Carreiras | Empregos

por Camila Micheletti
Arrumar um estágio na área de Recursos Humanos hoje não é nada fácil, como acontece com algumas áreas de atuação, que apresentam um campo restrito e muitos estudantes no mercado. Mas como será que era antigamente? Já existia o famoso QI – quem indica? Faculdades de renome eram um pré-requisito? Ter experiência anterior era um diferencial? Uma enquete realizada por telefone com alguns profissionais de RH respeitados na área mostrou alguns dados surpreendentes. O nome da faculdade, por exemplo, não era tão importante como é atualmente. A maioria dos profissionais estudou em faculdades pouco conhecidas e, além disso, não tinha experiência anterior. Mas, por outro lado, a prática da indicação já era corrente no meio – todos os entrevistados arrumaram pelo menos dois empregos através de conhecidos, o que demonstra a importância do networking para o seu crescimento profissional.
Segundo os profissionais ouvidos pelo Empregos.com.br, parte dessa dificuldade em arranjar um estágio é culpa da crise e da retenção de custos por parte das empresas, mas os estagiários também precisam se esforçar mais. “Pergunto para um estudante por que ele faz faculdade de Engenharia e ele responde: Ainda não sei. Quero entrar na empresa para ver o que vou fazer, em que área vou atuar. É o conhecido estagiário pipoca, que não é bem visto pelas empresas. Quero alguém que já venha com alguns objetivos definidos na carreira, que saiba o que quer”, afirma Pedro Morbach, consultor de RH há 35 anos e atual diretor da Pedro Morbach Seleção e Treinamento.
Confira a seguir um pouco das experiências e conselhos desses profissionais, todos reconhecidos no mercado como exemplos de sucesso na área… e aprenda com eles!
Priscila Mendes
“Quando decidi buscar um emprego em RH, estava no 4º ano noturno de Psicologia e não tinha experiência alguma em processos seletivos. Comecei, como todos fazem normalmente: buscando anúncios de estágios em jornais e respondendo à cartazes afixados nos murais da faculdade. Participei de muitos processos seletivos e na maioria deles, passava sempre por dinâmicas de grupo. Como sempre fui um pouco tímida, não me destacava muito nas dinâmicas e perdi muitas oportunidades. Após muitas tentativas frustradas, participei do processo seletivo de uma grande empresa do segmento de logística e como não houve dinâmica, somente entrevistas diretamente com o requisitante da vaga, fui aprovada. Estava feliz da vida. Era meu primeiro estágio em RH e eu iria atuar com recrutamento e seleção. A empresa era longe, o transporte era difícil, mas nada disso me abalava. Me esforcei e procurei demonstrar iniciativa, mas qual não foi minha surpresa quando ao final da primeira semana de estágio, minha supervisora me chamou em uma sala e me disse que seria obrigada a me dispensar, pois havia surgido uma necessidade grande de contratação de pessoal e a empresa precisaria de uma pessoa com mais experiência. O quadro da área não comportaria uma estagiária e outro profissional. Apesar de perceber claramente que ela dizia a verdade (tanto que me deu até carta de recomendação), meu mundo desabou. Toda a autoconfiança que eu havia conquistado foi dissolvida. Retomar a busca por um novo estágio foi extremamente doloroso e difícil. Foi quando, na própria faculdade, comecei a fazer meu “networking”, divulgando aos colegas que estava buscando uma vaga. E acabei tomando conhecimento de um processo seletivo na Avon Cosméticos. Conversei com algumas amigas que já trabalhavam em seleção e elas me deram algumas dicas sobre como eu deveria me portar na dinâmica e o que possivelmente seria observado. Segui as dicas e fui muito bem nos testes. A sensação de sucesso era nítida. Minha atuação havia sido totalmente diferente das de outras dinâmicas que eu havia participado anteriormente. Passei ainda por uma segunda entrevista com uma consultora interna de RH, que seria uma das minhas supervisoras e fui aprovada. A vaga era minha. A Avon foi uma experiência fantástica para mim e tenho certeza, hoje, de que ter sido dispensada após uma semana de estágio naquela primeira empresa, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para minha carreira”.
Priscila Mendes é Consultora em Gestão do Capital Humano da Deloitte Touche Tohmatsu e especialista em Entrevista do Empregos.com.br.
Margarete Naufal
“Além de não ter experiência – fator que, infelizmente ainda é pedido para muitos estagiários – não poderia trabalhar no período integral por estudar Psicologia na PUC no período diurno. Mesmo assim, no 3º ano da faculdade acabei conseguindo uma oportunidade através do Fundape, que disponibilizava estágios para órgãos públicos. Acabei indo paraa área de recrutamento da Polícia Militar, onde fiquei por alguns meses. Depois fui para um estágio no Banco Econômico, de onde saí para trabalhar no Banco Nacional. Já estava formada e lá trabalhava com Planejamento de RH. Surgiu então uma nova vaga no Banco Econômico e, como já tinha estagiado lá e conhecia a gerente, acabei sendo indicada para trabalhar como Psicóloga do Departamento de Seleção. Fazia entrevistas com os candidatos e realizava as dinâmicas de grupo, foi um período de muito aprendizado, apesar de curto. Foram apenas quatro meses, até que recebi uma outra proposta, desta vez para ir para o BCN. Fiquei lá por cinco anos e era responsável pelo recrutamento e seleção, avaliação de desempenho e treinamento dos profissionais. Surgiu então a idéia de formar uma consultoria, na época eram cinco psicólogas, hoje somos eu e a Iracema Anadrade. Nascia então a AndradeNaufal, consultoria de RH especializada na avaliação de profissionais, recrutamento e assesment para profissionais e equipes. Começamos a empresa assessorando o BCN, o que facilitou bastante por que já começamos com um cliente grande e tínhamos o know know do mercado financeiro. Com o boom da terceirização, no final dos anos 90, os serviços aumentaram muito. Hoje a consultoria tem 30 clientes, a maioria empresas de grande porte”.
