Carreiras | Empregos

por Luiz Scistowski*

A atualidade talvez esteja sendo marcada por uma série de transformações paradigmáticas de ordem bem mais significativa que as vividas em nosso passado histórico. Para nós, trabalhadores, isto representa a necessidade de uma reeducação profissional.
O mercado de trabalho nunca foi muito constante. Pelo contrário… a única coisa que podemos considerar como constante em relação a ele é o fato de estar sempre em processo de transformação.
Porém, isso se intensificou ainda mais por estarmos atravessando um período de significativas alterações sócio-econômicas. O mercado está extremamente turbulento e inseguro. Muitos segmentos experimentam uma forte e impiedosa crise, enquanto que outros simplesmente degustam o sabor da prosperidade.
As organizações precisam acompanhar, ou melhor, se adaptar às novas tendências para manterem-se vivas e competitivas. E assim, temos as famosas fusões, as reestruturações dos sistemas produtivos e gerenciais, os novos processos de gestão, os grandes enxugamentos, etc.
Em conseqüência disso tudo, profissões e áreas de trabalho de todos os tipos vêm passando por uma profunda reformulação. Tornou-se difícil apontar para um setor que não tenha sido afetado pela revolução tecnológica. De uns tempos para cá, pudemos observar um grande número de empregos que vêm simplesmente desaparecendo devido ao surgimento de elaborados processos tecnológicos. A automação e o controle dos negócios online, por exemplo, pulverizaram muitos cargos administrativos e de mão-de-obra repetitiva como que num passe de mágica.
Em contrapartida, muitas funções que vêm sobrevivendo a estas mudanças tornaram-se mais elaboradas, demandando um outro tipo de perfil e de qualificação dos profissionais. É o caso dos montadores de veículos que precisam saber como lidar com verdadeiros robôs, ao invés deles mesmos manipularem as pesadas peças dos automóveis, como se fazia nos velhos tempos. Isso sem falar nas modernas secretárias que, hoje em dia, precisam ter conhecimentos e habilidades que eram encontradas apenas nos profissionais de alto nível executivo, em um passado não muito distante.

Na era da informação, para ter
emprego é imprescindível
ter conhecimento

Esta alteração de conteúdo do trabalho vem ocorrendo com a maior parte das profissões que, cada vez mais, estão tendo que lidar com a tecnologia como instrumento de uso diário. O próprio computador, que há poucos anos ficava trancado nos centros de processamento de dados, aos cuidados de um programador ou operador qualificado, tornou-se uma ferramenta indispensável e que pode ser encontrada sobre a mesa de uma grande parcela dos trabalhadores.
Os novos profissionais devem ter conhecimentos mais abrangentes e explorar seus cérebros de maneira intensa. Hoje, a carreira profissional depende de tomar decisões, agir como empreendedores e abandonar os hábitos automatizados. E, cada vez mais, o conhecimento aplicado ao trabalho humano torna-se uma realidade incontestável e quem não acompanhar as exigências deste novo mercado pode se considerar excluído.
A demanda deste e dos próximos anos, por um trabalhador mais preparado, não poderia ser diferente, afinal, se as tecnologias estão impregnadas nas empresas e em tudo que nos cerca, é claro que a mão-de-obra deve ser bem mais qualificada para o uso intensivo de informações de ponta.
Contudo, ao nosso redor, infelizmente, encontra-se a dura realidade. Uma enorme quantidade de profissionais já não se enquadra mais nas exigências de qualificações necessárias para se fazer parte das empresas e do mercado de trabalho desta nova era. E isso se agrava ainda mais nos países menos desenvolvidos, onde a educação e o conhecimento não são prioridades, ou não são oferecidos com a devida seriedade que se faz necessária.
Mas, afinal, como manter a empregabilidade na era da informação?
Bem, em primeiro lugar, é importante destacar que quando ocorrem alterações na relação capital-trabalho, a geração formada pelos antigos valores sociais sofre violentamente com a crise. Na era da revolução industrial, por exemplo, a fabricação mecanizada causou os mesmos sintomas e efeitos sociais que a revolução do conhecimento vem nos causando na atualidade. Durante esta marcante passagem histórica, o desemprego e o despreparo do trabalhador para integrar o mercado emergente foram também alvo de preocupações em larga escala.
Porém, se por um lado empregos de todos os tipos entram em declínio, tornam-se obsoletos e simplesmente desaparecem, por outro surgem novas e mais elaboradas vertentes de aplicação para o trabalho humano. O que é preciso fazer é educar, treinar, ou melhor, preparar os profissionais para as demandas que emergem naturalmente durante estes movimentos sociais.

