por Camila Micheletti
Amor e trabalho – essas duas palavras são tão próximas como pipoca e guaraná e queijo e goiabada. Você duvida? Quem afirma é a dupla de escritoras Beverly Kaye e Sharon Jordan-Evans, que acaba de lançar no Brasil o livro “Eu amo meu trabalho – Como fazer isso ser verdade”, pela Editora Elsevier. Elas mostram 26 maneiras de tomar a iniciativa, a partir de uma pesquisa realizada com 15.000 pessoas, que buscou saber porque elas permaneciam no emprego atual.
As cinco principais razões apontadas foram, respectivamente:
- emoção e desafios no trabalho
- oportunidade de aprendizado e crescimento profissional
- uma equipe de pessoas formidáveis
- boa remuneração
- um excelente chefe
“Como passamos a maior parte do tempo no trabalho, é melhor amarmos o que fazemos ou nos prepararmos para uma vida bem infeliz ou, no mínimo, enfadonha. O amor ao trabalho ajuda-nos a ter mais energia, criatividade e comprometimento. Ficamos ansiosos por encontrar nossos colegas e desfrutar do ambiente saudável e da sabedoria do chefe, em suma, gostamos do pacote todo. Não ficamos negociando cinco minutinhos a mais de sono com o relógio pela manhã, pois sentimos que produzimos algo importante, com o qual estamos altamente comprometidos”, garantem as autoras em um dos trechos do livro.
Para Roberto Coda, professor da FEA/USP e consultor de empresas na área de motivação e salários, a satisfação no trabalho é um estado de prazer emocional que ocorre devido a duas variáveis:
- valores e interesses que são da sua própria personalidade e refletem a sua vocação, o que você gosta de fazer e a avaliação que você faz da própria natureza do cargo;
- benefícios tangíveis que a empresa oferece e fazem você trabalhar melhor, como um bom salário, qualidade da chefia, equipamentos e infra-estrutura adequada;
O professor explica que, para ter satisfação, o funcionário também precisa entender quais os resultados da sua tarefa para a empresa. “É muito fácil dar meta e objetivos quase inatingíveis, mas ninguém se lembra de dar o feedback, etapa muito importante para o colaborador sentir-se reconhecido, valorizado e, portanto, satisfeito”.
Mas será possível deixar felizes todos os funcionários? A psicóloga, consultora e palestrante Edina de Paula Bom Sucesso acha que isso é praticamente impossível. “Empresas sempre encontrarão dificuldades para motivar todos os empregados. Cada ser humano tem sua escala de valores, suas expectativas, seus sonhos e necessidades diferentes. Além disso, a natureza humana é marcada pela insatisfação e esta mobiliza posturas e estimula a ação e a transformação. Pode-se ampliar os níveis de satisfação, mas eliminar a insatisfação por completo não parece uma medida possível”.
O que fazer então? Como assumir a responsabilidade por sua realização profissional mesmo quando as coisas não vão bem e encontrar a tão sonhada felicidade no trabalho? Beverly Kaye e Sharon Jordan-Evans avisam que isto depende única e exclusivamente de você: basta um pouco de dedicação e esforço da sua parte.
Mesmo que você esteja insatisfeito com seu trabalho atual, não se afobe em pedir as contas e ir em busca de outro emprego. “Você pode encontrar o que procura bem aí onde está. Talvez só falte pensar de maneira mais clara sobre o que está faltando em sua vida profissional. Olhe para dentro antes de cair fora. Seja mestre na arte e na ciência de pedir o que se deseja”, alertam as autoras do livro.
Antes de fazer qualquer reivindicação no trabalho, é fundamental saber exatamente o que você deseja. Esta resposta pode ser obtida se você parar por alguns minutos e pensar nas seguintes questões:
- Se ganhasse na loteria e pedisse demissão, do que mais sentiria falta?
- Qual seria a mudança em meu cargo capaz de fazer com que eu permanecesse neste emprego por um bom tempo?
- Se tivesse uma varinha de condão e apenas um desejo, o que mudaria em meu departamento ou na equipe?
Sabendo o que precisa ser melhorado ou mudado, você deve avaliar para quem – seu chefe, o departamento de RH, o diretor – , quando – marcar um almoço ou uma reunião – e como você fará sua reivindicação – ir direto ao assunto, iniciar o papo com banalidades, etc.
