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por Camila Micheletti
Quando se fala de uma empresa como a Siemens, os números são sempre grandes, quase estratosféricos. Empresa de origem alemã, posiciona-se hoje num patamar invejável no mercado eletroeletrônico brasileiro, nas seis áreas onde atua: telecomunicações, indústria, energia, transporte, medicina e iluminação. Possui mais de 426.000 colaboradores pelo mundo e está presente em mais de 190 países. A unidade brasileira tem atualmente cerca de 7.230 funcionários, número que deve crescer em 2005, época prevista para o lançamento da nova fábrica de Manaus. Com 150 anos de existência, a Siemens teve um faturamento de R$ 4.656 milhões em 2003.
A tecnologia móvel é mais forte aposta da empresa e a Siemens Mobile, divisão de celulares e telefones sem fio, vai investir 40 milhões de dólares na nova fábrica de Manaus. Eles querem triplicar a capacidade local de produção. A construção deve ficar pronta em dezembro, entrando em operação no primeiro trimestre de 2005. Serão criados 150 empregos diretos e outros 1000 indiretos. Na nova fábrica serão produzidos celulares GSM, telefones com e sem fio e módulos de rádio GSM. A idéia é intensificar a exportação de aparelhos, não só para a América Latina mas também para outras regiões do mundo.
Parte deste sucesso deve-se à dedicação e talento de seu time, que tem no item comprometimento seu ponto mais forte. Para se ter uma idéia, todos os executivos pertencentes à diretoria atual começaram como estagiários e possuem pelo menos 15 anos de empresa.
Um ótimo exemplo é Emilio Creto, novo diretor de Recursos Humanos para o Mercosul. Natural de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, Creto iniciou suas atividades na Siemens em maio de 1980, como estagiário. Em setembro foi admitido como Estatístico na Área de Planejamento de Pessoal. Seis anos depois assumiu a Área de Salários e Benefícios da Siemens no Brasil. Era o início de uma trajetória marcada por muito trabalho, dedicação e horas extras, sempre na área de RH. Emílio passou pelas áreas de Compensação, Administração de Pessoal, Recursos Humanos e chegou a passar dois anos na área de Telecomunicações da Siemens na Alemanha. Em 2002 assumiu a área de RH de Telecomunicações da Siemens para o Mercosul e, finalmente em 2004, o executivo assumiu a Diretoria de Recursos Humanos da Siemens Ltda, incluindo a organização regional Mercosul.
Em entrevista exclusiva ao Empregos.com.br, Emílio Creto afirmou que “a empresa precisa trabalhar com o RH e não apesar do RH. Folha de pagamento, impostos, férias… isso não é mais RH. Tem que terceirizar, seja dentro ou fora da empresa. Quando se fala em RH, o empresário deve lembrar do seu parceiro de negócios, que ajuda na tomada de decisões e traz as pessoas certas para a organização”. Confira!
Empregos.com.br: Como foi o ano de 2003 para a Siemens? E como está sendo o ano de 2004 para a empresa?
Emilio Creto: O ano de 2003 foi positivo, apesar da crise tivemos um grande crescimento na tecnologia GSM, dos telefones móveis. Nos outros segmentos as coisas não foram tão bem. O setor de energia ainda enfrenta problemas com a regulamentação das usinas hidrelétricas; além disso as quedas na construção civil também acabaram prejudicando a empresa.
Empregos.com.br: Qual é a tendência para o quadro de funcionários em 2004?
Emilio Creto: Com a nova fábrica, que será instalada em Manaus, serão criados 150 empregos, mais 1.000 empregos indiretos. Pretendemos crescer pelo menos 15% em 2004. Com a fábrica, a idéia é atrair projetos que antes eram feitos na Alemanha, não só pelo baixo custo da produção brasileira, mas também pelo nível de mão-de-obra. Só custo baixo não adianta, é preciso ter gente capacitada, e isso nós temos bastante.
Empregos.com.br: Quais produtos a Siemens do Brasil exporta e para onde?
Emilio Creto: Hoje, exportamos apenas para a América Latina os telefones convencionais com fio. Mas a intenção é começar a exportar outros aparelhos em maio deste ano, sendo que os celulares e telefones convencionais devem representar 1/3 do volume total. Assim que a nova fábrica entrar em operação, vamos exportar para outros países. A meta é vender mais de 80 milhões de dólares em serviços de desenvolvimento de software até 2008.
