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Por Gisèle de Oliveira
Diz o ditado que “ser mãe é padecer no paraíso”. Pois bem, ela saiu do paraíso, foi para rua queimar sutiãs na luta pela igualdade, entrou no mercado de trabalho e hoje experimenta as dores e as delícias de viver inúmeros papéis em seu dia-a-dia.
Executiva, profissional liberal, jornalista, empregada doméstica. Não interessa a profissão nem o nível hierárquico, toda mãe que trabalha fora acaba carregando consigo a culpa por não se dedicar tanto ao filho quanto gostaria e a dúvida se está desempenhando bem todos os papéis que acabou assumindo. “Esse dilema, esse sofrimento são derivados da tentativa da mulher de ser perfeita. Na verdade, estamos há pouco tempo no mercado de trabalho, há 20 anos a mulher ainda estava dentro de casa. Isso tudo é muito recente e a mulher ainda está aprendendo a lidar com esses vários papéis”, diz Amalia Sina, presidente da Sina Cosméticos, mãe de um filho e de uma enteada e autora do livro Mulher e trabalho: O desafio de conciliar diferentes papéis na sociedade , entre outros.
Para Cecília Troiano, psicóloga, sócia-diretora da Troiano Consultoria de Marcas, mãe de dois filhos e autora de Vida de equilibrista: dores e delícias da mãe que trabalha , apesar de todas as conquistas, a culpa ainda persegue as mulheres. ” Nem sei se algum dia nos livraremos dela totalmente. Temos culpa porque, de alguma forma, o papel de mãe acaba tendo que ser revisto, pelo menos naquilo que tem a ver com as horas dedicadas aos filhos. E, nessa subtração das horas, vem a culpa de estarmos longe. Mas ao mesmo tempo, cada vez mais a mulher sente que está fazendo algo que tem um valor enorme, seja para ela, seja para a própria família. E isso ajuda a diminuir a cobrança e a culpa”, afirma Cecília. “Não nos livraremos dela, mas cada vez mais, inclusive com a participação maior do pai, nossa culpa vai deixando de ser um fantasma tão grande”.
A teoria dos 70%
Já que a perfeição é algo impossível de se alcançar e até mesmo entediante, a mulher precisa aceitar que não conseguirá realizar todas as suas tarefas e desempenhar todos os seus papéis da maneira que gostaria. Isso não significa abrir mão da qualidade de tudo o que ela faz, mas é importante reconhecer e aceitar que não há como se dedicar 100% a tudo. Reconhecendo tal impossibilidade, Amalia criou a teoria dos 70%. “Já que eu não posso ser 100% em tudo, vou ser uma mãe 70%, uma mulher 70%, uma escritora 70%, uma corredora 70%. Então, faço o meu melhor dentro desses 70%. Se eu puder somar todos esses papéis, mesmo não sendo 100% em nenhum deles, eu sou quase imbatível”, conta Amalia. “A teoria dos 70% mostra que eu não sou perfeita, mas aceito meus defeitos e tento trabalhá-los da melhor forma. Ao aceitar os meus defeitos, acabo aceitando os dos outros também e isso facilita o convívio com as pessoas, seja em casa, no trabalho…”, explica a executiva.
Assumir a imperfeição talvez seja a saída para que as mães, e as mulheres em geral, tenham menos culpa e não se cobrem tanto. O importante é reservar um momento para cada papel, sem pensar em compensação, pois ela também acaba sendo uma ilusão. “Há coisas que você deixou de fazer e não voltam atrás, momentos que perdeu e não poderão ser revividos. Não tem como compensar isso, no entanto, tem que lembrar de reservar tempo para esses momentos”, destaca Amalia. “Percebo que muita gente tenta compensar dando coisas e não sei se isso é o mais indicado”, acrescenta.
Cecília também não acredita na lei da compensação. “Talvez não precisemos compensar. Afinal, não estamos fazendo nada de errado! Mas, ao mesmo tempo, a regra que procuro seguir é estar inteira nas atividades em que estou naquele momento. Se estou com meus filhos, devo estar inteira com eles. Desligar o celular, não ficar baixando e-mails nem batendo papo com uma amiga. É dedicar-se 100% àquilo, naquele momento. Mesmo que seja para estar só um pouquinho com o filho naquele momento, estejamos inteiras. Isso eu acredito que faz muita diferença”, defende a psicóloga.
Por um mercado de trabalho mais materno
Embora já existam empresas que se preocupam e oferecem programas diferenciados para suas funcionárias que são mães, muitas delas ainda pecam nesse sentido. “Quando falamos de nível gerencial, realmente as empresas apresentam uma certa complacência, mas em nível operacional, chão de fábrica, lá no fundo ainda existe preconceito, pois entende-se que a maternidade irá fazer com que a funcionária se ausente por causa do filho. Ainda existe o fantasma da demissão após a licença maternidade”, alerta Amalia.
Os homens já estão no mercado de trabalho há muito mais tempo que as mulheres, natural, então, que as regras tenham sido criadas por eles e para eles. Com isso, o público feminino teve de se adaptar às regras deles, o que, na maioria das vezes, não atendeu às necessidades delas, provocando a masculinização da mulher para conseguir demarcar seu espaço.
No entanto, são as características da mulher que a diferenciam do homem e é justamente esse diferencial que a torna uma melhor profissional. A maternidade surge nesse contexto como uma potencializadora de tais predicados. Há estudos, inclusive, que falam como as mulheres tornam-se melhores profissionais após a maternidade. Por isso, ela não deve nunca deixar sua feminilidade de lado, incluindo aí a opção de se tornar mãe. Levar tais características para o mercado de trabalho pode ser a chave do sucesso para as mulheres, mas essa é outra barreira a ser ultrapassada.

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