Margarete Naufal é Psicóloga pela PUC/SP, com especialização em Administração de Recursos Humanos pela FGV e em Coordenação de Dinâmica da Grupo pela Sociedade Brasileira de Dinâmica de Grupo. Atua na área de Recursos Humanos há 15 anos e como executiva da Andrade Naufal desde a sua fundação, há 8 anos.
Silvana Taconelli
“Aos 17 anos já sabia que queria ser psicóloga. Decidi então arrumar um emprego na área mas, como ainda não estava na faculdade, comecei como recepcionista no Banco Auxiliar, que não existe mais. Isso foi há 23 anos, não havia qualquer estímulo à prática do estágio, era tudo bem mais difícil do que é hoje. Fiquei trabalhando lá por 8 anos e quando saí era auxiliar administrativo. Depois surgiu uma oportunidade no Grupo Pão de Açúcar, onde participei do programa de trainees, fui selecionada e fiquei por seis anos, trabalhando como assistente de RH. Minhas experiências posteriores foram todas em empresas de TI, sempre na área de RH: trabalhei na EDS, na Gates Consultoria, na MSA Info e na SondaImarés, onde estou há um ano, como gerente de RH. Acredito que a minha experiência mostra que é possível começar por outros caminhos, o estágio não é a única opção. Aconselho aos estudantes que estiverem com dificuldade de arrumar um estágio ou uma vaga de trainee, tentem arrumar um emprego em empresas ou consultorias de RH, onde eles podem começar por baixo, como recepcionista, secretária, auxiliar administrativo e, aos poucos, mostrar disponibilidade, vontade e humildade para mudar de área e galgar a posição desejada na área de Recursos Humanos”.
Silvana Taconelli é gerente de RH da SondaImarés, empresa de TI que trabalha com infra-estrutura, com destaque para a gestão de plataforma desktop e Help Desk, até outsourcing da operação de TI, serviços de treinamento, aplicações customizadas para o negócio e consultoria de sistemas de informação, além de desenvolvimento e a implementação de sistemas para gestão de governos.
Betânia Cabral de Mello
“Já atravessei muito a rua para comprar lanche para o chefe. Senti o preconceito com o estagiário na pele e hoje valorizo muito o trabalho desses jovens, que têm muito mais a oferecer para a empresa do que fazer serviços meramente operacionais e servir de secretária de luxo para seu superior. Considero o estágio a base para todo profissional, espaço propício para errar e aprender com os erros. Na Nagem o estagiário tem muitas responsabilidades, põe a mão na massa mesmo. E a partir do momento que ele percebe que a empresa reconhece e estimula seu trabalho, o estudante fica muito mais comprometido com as atividades. Aqui não pedimos experiência, queremos que ele tenha potencial para desafios, seja criativo, tenha habilidade para trabalhar com pessoas e saiba pensar de forma analítica”.
Betânia Cabral de Mello é psicóloga formada pela Universidade católica de Pernambuco, atual gerente de RH da Nagem Distribuição, distribuidora de produtos de papelaria, informática, material de escritório e suprimentos, com unidades em Fortaleza, Recife, Salvador e São Paulo.
Karina Bernacci Golluscio
“Meu primeiro emprego na área de RH foi um estágio no Hotel Hilton, em SP, fiquei lá por um ano. Comecei a procurar estágio no 4o. ano da faculdade, quando passei a estudar no período noturno. Tive muita dificuldade para conseguir meu primeiro emprego, pois já estava no fim da faculdade e não tinha experiência na área. Fui obrigada a me submeter a um valor de bolsa de estágio muito baixo, mas mesmo assim sabia que ia ser muito importante essa experiência para mim e que o dinheiro não era tão importante naquele momento. Felizmente meu pai pode dar uma força com relação às minhas despesas, aí fiquei mais tranqüila para focar na minha aprendizagem. Fazendo estágio, aprendi muita coisa sobre RH, o que até o momento eu não havia tido contato nenhum. Além disso, eu amadureci muito, aprendi a observar as diferenças entre as pessoas, aprendi a trabalhar com poucos recursos, me tornando criativa e flexível, pois nem sempre contávamos com a tecnologia e com dinheiro para contratar algum serviço necessário. Quando saí do Hilton fiz outros estágios até terminar a faculdade, em dezembro de 2001. Mesmo tendo experiência na área, venho enfrentando grandes dificuldades para me recolocar. Está sendo um recomeço para mim. Já pensei muitas vezes em desistir e mudar de área, pois as dificuldades são muito grandes. Resolvi voltar a fazer terapia e refletir sobre a minha dificuldade de recolocação, não acho que vale a pena desistir sem ao menos entender o que está acontecendo, pois todas as situações são momentos de aprendizagem. Para quem está começando ou recomeçando, assim como eu, sugiro que não desista sem ao menos refletir sobre suas dificuldades para, num futuro próximo, poder utilizar essas informações como colaboração em novas experiências”.
Karina Bernacci Golluscio é psicóloga.

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