Empregos.com.br: Existem produtos lançados no mercado externo que ainda não chegaram ao Brasil?
Emilio Creto: O delay de produtos lançados no exterior é de seis meses. Mas nem todos os produtos que são lançados lá fora têm que ser necessariamente lançados aqui também. Em alguns casos não compensa, principalmente os aparelhos mais avançados e caros, de alta tecnologia, que são feitos para um público muito específico (mulheres da classe A e B, por exemplo) e acabam tendo pouca saída.
Empregos.com.br: As empresas de ponta desenvolvem programas para aproximar o RH do business. Na Siemens isso já é uma realidade?
Emilio Creto: Sim, com certeza. Na Siemens o departamento de RH tem a sua área corporativa, que é comum a toda a empresa, e também a área dedicada ao business, específica para cada unidade de negócio. Essa divisão permite que cada RH aja de acordo com as características da área. Isso porque é impossível fazer tudo igual, tratar a todos da mesma forma. A área de varejo, por exemplo, pede profissionais muito ágeis e que saibam trabalhar sob pressão, com competências diferentes dos profissionais do departamento financeiro ou engenharia. Temos uma média de quatro profissionais por cada unidade de negócio.
Empregos.com.br: O que a Siemens faz pela retenção de talentos? Qual é o turn-over?
Emilio Creto: A nossa política de retenção já começa na contratação. Investimos pesado no desenvolvimento dos funcionários, o que faz com que não tenhamos que nos preocupar tanto em retê-los. A remuneração é acima da média do mercado, os benefícios são muito atraentes, há os job rotations internacionais. Agora, estamos estruturando como vamos atrair novos talentos para trabalhar na nova fábrica de Manaus. O que faz um jovem profissional de TI aceitar uma oportunidade em um local tão distante como Manaus? A gente sabe que a primeira coisa é a sede pelo saber, o projeto tem que fazer os olhinhos dele brilharem, mas só a paixão também não adianta, é preciso dinheiro e outros atrativos, que ainda não estão definidos. O nosso turn-over é muito pequeno, fica abaixo de 1%.
Empregos.com.br: Em se tratando de benefícios, a Siemens é muito pioneira. A participação nos lucros foi implementada em 1858, e o fundo de pensão em 1872. Os planos de previdência privada passaram a ser concedidos em 1989. Que outros benefícios os funcionários usufruem?
Emilio Creto: Além desses que você citou, temos ainda planos de saúde e de stock options, além de bolsas de estudos para os filhos de cada funcionário, que varia de acordo com o cargo que ele ocupa na empresa e o grau de necessidade de sua família. Caso ele seja desligado da empresa por algum motivo, a Siemens garante a continuidade dos estudos de seus filhos. Há também um programa participativo chamado 3I (Ideais, Impulso e Iniciativa), que visa estimular a sugestão de idéias que possam agregar algum valor ao negócio da empresa. Se a idéia vingar, o funcionário que a sugeriu é premiado financeiramente. O cálculo é baseado em 25% do que a empresa ganhou com a implementação da sugestão. E tem ainda os job rotations internacionais, que sem dúvida são muito prestigiados.
Empregos.com.br: O job rotation é uma das coisas que o senhor quer implantar em todo o Mercosul, junto com o intercâmbio de funcionários. Como vai funcionar? Isso já está estruturado?
Emilio Creto: O projeto de fazer o job rotation também pelo Mercosul é importante porque envolve uma mudança cultural. Antes, mesmo sendo uma empresa global, o job rotation era realizado apenas na matriz da Alemanha e nos Estados Unidos. Queremos com isso intensificar a troca entre os países e fazer com que a região do Mercosul tenha uma cultura unificada. Assim trazemos novas culturas para nosso convívio, o que só enriquece ainda mais a equipe.
Empregos.com.br: Quais critérios são utilizados para definir o profissional que vai participar do job rotation?
Emilio Creto: São 3, basicamente: área profissional da pessoa; conhecimento no idioma; mobilidade e disponibilidade real em mudar de país. O tempo que o profissional está na empresa nem conta tanto assim. Normalmente o job ocorre por um período de três anos. Mais do que isso, o profissional começa a perder contato com o trabalho dele aqui no Brasil. Já aconteceu da pessoa ir para o país, acabar conhecendo alguém, casar e fixar residência lá. Mas aí, claro, ele deixa de ser um funcionário da Siemens do Brasil.
