Carreiras | Empregos

O documento é incisivo. Mas, segundo Margarida Barreto, amplamente desrespeitado. Não é o que pensa Luiz Frederico Hoppe, presidente da Sociedade Paulista de Medicina do Trabalho. “Em todas as áreas existem bons e maus profissionais. Considero correta a obrigação legal das empresas de contratar o médico do trabalho, o que não exclui uma eventual atuação complementar de profissionais do Estado.”
Mesmo admitindo que algumas das incumbências desses profissionais, como a vistoria do local de trabalho, podem não estar sendo cumpridas com rigor, Hoppe não aceita que se desqualifique a carreira com generalizações. “Se não fosse a luta dos médicos e engenheiros de segurança do trabalho nas empresas, a situação de saúde dos operários seria muito pior.”
Ironicamente, o sindicato dos químicos de São Paulo desfez este ano sua equipe multidisciplinar de saúde, integrada por médicos e engenheiros. Parte da receita da entidade virou pó com a redução de 120 mil para 65 mil no número de trabalhadores da base sindical. “Numa conjuntura de aperto, como a atual, a questão da saúde acaba ficando em segundo plano nas prioridades do movimento”, desculpa-se Oswaldo Bezerra, diretor de saúde do sindicato.
Moderna autônoma – Para sorte do trabalhador, em muitos casos a reestruturação produtiva tem sido acompanhada de soluções de organização do trabalho mais humanizadoras, que amenizam ou eliminam situações deflagadoras de estresse. Um bom exemplo são os grupos de trabalho semi-autônomos, implantados em 1995, na Mercedes Benz de São Bernardo, no ABC paulista. Os grupos viraram realidade após discussões que duraram dois anos, envolvendo os próprios metalúrgicos da montadora.
Segundo Nilson Tadashi Oda, engenheiro de produção da subseção do Dieese no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a maior autonomia no trabalho permite aos operários definir como vão produzir a partir das metas acertadas com a empresa. “Isso possibilita uma quebra da monotonia no esquema tradicional de produção, pois dentro do grupo os operários podem se revezar na realização de tarefas, determinar o ritmo de trabalho adequado ao potencial de cada um e se requalificar para novas funções”, explica.
O exemplo positivo da Mercedes funciona para mostrar que a reestruturação de conceitos e tecnologias de produção pode transformar uma fábrica de produtos em uma fábrica de estressados. Isso acontece se a mudança não for acompanhada pela remoção de elementos tradicionais do sistema de trabalho, como a monotonia e a execução de tarefas programadas exclusivamente pelo pessoal de nível gerencial. Sem abertura para “a peãozada” sugerir e até definir formas de trabalho, os fatores de estresse podem tomar conta da linha de montagem, alerta o professor e pesquisador Mário Salerno, do Grupo de Tecnologia, Trabalho e Organização (TTO) da Escola Politécnica da USP.

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