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Thiago Foresti – Empregos.com.br
 
Hoje foi um dia difícil no trabalho, daqueles que nenhum profissional gostaria de ter. Confesso que fazia tempo que vinha adiando e protelando esse dia. Afinal, qual gestor gosta de demitir um colaborador? Ainda mais se esse colaborador for seu colega e amigo há mais de cinco anos?
Heitor e eu começamos na empresa juntos no departamento comercial em 2007. Era uma época boa, de ótimos negócios e grandes carteiras de clientes. Mas as coisas mudaram desde a crise econômica. E se aqui no Brasil o problema veio em forma de “marolinha”, não se pode dizer o mesmo das multinacionais, principalmente uma multinacional italiana.
O primeiro a cair foi Márcio, nosso gerente comercial. Os números do salário dele não estavam de acordo com o resultado que ele vinha apresentando nos primeiros meses após a crise em 2008. A ordem veio da matriz italiana, demitir Márcio e promover outro funcionário recebendo um salário menor. A escolha ficou entre mim e Heitor. O CEO da companhia acabou optando por mim, pois tinha começado a fazer um curso de italiano há alguns anos.
Nos meses após minha contratação consegui aumentar um pouco as vendas do nosso produto, mas não foi suficiente para salvar a empresa da crise. Nesse meio tempo outra ordem veio da Itália. Nosso departamento seria um dos que sofreriam uma dramática redução de custos. Entre as orientações estava a ordem de demitir Heitor.
Não é fácil meus amigos. Demitir um amigo é uma das coisas mais difíceis de fazer. Primeiro que você não pode simplesmente contar de imediato, é preciso preparar o terreno. E nesse meio tempo você convive com a pessoa, fala no telefone, almoça junto, visita a família, sai para jogar bola nas quartas-feiras. Tudo isso com aquela péssima notícia entalada na garganta.
Passei algumas semanas pensando em como daria a notícia para Heitor. Escolher bem as palavras é essencial. Acho que acertei na hora de preparar o terreno. Ao longo das semanas fui informando como a situação estava difícil, como as relações entre filial e matriz estavam tensas. Não podia dizer diretamente que o empregodo meu amigo estava em risco, mas dei todos os indicativos para evitar uma grande surpresa.
Hoje o momento do anúncio foi de tensão. Chamei Heitor na minha sala e dei a péssima notícia. A princípio sua reação foi de raiva e desacordo. Procurei manter empatia com os sentimentos do meu amigo. Uma decisão como essa é difícil, pois pode prejudicar e manchar uma amizade. Felizmente não foi o que aconteceu. Procurei dar a notícia no fim do dia, assim pudemos sair juntos e parar num restaurante próximo do trabalho. Lá tomamos alguns drinks e relembramos fatos e histórias do passado.
Tenho certeza que meu amigo ficará bem. Ele é um ótimo profissional. O mundo empresarial é cheio dessas difíceis decisões. A sabedoria consiste em compreender que o tempo dedicado ao trabalho nunca é perdido.

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