Empregos.com.br: E o Brasil também recebe profissionais de outros países?
Emilio Creto: Para receber gente de fora a empresa precisa ser centro de competência em alguma área. O Brasil é centro de competência reconhecido nas áreas de Telecom, Automação e Energia. Mais fortemente nesse último por causa das usinas hidrelétricas de Itaipu e Xingó.
Empregos.com.br: O budget de treinamento varia de acordo com o cenário macro-econômico?
Emilio Creto: Definimos o budget com um ano de antecedência. Sabemos que treinamento é algo muito importante e que deve ser feito, independente do cenário. É a mesma coisa que eu tirar a minha filha da escola quando atravesso um período de crise. Não pode, vai cortar pelo lado errado.
Empregos.com.br: Como fazer para a área de RH tornar-se realmente estratégica para a companhia?
Emilio Creto: A empresa precisa trabalhar com o RH e não apesar do RH. O setor não pode mais ser visto como um setor burocrático. As políticas devem ser flexíveis e a área, eminentemente estratégica. Folha de pagamento, impostos, férias… isso não é mais RH. Tem que terceirizar, seja dentro ou fora da empresa. Quando se fala em RH, o empresário deve lembrar do seu parceiro de negócios, que ajuda na tomada de decisões e traz as pessoas certas para a organização. E quando for tratar de custos, não deixe para o contador resolver! É o RH que deve garantir que haja a melhor refeição, mas com o melhor preço. Com os profissionais que trabalham nas unidades de negócio, é possível até saber o que a área precisa, seja de equipamentos ou pessoas, e em quanto tempo. Com este planejamento, você não precisa sair correndo atrás de um headhunter para contratar alguém.
Empregos.com.br: Qual é a sua opinião sobre a Reforma Trabalhista? Será que sai este ano?
Emilio Creto: A CLT precisa ser revista com urgência, mas eu acho que ainda não sai este ano, pelo menos esta é a opinião da maioria dos empresários e pessoas ligadas ao governo. A nossa fábrica de Manaus, que vai ser inaugurada em 2005, poderia ser algo muito mais moderno se já houvesse a flexibilização. O governo precisa entender que a idéia não é deixar de pagar ou pagar mal o trabalhador, mas sim ter uma remuneração variável. Não é questão do que se dá, mas como se dá. Nós não temos um plano de saúde: temos o melhor do mercado. Essa é a diferença.
Empregos.com.br: Vocês utilizam remuneração por competência?
Emilio Creto: Não. Menos de 1% das empresas de grande porte utilizam a remuneração por competência. Ela só é viável em empresas menores, que podem remunerar cada funcionário de forma individualizada.
Empregos.com.br: O senhor começou como estagiário na Siemens e hoje, 25 anos depois, é diretor de RH para o Mercosul. O que diria para quem está começando a carreira?
Emilio Creto: Os estudantes têm que perseguir um estágio a todo custo, esse é um período muito importante da vida profissional. Eu sei que hoje em dia é muito mais difícil conseguir um estágio do que na minha época, mas eles não podem desistir. Para se ter uma idéia, na última seleção havia 15 mil candidatos para 65 vagas. Este ano fizemos a feliz descoberta de que todos os membros da atual diretoria começaram na empresa como estagiários, o que só confirma o valor da organização para as pessoas. E certamente poucas empresas podem dizer isso.
Empregos.com.br: Que competências vocês buscam em um estagiário?
Emilio Creto: Ele tem que mostrar garra, querer de fato trabalhar na empresa. Também não pode ser individualista, deve saber dividir e compartilhar as tarefas, ser um bom colega de trabalho. É fundamental também ele estar pronto para ouvir e aprender e demonstrar iniciativa para fazer as coisas. O grande diferencial de quem faz um estágio é poder ser admitido sem ter experiência alguma na área. Pegue dois recém-formados: um que fez estágio e outro que nunca trabalhou na vida. Claro que o primeiro é privilegiado, tem mais jogo de cintura, já sabe como funciona o básico do mercado de trabalho.

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