedicar sua vida a manter aquilo que o seu pai construiu anos atrás, se a vida das pessoas em volta da padaria mudou?
Eu nunca recebi um currículo de alguém que tivesse a coragem de relatar os momentos difíceis que passou, os tropeçou que enfrentou, e as iniciativas que fez para se recuperar. A grande maioria das pessoas cita apenas os bons resultados que teve e os números bonitos que atingiu, as empresas famosas que trabalhou e os cursos bacanas que fez.
A experiência profissional das pessoas é sempre descrita através de verbos como “Desenvolvi, Gerenciei, Aumentei, Criei, Inventei, Mudei…”, ninguém descreve as coisas que fez com “Perdi para recuperar, Aprendi para perceber, Tropecei para não repetir, Diminuí para dobrar…”. Ninguém fala sobre o ANTES e o DEPOIS que o Ser Humano entrou em cena. A maioria dos currículos do mundo descreve carreiras profissionais maravilhosas que aparentemente nunca passaram por dificuldades.
Eu quero VER um currículo que fala, por exemplo, sobre aquele cliente perdido em Janeiro e recuperado em Junho, depois de uma série de iniciativas e mudanças de atitudes por parte do próprio dono do currículo. Eu quero ver REALIZAÇÕES PROFISSIONAIS e não EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS.
Eu não quero saber o quanto você é bom e de qual escolinha-que-produz-robôs você saiu. Eu quero SABER sobre o que você já fez SOZINHO.
Não me diga que você sabe vender aquilo que a sua empresa já vendia sozinha. Não me diga que você sabe se relacionar com um cliente que já se relacionava com a empresa antes de você aparecer. Não me diga que as suas REALIZAÇÕES PROFISSIONAIS se resumem a ter aumentado a produtividade da sua equipe em 20% no último ano. Eu não quero saber se você melhorou alguma coisa. Venha falar comigo quando você adicionar algo à vida de alguém que simplesmente não existia antes da sua chegada.
Algumas das crenças que muitos de nós ouvimos quando éramos mais jovens não valem mais nada, por exemplo, fazer uma boa faculdade é garantia para conseguir um bom trabalho; continuar a estudar é imperativo para se manter à frente da sua profissão; ser médico, advogado ou engenheiro é garantia para ter um futuro brilhante, trabalhar em uma grande empresa é garantia de emprego seguro, e acima de tudo, se aposentar aos 65 anos de idade – depois de tanto trabalho -, é sinal de ter levado uma vida bem-sucedida.
SE APOSENTAR??? Eu vou trabalhar até o dia em que eu não puder mais trabalhar. Eu quero MORRER EM AÇÃO! Suando a camisa durante um cooper em uma praia ou em um parque, e não em frente a um guarda-roupa cheio de roupas novas e engomadas. Eu quero cair duro já quase sem voz à frente de uma sala de aula lotada de Seres Humanos, e não sozinho olhando para a piscina olímpica-particular-de-marmóre-importado de uma casa na praia. Eu quero fechar os olhos em PÉ e ABRAÇADO à pessoa que eu amo, e não deitado em uma cama que não é minha, e cercado por pessoas que me respeitam. Eu quero ser desligado na frente do meu computador, conectado ao mundo, escrevendo o meu melhor capítulo, e não vivendo a história dos outros.
Mostre-me alguém que quer se aposentar, e eu lhe mostro alguém que não ama de verdade a vida que leva. A pergunta aqui não é o que você vai fazer depois que se aposentar, a pergunta aqui é o que você vai fazer para que você NUNCA se sinta aposentado.
Infelizmente, eu conheço muitos aposentados… eles têm vinte e poucos anos de idade, trinta e poucos anos de idade, quarenta e poucos anos de idade…
MORRER EM AÇÃO! DE PÉ e ABRAÇADO! Nada menos que isso interessa.

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