Carreiras | Empregos

por Marcelão POP*
Eu fico abismado com a alienação que toma conta do “mundo da carreira profissional”. As pessoas se deixam seduzir, sem fazer nenhuma reflexão, pelos encantos dos “gurus motivacionais” e pelos livros de “autor-ajuda”. (“autor-ajuda” mesmo. Ajuda muito mais quem escreve do que quem lê).
Basta aparecer alguém vendendo os “112 Princípios Mágicos da Felicidade”, ou o “Manual do Sucesso em 10 Segundos”, que todo mundo corre para comprar. Ou então, montar uma “palestra-show”. Essa é batata: é só ficar que nem um boneco de posto, balançando os braços e com aquela cara risonha, pular, colocar uma música agitada, e chamar de “Motivação”. As pessoas dizem “Ohhh!” e acham o “máximo”. Adoram porque é divertido.
Isso pode dar em coisas como a eleição do Enéas, em São Paulo. Ele foi o deputado mais votado da história, com 1,5 milhão de votos. E muita gente votou nele porque achou “engraçado”. (E gente com anel de “Doutor” fez isso. Não foi pobre coitado não.). Achou graça naquele rosto bizarro – careca, barba enorme e óculos gigantescos – no jeito de falar dele, riu com o bordão “Meu nome é Enéas, 5656” (número dele na eleição). Aí, votou no sujeito porque ele é uma “figuraça”. Hahaha, muito engraçado!!! Não se deram conta que o Enéas tem idéias autoritárias. Que ele defende um regime bem próximo de uma ditadura. (É muito engraçado brincar com o voto, não é?).
E o que isso tem a ver com “guru motivacional”? Tudo. As pessoas agem da mesma forma no mundo corporativo. O que vale é o “show”, e não as idéias. Só porque é “oba-oba”, esquecem de analisar o conteúdo.
Não conseguem perceber que ninguém dá motivação para ninguém. Motivação é o que faz cada um agir. De novo: cada um. É totalmente individual. O que um livro ou uma palestra faz, no máximo, é estimular. E não se trata de uma discussão de significado das palavras. É uma questão de ética. Ao se dizer “motivacional”, está se vendendo “gato por lebre”. Ou “terreno em Júpiter”. Quer dizer: é algo que não se pode entregar.
Para mim, essa “indústria da motivação” cresce porque falta senso crítico aos profissionais. Muita gente não se preocupa em questionar os modismos, em perguntar se aquilo faz ou não faz sentido. Ou ainda, quem tem um “pé atrás” em relação ao que dizem os “gurus”, fica com medo de admitir, com receio de ser considerado “fora de moda” ou “chato”. Resumindo: preguiça de pensar.
Eu não curto muito esse tipo de expressão, mas eu acho que ela é necessária agora: nós vivemos uma “crise do pensamento”. Todo mundo quer a coisa pronta, fácil. Os livros de “autor-ajuda” se aproveitam desse aspecto. Eles ficam pregando “Faça isso, que você vai conseguir aquilo”. É muito bom de ouvir. Mas é uma tremenda ilusão. Basta só pensar um pouco, que a gente descobre que o agradável de ouvir, muitas vezes, não passa de fantasia.
Trocando em miúdos: falta uma postura mais filosófica. Quando eu falo de Filosofia, eu não falo necessariamente dos Filósofos formados nas Faculdades. Essa “postura filosófica”, no mundo da carreira profissional, significa ser crítico diante das “fórmulas mágicas da felicidade”, questionar o sentido das “Receitas do Sucesso Imediato”.
A gente ainda é muito voltado para a teologia. Quer dizer: ficamos procurando dogmas, “verdades absolutas” escritas em “livros sagrados”. É por isso que os “gurus motivacionais” se comportam como “salvadores”. Eles têm as palavras “libertadoras”. Eles dizem o que é certo e o que é errado para você ter sucesso profissional.
Para pensar: até quando a gente vai ser “cordeirinho”?

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