As tecnologias podem até estar sumindo com
alguns tipos específicos de empregos,
porém sempre haverá aplicações para o trabalho
humano, afinal máquinas não têm e nunca
terão a capacidade de
sentir, criar, inovar e julgar

Analisando bem o atual cenário no campo do trabalho, podemos observar a emergência de uma diversidade de profissões voltadas para o conhecimento. É possível perceber o crescente número de admissões de trabalhadores ligados ao mundo das informações como os estrategistas, consultores, executivos de desenvolvimento, profissionais liberais, entre outros. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, constatou a criação de mais de 800.000 postos de trabalho no Brasil, só no período entre maio e junho de 1999. Metade destas profissões foi gerada pelo setor terciário, de serviços. Só em São Paulo, estes segmentos já são responsáveis por mais de 50% dos postos de trabalho. Pode-se dizer que os empregos estão pouco a pouco migrando das indústrias para os serviços.
Para alguns setores considerados como sendo os mais promissores, a crise é amena, ou simplesmente não existe. Entre eles estão os das telecomunicações, o do petróleo, o do entretenimento, o da informática e o da bio-economia. Muitas corporações ligadas a estes segmentos, inclusive, reclamam da carência de profissionais qualificados e criam os seus próprios centros de treinamento especializado.
A Motorola, por exemplo, investiu recentemente mais de um milhão de reais em programas de treinamento visando, com isso, desenvolver seus futuros funcionários, uma vez que o mercado não vem atendendo a sua demanda de mão-de-obra qualificada. E assim como ela, muitas outras organizações vêm se queixando quanto à falta de profissionais capacitados para preencher as vagas que vêm surgindo.
Bem, mas será, então, que devemos todos trocar de profissão?
É claro que não. O que está acontecendo, na verdade, é uma reformulação dos lugares e do conhecimento essencial para se atender às necessidades do mercado. Isto quer dizer, na prática, que ao mesmo tempo em que quase não existe mais espaço para um psicólogo especialista em recursos humanos, por exemplo, o mercado vai ter certa facilidade em absorver um outro psicólogo do trabalho, que, além desta atribuição, também tenha especialização em negócios e ainda possua um alto potencial para gerenciar informações. Com isto, este profissional sai do papel meramente burocrático de atuação e pode ser aproveitado de modo muito mais amplo, através de cargos gerencias e de análise, por exemplo. E nos casos em que os trabalhadores são substituídos pelas máquinas automatizadas, podem também ser aproveitados em outras etapas do processo produtivo, principalmente, relacionadas à prestação de serviços. Contudo, para isso, é preciso que se invista em processos de treinamento e desenvolvimento adequados.
O segredo está, basicamente, em destacar-se em suas qualificações, tornando-se assim um diferencial para o mercado. O importante é descobrir aquilo que se faz de distinto, criar um perfil de qualificações que apareça na multidão e oferecer inovação a um mercado que precisa muito de novos talentos.
Assim, o que temos que fazer, impreterivelmente, é nos requalificar diante das transformações que estão ocorrendo em nossas sociedades. Os empregos ainda existem e não estão apenas reservados aos setores emergentes da nova economia. Eles estão espalhados por toda a parte, porém se encontram em forma de cargos mais elaborados que exigem um outro tipo de perfil e de atribuições funcionais.
Vale lembrar o crescente aumento das contratações de mão-de-obra fora do padrão tradicional patrão-empregado, como por exemplo, os trabalhadores autônomos, os prestadores de serviços e as inúmeras atividades ligadas ao setor informal da economia, que vêm se transformando em fortes tendências para o futuro.
Todos estes novos profissionais são os chamados trabalhadores do novo milênio. Para eles, a crise é sinônimo de oportunidade e os novos horizontes abrem um enorme leque de opções frente a um futuro próspero e promissor.
Devemos refletir com bastante atenção sobre um importante ponto: estamos sim atravessando uma fase crítica de crise econômica e grande desemprego que vem preocupando todas as camadas da população. Porém, durante estas turbulentas passagens, se de um lado muitos não se adaptam às mudanças e encontram sérias dificuldades para sobreviver, de outro emergem as grandes fortunas. Pode-se dizer que são exatamente nesses momentos que o mundo dá a tão famosa “volta”.
Com isso, cabe a você a interpretação do nosso atual período de transformações e do que podemos esperar para 2002: você pode apenas enxergar o desemprego e a escassez ou aproveitar as inúmeras oportunidades que vêm surgindo dia após dia. Você pode assumir uma postura de vítima e colocar a culpa no mercado ou investir na única alternativa razoável para o desemprego: a requalificação. Este sim é, sem sombra de dúvida, o único caminho que pode nos levar ao tão disputado elenco que vai constituir, em um futuro breve, o time dos vitoriosos.
* Luiz Scistowski é psicólogo e autor do livro “Estratégias para manter a empregabilidade

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