Carreiras | Empregos

por Dulce Magalhães
Na IV Conferência Mundial de Sociologia, que ocorreu em 1968, em Estocolmo, na Suécia, o tema principal foi descobrir qual seria a maior revolução social do século. Em plena Guerra Fria, com comunismo, socialismo, capitalismo e outros ismos em destaque, a Conferência concluiu que a maior revolução social do Século XX foi o movimento de emancipação feminino. Isto em 1968! Por que? Temos que questionar o que mudou e o que mudará com o atual processo feminino. Isto tem a ver com a forma como a sociedade se organiza, e as megatendências para a economia começam mesmo dentro de casa.
Quando as mulheres trabalham e recebem dinheiro em troca (porque em casa elas trabalham, mas não recebem por isto), todo o sistema familiar tende a mudar. Primeiro porque há mais dinheiro para investimentos, educação, consumo, etc. Segundo porque a mulher torna-se uma consumidora por si mesma, desta forma toma decisões de consumo independente do modelo já estabelecido. Em terceiro lugar porque a organização familiar precisa mudar, com a contratação de outra pessoa para cuidar da casa e das crianças, com o surgimento de escolas especializadas em diferentes faixas etárias e assim por diante. Por fim, porque a mulher passa a viver uma situação de independência, não só financeira, mas também na tomada de decisões sobre si mesma e sua vida.
Isto é verdadeiramente uma revolução. Vivemos hoje uma sociedade muito diferente da que tínhamos há trinta anos e, provavelmente, viveremos numa sociedade radicalmente diferente nos próximos trinta anos, apenas com a saída da mulher para o mercado de trabalho. Entretanto, ainda estamos distantes de uma ótima condição de mercado para a mulher. Obviamente, há um contingente de mulheres que conduzem suas carreiras e escolhem onde e como vão trabalhar, contudo este numero não é sequer expressivo comparado às condições existentes em países como os Estados Unidos, por exemplo.
Podemos nos questionar se o Brasil é um país pobre. Se olharmos pelo ângulo dos recursos naturais, somos riquíssimos. Se formos pensar em termos de potencial, crescimento industrial, mercado, estamos de fato em desenvolvimento. Mas se pensarmos em termos de educação, saúde, enfim condição social, devemos estar entre os lanternas do mundo. Andamos meio pobres de espírito. Pensar grande não é pensar mais e sim pensar melhor, o que significa mudar nossa visão da mulher e o mercado de trabalho.
Existem crenças especialmente importantes a serem mudadas. A mulher não deve trabalhar por uma contingência passageira, e quando os bons tempos voltarem ela pode retornar para o lar doce lar. Segundo uma reportagem da Business Week publicada em 1997 sobre as tendências da economia, nos Estados Unidos as mulheres trabalham porque, como todo mundo, elas têm uma carreira e uma vida próprias. É natural o desejo de produzir algo útil e ser recompensado por isso e, assim, alcançar o tão sonhado sucesso. No Brasil, na maioria dos casos as mulheres trabalham porque precisam ajudar no orçamento doméstico. Um estudo sobre carreira mostrou que, no Brasil, mais de 85% dos homens disseram estar preocupados com suas vidas profissionais e apenas 7% das mulheres se mostraram preocupadas com isso.
Esta visão deve preocupar a sociedade como um todo. Quando pensamos em progresso profissional, produzimos mais e melhor, estudamos, crescemos, mas quando não há perspectiva futura nos limitamos a fazer o mínimo. Isto é contra qualquer conceito de progresso econômico. Vamos estar entre os primeiros quando formos uma nação de cidadãos de primeira. A mudança mais significativa é de mentalidade.
Uma norte americana de San Francisco, Diana Platt, Ph.D em linguística e educação, cuja tese de doutorado foi sobre as línguas latinas, me contou sobre como a própria linguagem pode ser discriminatória. No dicionário brasileiro Homem Público é um político e Mulher Pública é uma prostituta. A distinção de gênero para qualificar um grupo como Homens para toda a Humanidade ou filhos para definir todas as crianças, sejam meninos ou meninas, é uma forma de expressar uma mentalidade, de ignorar a presença de 50% de uma população inteira.
Na Europa e nos Estados Unidos não há piadas sobre loiras burras, mulheres motoristas, etc. Além de ser contra a lei, eles não acham graça em algo tão cruel. Nós rimos de nossas mães, parceiras, irmãs e filhas! E não é uma exclusividade do homem, a própria mulher acredita que o homem merece receber mais pelo mesmo trabalho, ou ser promovido em primeiro lugar. No mundo da competência isto não existe. Em uma importante universidade brasileira, determinado departamento possuía 14 funcionários, 2 homens e 12 mulheres. Haviam duas vagas para a gerência e sub-gerência do departamento e, numa votação do PRÓPRIO grupo, os dois homens ficaram com as vagas. Tudo bem se fossem eles os mais adequados, entretanto haviam pelo menos três mulheres mais preparadas que os dois homens.
O que estes exemplos demonstram? Inconsciência social. Nos Estados Unidos eles chegam a ser chatos com o tal do politicamente correto, mas se você é um negro, uma mulher ou faz parte de alguma minoria, certamente você iria preferir a maneira americana. Oportunidades iguais para diferentes indivíduos. Nós podemos usar e crescer com isto.
Para as nações desenvolvidas a mídia é uma forte arma de consciência social. Todos os veículos de comunicação são também veículos de educação. Alias, aí está a chave que nos possibilitará abrir nossa mente para um mundo de novas oportunidades: a educação.
O que temos a discutir hoje não é o mercado de trabalho para a mulher, mas o tipo de mulheres e homens que estamos formando. Qual será o futuro de uma nação que não pensar em termos de competência? Onde estará o Brasil daqui a dez anos se continuarmos agindo dessa forma?
A resposta está ao nosso alcance. Na forma como vamos educar nossas crianças, na forma como vamos lutar por algo melhor e não simplesmente por mais. O futuro do Brasil está sendo feito por nós, BRASILEIRAS e BRASILEIROS!

Avalie:

Comentários 0 comentário

Os comentários estão desativados.