Carreiras | Empregos

por Camila Micheletti
Esta foi uma das muitas perguntas respondidas pelo consultor Julio Lobos em seu último livro, Amélia, Adeus, recém-lançado pelo Instituto da Qualidade.
Julio afirma que a executiva brasileira é uma mulher de muita garra, que luta pelo desenvolvimento e reconhecimento profissional, mas também tem muitos interesses vitais, como família e lazer.
O livro baseou-se em uma extensa pesquisa, realizada em setembro e outubro de 2002, com 550 mulheres executivas de grandes empresas brasileiras. A obra mostra, com muita sensibilidade e sem cair no lugar-comum, como o dito “sexo frágil” faz para conciliar profissão e família e como lida com o sucesso, o poder e a ética nos negócios. O estudo revela também, entre vários pontos, que o preconceito ainda existe, apesar de ser mais velado e ter diminuído muito nos últimos tempos.
De acordo com o autor, o objetivo do livro é retratar o perfil da mulher brasileira que ocupa cargos de liderança nas organizações, segundo ele “uma seleta comunidade de mulheres”. O livro não traz apenas dados demográficos, mas também reflexões e análises sobre o papel da mulher executiva na sociedade e como ela está inserida no contexto empresarial de hoje.
Jovem, rica e estudada
A pesquisa revelou alguns dados interessantes: 66,2% das mulheres trabalham em empresas que estão entre as maiores do seu ramo de negócios; a maioria delas – 49,6% – atua no setor de serviços e 51% são oriundas da classe média, enquanto que 31% vêm da classe média alta, dado que mostra que mesmo as mulheres mais ricas – que teoricamente não precisariam trabalhar – também buscam ter uma carreira. A pesquisa apontou também que a média de idade entre as executivas pesquisadas gira em torno dos 38 anos e todas têm título universitário – sendo que a grande maioria optou pelas Ciências Humanas (Psicologia e Comunicação Social) ou Gestão de Empresas (Administração e Marketing).
Apesar de dedicar mais horas ao trabalho – mais de 50% das entrevistadas afirmaram ficar mais de 45 horas por semana no escritório – a grande satisfação das suas vidas continua sendo a família. Entretanto, quando questionadas para qual dos dois campos vitais as profissionais estariam dirigindo a maior parte da sua energia, a inversão é completa: 8 em cada 10 privilegiam a vida profissional, em detrimento da relação familiar. Como explica Julio em sua obra, “a nossa protagonista mora com parceiro e filhos e, embora se importe com a família, dedica mais energia à carreira. Uma carreira que, no entanto, nem sempre vê desembocando no cargo do CEO da empresa em que atua”.
O poder, para a mulher, parece estar mais ligado à sedução ou influência de pessoas. “Ela também sente-se poderosa no relacionamento interpessoal, quando consegue colocar os homens na mesma altura profissional que ela. Mas definitivamente gastar recursos e assumir riscos não são atividades que interessam às mulheres, pelo menos não à maioria delas”, coloca Julio Lobos.
Preconceito existe sim, apesar de velado
Sobre o crescente avanço das mulheres no mercado de trabalho, Julio ressalta que é importante ter cautela com certas pesquisas, amplamente divulgadas pela mídia e que nem sempre são fidedignas. “Há uma grande diferença entre o que a imprensa veicula e a realidade enfrentada pela executiva brasileira. O que vemos são alguns destaques individuais, mas ainda é utópico dizer que elas já estão em pé de igualdade com os seus colegas homens”, analisa.
Segundo ele, as pesquisas divulgadas por consultorias muitas vezes não mostram a verdade porque partem das respostas de pesquisas enviadas aos usuários cadastrados no mailing – que é bem diferente de obter uma amostra estatiscamente representativa.
Julio explica que “os salários ainda são 15 a 30% menores, a maior parte dos cargos é de staff – fora da linha de comando e os setores econômicos que contratam mais mulheres são os não-produtivos, como o de serviços”. Além disso, o autor argumenta que, partindo do pressuposto que as mulheres freqüentam faculdades de administração há pelo menos 30 anos, era de se esperar que houvesse pelo menos três gerações de executivas no topo das organizações. Mas não é o que acontece: segundo a pesquisa de Julio, dos 1.500 profissionais – homens e mulheres – que comandam as 500 maiores empresas da Fortune, apenas 60 são mulheres.
Ou seja, o preconceito existe sim, apesar de ter dimunído consideravelmente nos últimos anos. O que mudou também, segundo Julio, é que o preconceito deixou de ser explícito – ninguém aguenta mais ouvir aquela história de que lugar de mulher é na cozinha – para se tornar mais elegante. “Virou um preconceito mais velado, mais escondido, o que também faz com que ele seja mais difícil de ser identificado. Não é tão escrachado como o de antigamente, mas ainda existe sim”, indica Julio.
Como seria possível, então, mudar este cenário? Julio acredita que a mulher poderia reverter o quadro se resolvesse se unir às outras mulheres, para lutar por objetivos comuns, como a igualdade de salários, horários flexíveis, direitos iguais para grávidas e assim por diante. “Ainda não se sabe porquê – talvez por que elas não querem ou por não manifestarem esse desejo – mas as executivas ainda não se uniram para lutar por seus direitos. Porque não há na história uma minoria que atue de forma individualizada e consiga atingir seus objetivos”, conclui ele.
Então, mulher? O que está esperando? Não estamos falando de ir para a praça pública queimar sutiãs, mas sim de lutar civilizadamente por tudo que nos faz parte… e assim ajudar a construir um mundo mais justo para esta geração e as que vierem a seguir!

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