Carreiras | Empregos

A prática exagerada de atividades físicas pode causar dependência. Entre os cientistas, aumentam as suspeitas de que os atletas mais fiéis, os chamados “ratos de academia”, agem de maneira compulsiva, assim como os dependentes de jogos de azar, de álcool e de outras drogas. As pesquisas em torno desse assunto estão se intensificando em várias partes do mundo. Uma delas foi feita em São Paulo por especialistas do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Os pesquisadores selecionaram um grupo de 60 voluntários, que foram submetidos a vários tipos de exames, destinados sobretudo a verificar a ação da endorfina em seus organismos. Eles acreditam que essa substância química, produzida naturalmente pelo corpo, pode conter a resposta para suas dúvidas. A endorfina atua no cérebro, facilitando a comunicação entre as células nervosas. Quando o corpo é submetido a situações de esforço, ou de estresse, a produção dessa substância aumenta rapidamente. Ela ajuda a atenuar os impactos desse esforço.
A maioria das pessoas que se dedica a atividades físicas já pode sentir os efeitos da endorfina. O mais conhecido é a sensação de bem-estar, plenitude, que se experimenta após os exercícios. Outro efeito, menos notado, é o anestesiamento da musculatura durante o período de atividade. Quando uma pessoa diz que nem sentiu a dor de uma pancada na perna, num jogo de futebol, certamente estava
sob efeito da endorfina.
“Ela é a morfina produzida pelo próprio organismo e atua numa área do sistema nervoso conhecida como via mesolímbica, ou via do prazer, diminuindo as sensações de dor e aumentando as de prazer”, explica a professora Maria Lúcia Formigoni, coordenadora da pesquisa da Unifesp.
Abstinência
Outros estudos já demonstraram a associação entre exercícios e o aumento da endorfina. O que o pessoal da Unifesp deseja saber agora é como essa substância funciona ao ser liberada em doses constantes. Suspeita-se que o mecanismo
seja idêntico ao de outras drogas: o organismo torna-se mais tolerante e,
depois, dependente.
Pode-se compreender melhor observando o processo do alcoolismo. Um dependente começa ingerindo pequenas doses de álcool. Com o tempo, o organismo torna-se tolerante à substância e passa a exigir uma dosagem maior para produzir os mesmos efeitos de euforia e prazer. Mais tarde, a pessoa acostuma-se a essas sensações e, quando não as obtém, sente desconforto, ansiedade, mal-estar. É a chamada síndrome de abstinência, que leva a pessoa de volta à droga, fechando-se assim o ciclo da dependência.
A professora Maria Lúcia acredita que as pessoas que praticam exercícios incessantemente passam pelo mesmo ciclo: sentem-se muito satisfeitas com os efeitos da endorfina, aumentam gradativamente a dosagem e, com o tempo, não conseguem ficar sem ela. Para evitar crises de abstinência, precisam ir à academia todos os dias. Sob esse ponto de vista, seriam dependentes.
A maior parte do trabalho que está sendo desenvolvido na Unifesp será executado pelo professor de educação física Daniel Alves Rosa, que prepara uma tese de mestrado sobre o assunto. Ele irá dividir os voluntários em três grupos: um de sedentários, outro de praticantes moderados de exercícios e um de exagerados – que não passam um dia sem exercitar-se. Eles serão observados em diferentes situações, com medições dos níveis de neurotransmissores jogados em sua corrente sanguínea. Se for comprovada a hipótese de dependência, o universo de pessoas pesquisadas será ampliado

Avalie:

Comentários 0 comentário

Os comentários estão desativados.