A terceira e última etapa do processo está relacionada aos obstáculos que podem surgir. Beverly Kaye e Sharon Jordan-Evans dizem que, “antes de abordar quem quer que seja com um pedido (que pode ser um aumento, uma mudança de área ou mesmo alguns dias de férias), pare e identifique o que essa pessoa ganhará em troca. Pergunte a si mesmo: ‘O que fulano ganhará se disser sim?’ ‘Estou pedindo algo fácil ou complicado?’ A descoberta do que pode oferecer em troca do seu pedido aumenta, substancialmente, a chance de ouvir um sim”.
O que o faz vibrar?
Você pode ter algumas atividades que considera prazerosas no seu trabalho, e outras nem tanto. Mas há pessoas que consideram todo o seu trabalho uma atividade chata e enfadonha. No livro “Eu amo meu trabalho” há uma lista que mostra o que faz seus olhos brilharem e como achar um meio de aplicar essa energia no seu trabalho atual. Confira:
Se o que aumenta o seu entusiasmo for: | Encontre: |
Independência | Projetos/tarefas que você possa gerenciar sem muita supervisão |
Feedback | Colegas, clientes internos ou um chefe dispostos a oferecer uma opinião objetiva sobre algo específico |
Desafio | Uma oportunidade de fazer algo que exija muito de você (por ex, falar com os diretores, comandar uma força-tarefa, fazer um trabalho para uma nova área). |
Contato com os clientes | Meios de funcionar como o elo entre os clientes internos e externos. Você pode, por exemplo, levá-los para almoçar, resolver problemas em conjunto ou participar de conferências junto aos grupos. |
Trabalho em equipe | Um grupo que esteja trabalhando na solução de um problema ou, então, forme sua própria equipe. Vale também montar um time de vôlei ou se candidatar como técnico da turma do futebol. |
Aprendizado | Alguém que o ensine algo novo. As alternativas incluem fazer um curso dentro ou fora do local de trabalho, naegar pela Internet, ir a feiras e congressos, viajar e ler um livro. |
Variedade | Um modo de variar sua programação, o local ou as tarefas do trabalho diário. Comece mudando o caminho pelo qual você vai para o escritório e converse com colegas diferentes. |
Liderança | Alguém que precisa e queira um mentor ou um coach. Considere as oportunidades dentro e fora do trabalho. |
Tomada de decisões | Um modo de obter informações sobre os processo de trabalho antes das resoluções finais. Ofereça sua contribuição como voluntário em um conselho de processos decisórios ou junte-se a uma organização sem fins lucrativos (ONGs ou associações de bairro). |
Encontrar tarefas dentro do emprego atual que sejam fonte de prazer e satisfação pode ser uma saída para aqueles que não estão satisfeitos e motivados. Mas Roberto Coda, da FEA/USP, alerta que dependendo da empresa e do ramo de atividade, a margem de manobra é muito pequena. “Quando o conteúdo do cargo em si é chato e não tem nada a ver com as suas aspirações profissionais, fica difícil pensar em felicidade e satisfação no trabalho”.
O secretário do Trabalho do Município de São Paulo, Márcio Pochmann, afirma que esta dura realidade é muito comum, principalmente para pessoas de baixa renda, que não têm escolaridade e acabam trabalhando em atividades-meio, como limpeza e serviços gerais, que não são reconhecidas e valorizadas. “Para muitos trabalhadores, o trabalho é apenas o meio que lhes permite ter renda e garantir o salário mensal. Eles não fazem o que gostam no trabalho mas também não estão muito preocupados em mudar essa situação, já que o que eles querem é estabilidade e o salário ao final de cada mês”.
“Não convém ficar infeliz no trabalho, queixar, reclamar e fazer nada com relação a si mesmo”, adverte Edina Bom Sucesso. Ela argumenta que o emprego ideal não aparece no dia seguinte, mas pode-se abrir espaços e consolidar competências que abram portas para novas possibilidades e oportunidades. Segundo ela, as perguntas pertinentes nestes casos são:
- Se não gosto do que faço, do que realmente gosto?
- Qual é a distância entre o ponto no qual me encontro e as exigências da função ou profissão que desejo para o meu futuro?
- Qual caminho devo seguir para chegar lá?
- Quais as novas competências que preciso desenvolver?
Sair da empresa deve ser encarada como a última opção. Caso você opte por ela, “veja antes se o gramado do vizinho é realmente mais verde. É muito comum migrarmos para o gramado do concorrente e, ao chegarmos lá, descobrirmos que não passa de relva artificial. O novo local de trabalho pode ter os mesmos problemas, as frustrações e decepções do emprego atual – ou piores ainda. Verifique isso antes de pedir demissão” – concluem as autoras do livro.
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